BISCOITOS OLINDA
INTRODUÇÃO:
Em fevereiro de 2005, Bernardo Vieira, gerente de produtos para o mercado nordestino de biscoitos da Biscoitos Nacionais Ltda, encontrava-se frente a um problema. Eram 20h30min de sexta-feira e ele relia os resultados de uma pesquisa de segmentação do mercado nordestino. Precisava tomar uma decisão quanto à melhor recomendação de investimento, para que a empresa pudesse aumentar sua participação de mercado no Nordeste. Na segunda-feira seguinte, teria que apresentá-la ao comitê executivo da Biscoitos Nacionais, formado pelo presidente, o vice-presidente e os diretores da empresa. Para Bernardo esta apresentação seria tudo ou nada: uma exposição completa, tendo a chance de mostrar o trabalho que vinha fazendo, ou ter sua imagem seriamente comprometida.
A expectativa da alta administração era grande para ver que oportunidades haviam sido identificadas naquela região tão promissora, o que o deixava ainda mais ansioso para tomar logo uma decisão e finalizar o material de sua apresentação. Era essencial que a aprovação de sua recomendação se desse o mais rápido possível, pois o objetivo era ter um plano de marketing implementado até o final daquele ano.
Biscoitos Nacionais operava nacionalmente, distribuindo seus produtos também no Nordeste. No entanto, por falta de investimento, ou mesmo, por resistência do mercado consumidor local, a marca nunca havia conseguido alcançar participação relevante no mercado da região. Em 2002, com o objetivo de aumentar sua presença no mercado nordestino e impedir que outra empresa concorrente entrasse ou aumentasse sua participação de mercado na região, a Biscoitos Nacionais comprou a Biscoitos Olinda, marca local de muita tradição, que, na época, passava por dificuldades financeiras e perdia participação no mercado.
Desde sua aquisição, entretanto, a marca Olinda não chegou a receber nenhum investimento de marketing para atividades voltadas para a região Nordeste, não conseguindo voltar a ter o porcentual de participação de mercado que apresentava antes da crise.
O MERCADO DE BISCOITOS NO NORDESTE:
O Nordeste tem grande e potencial mercado de biscoitos, representando 25% do consumo nacional, o que é bastante alto se comparado com outros países e regiões. Com a entrada de investimentos na região, o mercado cresceu 9,7%, de 2002 para 2003, e 16,9%, de 2003 para 2004, o que perfaz um crescimento total de volume negociado, neste período (02-04), de 28,2%.
Além do aumento de volume, as empresas passaram a investir em segmentos que possibilitavam o ganho de maior valor agregado (produtos que podem ser oferecidos a um preço mais alto, como wafers e recheados). Com isso, o mercado cresceu em valor 6,2% apenas de 2003 para 2004, passando de US$ 527.240.000 em 2003, para US$ 561.187.000 em 2004. O porcentual de aumento não foi tão representativo quanto o em volumes, pois segmentos que forneciam margens mais baixas continuavam tendo grande representatividade.
Para trabalhar com o mercado nordestino, com extensão geográfica e peculiaridades culturais, era natural subdividi-lo em três regiões: PPA, compreendendo os estados de Paraíba, Pernambuco e Alagoas; Sergipe e Bahia; e Ceará e Rio Grande do Norte.
Pode-se observar que o PPA liderava o Nordeste em vendas em volume e valor, sendo responsável por 40%. As outras duas regiões estavam equiparadas, apresentando praticamente o mesmo porcentual. Além disso, o PPA despontava como a região mais importante, não apenas em participação, como também em crescimento. De 2003 para 2004, teve um incremento de 36% no volume negociado na região e 20% no valor.
Olinda era líder em vendas no PPA, com 20% de participação do mercado, já que estava localizada na cidade de João Pessoa – Paraíba, sendo uma marca típica da região com mais de cinqüenta anos de existência, com preços baixos, tradicional e de cream crackers. No entanto, sua liderança estava sendo ameaçada pelo crescimento de MD Branco na região, que já apresentava participação de mercado muito próxima à da Olinda (18%).
Tabela 1
Importância das Sub-regiões % VOLUME % VALOR 2003 2004 2003 2004 SERGIPE E BAHIA 32% 30% 33% 32% CEARA E RN 33% 30% 31% 31% PPA 35% 40% 36% 43%
MD Branco liderava no Ceará e no Rio Grande do Norte (entre outros motivos, por ser uma marca local, com fábrica e matriz localizadas em Fortaleza) e também na região de Sergipe e Bahia. Com duas marcas locais, muito conhecidas na região, Fortaleza e Richester, utilizava estratégia de combate – Fortaleza era a marca popular, percebida como sendo básica e de cream crackers, e a Richester era a marca premium, de preço mais elevado. Seu share no Ceará e no Rio Grande do Norte era de 53%, enquanto a Olinda apresentava 2% (em 2004). Também era líder na Bahia e em Sergipe, apresentando uma participação de 16%, enquanto a Olinda tinha 2,5%.
Por meio da análise do ranking das marