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A Ilustração E a Articulação Tipográfica No Trabalho de Sebastião Rodrigues

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A ilustração e a articulação tipográfica no trabalho de Sebastião Rodrigues

Introdução
Com o objectivo de ilucidar aquilo que foi um dos processos de trabalho de um dos mais importantes designers gráficos da 1ª geração portuguesa, este paper pretende demonstrar o trabalho de Sebastião Rodrigues, com um ponto de vista mais atento sobre os seus recursos tipográficos e o modo como a tipografia que Sebastião Rodrigues utiliza se relaciona entre si e entre o todo que compõe cada um dos seus projectos. Será introduzido os aspectos mais marcantes do trabalho de Alvin Lustig e de Victor Palla, de modo a perceber como é que estes dois designers serviram de influência para o trabalho de Sebastião Rodrigues, utilizando comparações de trabalhos. Depois de uma melhor compreensão do trabalho de Sebastião, tentar-se-á perceber como é que a tipografia se articula no seu trabalho, através de estudos com possíveis grelhas de construção, pormenores tipográficos, a natureza da tipografia utilizada, o conceito tipográfico inerente ao trabalho, tentando perceber como é que a tipografia permite reforçar a emoção que o respectivo trabalho pretender transmitir. Com a informação tipográfica filtrada e analisada transpor-se-á essa informação, estabelecendo termos de comparação com alguns trabalhos de designers actuais, justificando por fim o porquê de Sebastião Rodrigues ser “rotulado” como um dos visionários e mais importantes designers da 1ª geração de designers portugueses.

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A ilustração e a articulação tipográfica no trabalho de Sebastião Rodrigues

Antes de partir para uma breve descrição sobre Sebastião Rodrigues, é importante que essa descrição seja acompanhada do conhecimento de dois designers que foram uma forte influência no trabalho de Sebastião. Tratar-se-á de dar a conhecer Alvin Lustig, assim como Victor Palla, para que o leitor possa identificar com maior facilidade ao longo do trabalho aquilo que foi para Sebastião uma forte influência.

O trabalho de Alvin Lustig
Nascido a 1915, Alvin Lustig, morreu prematuramente, apenas com 40 anos de idade, no entanto isso não o impediu de deixar uma enorme herança para o design gráfico a nível internacional, introduzindo princípios de modernismo nos seus projectos de design gráfico, que acabaram por influenciar vários dos seus contemporâneos. Alvin renuncia o design editorial que era feito até então, que era caracterizado por uma simples imagem que generalizasse a obra, e que tal como escreveu James Laughlin em e Book of Jackets of Alvin Lustig, “His method was to read a text and get the feel of the author’s creative drive, then to restate it in his own graphic terms” ( O seu método era ler o texto e tentar sentir aquilo que o autor sentia, do que fazer uma simples representação com a sua linguagem gráfica). O que Alvin Lustig pretendia com este tipo de abordagem era simplesmente completar uma possível sinopse que acompanhasse o livro, por exemplo no caso de, como foi enunciado anteriormente, se uma sinopse de um livro fosse associada a uma simples imagem que generalizasse a obra essa imagem seria apenas uma repetição do que já estava escrito, acabando por não tornar o livro estimulante não só visualmente, mas também quanto ao seu conteúdo. Percebe-se deste modo o que Alvin e Sebastião têm em comum, a procura do máximo de informação para fazer um bom projecto de design, em que pudessem aplicar o seu estilo sintético e capaz de ilustrar aquilo que se pretendia significar do modo mais assertivo possível. As suas séries para a New Direction que Lustig desenhou entre 1945 e 1952 demonstram o que foi enunciado anteriormente, em que o seu trabalho afasta-se cada vez mais da composição tipográfica, aproximando-se de uma linguagem mais artística fortemente influenciada pelo trabalho de artistas como Paul Klee, Joan Miró e Mark Rothko, do que qualquer outro estilo que fosse mais “mainstream” [a capa da AIGA parece uma pintura]. Isto poderia espoletar uma nova direcção no trabalho de Alvin, afastando-lhe do design e aproximando-o da pintura, no entanto este renuncia-a como sua actividade profissional, apoiando-se na pintura de outros artistas apenas para integrar o seu sentido de sensibilidade abstracta para os seus projectos de design. Nos anos 50, Lustig, emigra para Israel, não por questões religiosas, mas porque acreditava que o modo de como ele projecta e elaborava os seus trabalhos de design, poderiam ter um impacto significativo na sociedade. No entanto com a sua morte em 1955, Lustig não consegui provar a sua teoria. Ao invés disso acabou por deixar a sua herança que alia o design ao modernismo de um modo tão eficiente que este poderia ser aplicado em situações que implicasse um confronto directo e intrínseco com o público.

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O trabalho de Victor Palla
Nascido em 1922 em Lisboa, tendo falecido a 28 de Abril na mesma cidade em 2006 devido a uma pneumonia, Victor Palla foi uma das entidades artísticas do século XX que maior legado deixou no âmbito artístico nacional. Victo Palla era um artista completo formado em arquitectura na Escola Superior de Belas Artes em 1946, que “gostou de ligar todas as formas de expressão”, tendo deste modo um trabalho que abrange não só arquitectura, mas também fotografia, pintura, design gráfico e edição de livros e revistas, assim como organização de exposições. Percebe-se que Victor Palla na área do Design Gráfico era um profissional bastante atento e preocupado com a função tipográfica nos seus projectos, já que acabava por empregar muitas das vezes o conceito patente ao conteúdo da obra, através da tipografia utilizada.

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Quem foi Sebastião Rodrigues
«Era um designer de enorme qualidade em qualquer parte do mundo. Foi um autodidacta porque a formação dele não era essa. Era um homem de imensa cultura e mudou completamente o paradigma do design em Portugal. O Sebastião pertenceu à primeira geração dos designers em Portugal». Henrique Cayatte (1)

Sebastião Campos Afonso Rodrigues dos Santos nasceu em 1929, no Dafundo, em Lisboa. Em 1940 e 1941 estudou na Escola Industrial Marquês de Pombal, tendo como professores o arquitecto Frederico George e o pintor Calvet de Magalhães, pelo que o seu contacto com o mundo artístico seria desde já reforçado, em parte pelas habilitações dos seus professores, visto que Calvet de Magalhães era pintor. No entanto dificuldades económicas impedem que Sebastião termine os seus estudos, porém isso não o impediu nem o afastou do mundo que desde cedo procurou, pelo que após o abandono dos seus estudos Sebastião começou por produzir alguns trabalhos gráficos para o jornal A Voz. Em 1945 é convidado a trabalhar na Agência de Publicidade Artística em Lisboa, onde desde logo se começa a perceber no seu trabalho a influência de Victor Palla. A partir de 1948, no atelier de Manuel Rodrigues, com o qual trabalha durante 30 anos, executa vários trabalhos, passando por cartazes, folhetos, estudos de montras entre outros formatos onde pudesse aplicar o seu trabalho de artista gráfico, para o Secretariado Nacional de Informação. Sebastião Rodrigues desde cedo se interessou pelos elementos gráficos que o rodeavam, interesse esse que lhe proporcionou a ideia de ir conhecer Portugal para fazer um levantamento de elementos gráficos para este poder assim ter em seu poder uma fonte de matéria-prima que mais do que genuína, espelhava aquilo que as suas reproduções representam, um sentido de “portugalidade” apurado. Foi ao que se deveu a sua viagem de 6 meses ao Norte do País, para perceber o modo de como diferentes tipos de emoções eram representados de vila em vila. Significa isto que Sebastião sempre procurou uma justificação para o seu trabalho, veremos que qualquer trabalho de Sebastião Rodrigues tem uma razão de ser, umas vezes mais outras vezes menos óbvia, que podiam ser representadas quer pelo modo de como ele compunha o trabalho, quer por simples questões cromáticas, mas o que é facto é que independentemente do tema, por maior dúvida que pudesse reproduzir ao leitor, era claro que através da tipografia Sebastião Rodrigues reforçava da melhor maneira o tema que os demais projectos por ele efectuados pretendiam transmitir. “Era isso, era isso, Sebastião, subtil e elástico como um gato no saltar do real para o figurado, dizia ele[Alexandre O’Neil]” José Cardoso Pires (1)

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A influência de Alvin Lustig e Victor Palla no trabalho de Sebastião Rodrigues
Mais do que reconhecer a natureza icónica das ilustrações no trabalho de Sebastião Rodrigues, é importante saber com que meios é que Sebastião chegou à sua linguagem gráfica, que acaba por distinguir os seus trabalhos, tornando as suas peças trabalhos que através de diferentes conceitos se conseguem articular num todo, que acaba por interligar o seu trabalho através de uma linguagem formal bem definida. Estabelecendo comparações entre o trabalho dos três artistas gráficos, perceberemos que acabam pro produzir uma certa harmonia no seu sentido estético, partilhando elementos e modos representativos que se assemelham ao trabalho de Sebastião Rodrigues. É interessante que estando perante três linguagens diferentes, é possível observar e analisar a influência dos trabalhos à esquerda ( Alvin Lustig em 1940) e em baixo ( Victor Palla) no trabalho à direita ( Sebastião Rodrigues), em que este último vai buscar as formas geométricas ao trabalho de Alvin, e a tipografia, assim como a estrutura editorial da peça ao trabalho de Victor Palla.

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A articulação tipográfica no trabalho de Sebastião Rodrigues
Sebastião Rodrigues dominava os aspectos tipográficos no seu trabalho, daí que a tipografia acabasse por “falar” para o leitor de duas maneiras, a primeira que seria a mais óbvia, a sua leitura enquanto texto, e a segunda que diz respeito à sua linguagem formal, que pretendia transmitir a natureza do projecto. É verdade que por vezes há determinadas ilustrações que acabam por ter um cunho cultural muito forte, o que faz com que o leitor possa associar-lhe um significado demasiado específico, e são alguns destes casos que Sebastião Rodrigues consegue encontrar um equilíbrio em relação ao que ele pretende transmitir, apoiando-se na tipografia. Há casos em que é necessário que a ilustração não associe um significado demasiado preciso, em termos culturais, e é com o uso de um tipografia austera no que toca a ser associada a algo cultural que faz com que a escolha de uma tipografia grotesca encontre o equilíbrio da peça de design, transmitindo do modo mais assertivo possível aquilo que um determinado livro como o Almanaque pretende transmitir (compreende-se o auxilio da tipografia, com a função de contrariar/contrabalançar o peso da ilustração e o seu significado associado). No fundo acaba por ser a tipografia a guiar o leitor, dando a identidade necessária ao produto desenhado. Por mais que as ilustrações possam variar, e por maior ou menor seja a sua mancha no layout em análise, será sempre a tipografia a definir aquilo que um determinado produto pretenda transmitir e Sebastião Rodrigues acaba por usá-la em todos os trabalhos de um modo bastante incisivo, equilibrado dentro do total que representa a obra, sendo a tipografia a verdadeira “cara” do produto, acabando por em termos de importância, reverter a ilustração para segundo plano. Quer com isto dizer que se pode transmitir, talvez não tão plenamente, a informação necessária apenas com tipografia, o que não acontece com a ilustração, visto que esta poder-se-á tornar demasiado ambígua e subjectiva.

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A ilustração e a articulação tipográfica no trabalho de Sebastião Rodrigues

A natureza tipográfica
Grelhas de Construção Sempre que Sebastião Rodrigues tinha uma proposta de trabalho, o seu rigor e perfeccionismo levava-lhe à exaustão no que toca à exploração da forma e da sua metodologia na concepção dos seus projectos, como tal é perfeitamente possível identificar grelhas de construção no seu trabalho. Deste modo poder-se-ia, em algumas situações adequadas, prever como se desdobrava o resto da colecção regrada por uma grelha de construção ali presente. Seguir-se-á uma análise à obra Gente de Vieira de António Vitorino, editado em 1943, dado o interesse que a sua análise proporciona para entender aquilo que compunha a actividade projectual de Sebastião Rodrigues. Neste trabalho percebe-se a relação em termos de construção gráfica entre os vários elementos ilustrativos e tipográficos. Há primeira vista poder-se-á interrogar o porquê do grande espacejamento entre caracteres, ma s dep o is de estruturar a obra, o motivo pelo qual Sebastião o fez é justificado. A sigla eta e o nome Vitorino têm uma relação muito própria entre si, o que faz com que nada do que está presente neste impresso esteja feito ao acaso. No caso da ilustração verifica-se que ela não é completamente regular, embora tenha distâncias que se relacionam com a posição da tipografia, o que pode significar duas coisas: o facto de ter sido uma ilustração “feita à m ã o ”, s e m q u a l q u e r a p o i o tecnológico, o que é completamente normal, dada a altura em que a obra foi desenvolvida acabando por tornar certos pormenores mais difíceis de controlar, ou então tratam-se apenas de pequenos ajustes ópticos para a ilustração não se caracterizar por algo demasiado mecânico, mas sim mais orgânico dentro de toda a linguagem presente que acaba por se tornar um pouco sintetizada. Essa síntese está também presente de um ponto de vista cromático, já que a paleta cromática é bastante reduzida. O que se torna mais interessante neste trabalho é a modularidade que o caracteriza, tal como foi escrito anteriormente, a tipografia relaciona-se entre si e também se relaciona com a ilustração, pode-se observar isso pela dimensão de um elemento da ilustração, com a palavra Vitorino, ambos com o seu comprimento assinalado a
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verde. É de notar também que o título da obra, Gente de Vieira não está centrado no livro e isso dever-se à mais uma vez à sua relação com a ilustração. Os limites que compõem os elementos de maior importância da ilustração delimitam o comprimento do título da obra, esses elementos serão deste modo a perna da figura masculina e o limite do barco, que acabam por apresentar formas com uma determinada simetria que acabam elas por integrar a harmonia gráfica que constitui a ilustração e por conseguinte a capa da obra. Tudo isto deve-se a toda a regra, rigor e atenção que Sebastião Rodrigues sempre teve em relação ao seu trabalho.

Pormenores tipográficos
Conceito tipográfico para cada um dos trabalhos em análise “Nunca quis ser profeta na sua terra, nem - muito menos...- nas terras dos outros” Sena da Silva (1) Nas duas análises que se seguem foi feito o exercício de descobrir o conteúdo do livro através dos registos tipográficos e ilustrativos que compõem a obra. Analisar-se-ão duas obras, uma de literatura nacional e outra de literatura traduzida, onde se acaba por verificar que independentemente do tema, Sebastião consegue articular e enquadrar o tema através da tipografia e da ilustração, sem que barreiras culturais esbatam os valores presentes nas obras. 1.Roger Peyrefitte - As Embaixadas

Nesta obra de Roger Peyrefitte, procedeu-se a uma análise num primeiro momento puramente formal, tentando perceber o que é que Sebastião Rodrigues pretendeu transmitir com as suas opções ilustrativas e tipográficas. Consegue-se perceber que Sebastião fortalece a tipografia através da altura x da mesma, que faz com que a tipografia se apresente com um ar mais condensado, que aliado ao adorno que lhe é patente acaba por transmitir a importância e por ventura luxo que se pretende ilustrar. No fundo a tipografia adornada serve para mimetizar o luxo da embaixada retratada, o que faz com que o leitor encare a tipografia como um lugar representante de um país “grande” em termos económicos, descartando a possibilidade de ser uma embaixada de um país 3º mundista. O complemento chave que a ilustração nos dá é representado essencialmente pelo chapéu da figura masculina presente, já que este chapéu tem formas que podem ser atribuidas àquele que foi o famoso “chapéu de Napoleão”, que é um elemento fortemente caracterizador da França. O que se pretende transmitir com esta análise que teve como objectivo interpretar a obra sem qualquer tipo de informação quanto ao seu conteúdo demonstra a verdadeira objectividade do trabalho de Sebastião, baseado em articulações tipográficas associadas à ilustração. Tal com está escrito no livro: “As Embaixadas”, de Roger Peyrefitte, é um dos romances anceses mais famosos que se publicaram depois da última guerra. As circunstâncias muito especiais, que levaram o seu autor a
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ser afastado das funções diplomáticas que exercia, e que rodearam a publicação do livro em França, o facto de se assistir, talvez pela primeira vez, ao completo desmontar de uma máquina oficial, neste caso exactamente uma das mais fechadas e porventura aquela que pelo seu aparato exterior e pela importância das missões que lhe estão confiadas, mais impressiona o grande público e junto dele pode gozar de maior prestígio- a Diplomacia - tudo isto contribuiu decisivamente para que o lançamento de “As Embaixadas” tivesse constituído um verdadeiro acontecimento literário e editorial, e para que as tiragens do livro atingissem números impressionantes. in As Embaixadas de Roger Peyrefitte. (1) 2.António Vitorino - Gente de Vieira Neste caso o tipo de abordagem será diferente da última análise, já que durante o processo de pesquisa, através da Internet, o título da obra não aparece, aparecendo apenas alternativas em que as palavras-chave “António” e “Vitorino” têm informação, informação essa que deixaria algumas dúvidas quanto à verdadeira identidade do autor de Gente de Vieira. É comum numa pesquisa encontrarmos outro nome sonante, como foi o caso com António Vitorino D’Almeida, podendo isso atraiçoar-nos com o seu conteúdo informativo. E foi assim, neste caso particular, que o trabalho de Sebastião Rodrigues nesta obra ganhou, durante esta pesquisa, uma grande importância e veio esbater qualquer tipo de dúvidas. O título da obra, Gente de Vieira, já de si poderia esclarecer muita coisa, podendo Vieira ser identificada como nome de uma vila ou cidade, no entanto, o nome por si só, não chega. Como tal, com o apoio do trabalho de Sebastião Rodrigues podemos especificar as características de Vieira com aquilo que nos é dado. O barco estilizado, assim como o casal de pescadores é revelador de características intrínsecas ao conteúdo do livro. A tipografia, demonstra mais uma vez do que é que o livro se trata, sendo uma tipografia latina, percebe-se que o conteúdo do livro retrata algo mais cultural ou histórico, do que propriamente um determinado tipo de documentário ou relatório sobre as “pessoas de Vieira”. Não havendo a possibilidade de ler o livro, pode-se concluir, através daquilo que Sebastião Rodrigues nos oferece com a capa por ele desenhada, que o livro poderá ser algum tipo de romance, ou história um pouco mais pessoal, no sentido em que retratará as vidas de um determinado grupo de pessoas, partilhando consigo os seus problemas de um modo muito próximo (imagem 1 com a tipografia original) , em vez de ser uma simples análise na terceira pessoa sobre um determinado grupo de pessoas de uma vila portuguesa, algo que poderia significar na imagem 2 ( trocar tipografia grotesca).

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Comparação do trabalho de Sebastião Rodrigues com alguns dos actuais produtos de design
Sebastião Rodrigues aliado à sua preocupação e atenção tipográfica, demonstra que a sua actividade projectual, serve de exemplo para muito daquilo que se faz hoje. É realmente importante para Portugal, ter alguém como Sebastião Rodrigues, numa altura em que a ditadura acabava por ser um elemento castrador daquelas que poderiam ser as mentes criativas de Portugal, exemplo disso foi a opção de Amadeo de Sousa Cardozo em partir para Paris, onde realmente se sentia a evolução das tendências artísticas. No entanto, Sebastião, manteve-se pelo seu país, sem que o regime ditador, comprometesse a sua actividade projectual. As questões tipográficas e a estruturação das obras feitas entre os anos 40 e 50 são provas de que a metodologia de Sebastião ainda hoje é utilizada, tal como se acaba por verificar, nas capas de revistas como a Illustration e a Architect, a tipografia é um elemento que acaba por funcionar sem o auxílio da ilustração e arranjo gráfico que compõem o resto da página. A tipografia da revista Illustration mimetiza algo mais orgânico e manual, transmitindo correctamente o conceito de ilustração, assim como a tipografia escolhida para Architect se apresenta muito mais racional e geométrica.

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Conclusão do trabalho
“Além da parcimónia também utilizo a alegria, um certo olhar, o jogo e sempre o espírito de serviço tentando que a comunicação, (que de comunicação se trata), tenha a mais limpa emissão e a mais clara recepção” Sebastião Rodrigues in Falando do Ofício, Sociedade Tipográfica, Lisboa, 1989. Não foi apenas a ilustração que fez com que o trabalho da 1ª geração de designers portugueses fosse bom e eficiente, noo preciso caso de Sebastião Rodrigues, concluiu-se que a tipografia, por mais descreta que pudesse ser, era sempre o complemento indispensável à ilustração, ou melhor, a tipografia é aquela ferramenta que subentende a sua verdadeira importância para as pessoas mais desinformadas, mas que acabam por ser devidamente informadas e guiadas devido à tipografia que Sebastião escolhia nos seus trabalhos. Pretende-se deste modo enunciar a tipografia no seu trabalho como o motor que coordena toda a informação no universo em que se insere, que por maior ou menor que seja a sua mancha num determinado trabalho, o seu verdadeiro valor abrange o total da obra, estruturando-se devidamente através de uma grelha de construção, que era notoriamente indispensável para o trabalho de Sebastião Rodrigues. A metodologia regrada, assim como o gosto pelo conhecimento dos elementos gráficos caracterizadores da cultura portuguesa, fez com que Sebastião estivesse apto a projectar um trabalho incisivo e também muito característico, acabando por apresentar trabalhos sempre extremamente bem estruturados e bem fundamentados conceptualmente, independentemente da linha gráfica daquilo que lhe foi fonte de inspiração. A capacidade por parte de Sebastião para adaptar a “matéria-prima” ao seu estilo ou linguagem formal, tornou o seu trabalho muito enriquecedor, possibilitando a concepção de diferentes projectos com diferentes conceitos e objectivos, sem que isso fosse um entrave no decorrer dos seus projectos. Verifica-se que o seu modus atuandis ainda hoje se demonstra eficiente, o facto de utilizar a tipografia não como um simples acessório, mas sim como uma ferramenta fundamental na projecção de uma peça de design gráfico acaba por ser uma das melhores soluções de resolver determinados projectos em situações em que o factor tempo possa ser um elemento condicionador para desenhar novas ilustrações, que geralmente têm um grau de subjectividade demasiado elevado para que o designer possa controlar aquilo que quer transmitir através da peça, deste modo a tipografia torna-se não só como o motor do design gráfico, mas também uma ferramenta que assegura a qualidade do trabalho não só em termos conceptuais mas também em termos formais e fundamentalmente de legibilidade, conforme seja o objectivo que se pretenda atingir em termos comunicativos.

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Bibliografia
_Alvin Lustig 1915 - 1955 Modern Design Pioneer [Consult. 4 de Dezembro de 2009] Disponível em: http://www.alvinlustig.com/ _(1) FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN. Sebastião Rodrigues, Portugal, iconograda 1995. _OLIVEIRA, Fernando Jorge Matias Sanches. Victor Palla, Cultura Visual Tipográfica, IADE Escola Superior de Design, 2007. Tese de Mestrado. _RIBEIRO, Nuno Miguel Oliveira Santos. ArteRisco, 100 anos de Design de Comunicação em Portugal, IADE Escola Superior de Design, 2008. Tese de Mestrado. _SAMARA, Timothy. Making and Breaking the Grid, A graphic Design Layout Workshop. Beverly, MA, Unite States of America: Rockport publishers, inc, 2005. _Sebastião Rodrigues: Graphic Designer. Grain Edit [Consult. 4 de Dezembro de 2009] Disponível em: http://grainedit.com/2008/08/26/sebastio-rodrigues-graphic-designer/ _Sebastião Rodrigues (1929-1997) [ Consult. 4 de Dezembro de 2009] Disponível em: http://tipografos.net/portugal/sebastiao-rodrigues.html _SPIEKERMANN, Erik; GINGER, E.M. - Stop Stealing Sheep & find out how type works. 2ª ed. Berkeley, California: Peachpit Press, 2003. _TASCHEN, Illustration Now, Colónia - Alemanha, Taschen 2008.

Índice
1_ Introdução; 2_ O trabalho de Alvin Lustig; 3_ O trabalho de Victor Palla; 4_ Quem foi Sebastião Rodrigues; 5_ A influência de Alvin Lustig e Victor Palla no trabalho de Sebastião Rodrigues; 6_ A articulação tipográfica no trabalho de Sebastião Rodrigues; 7_ A natureza tipográfica; 7_ Grelhas de Construção; 8_Pormenores tipográficos; 8_ Conceito tipográfico para cada um dos trabalhos em análise; 10_ Comparação do trabalho de Sebastião Rodrigues com alguns dos actuais produtos de design; 11_ Conclusão do trabalho.

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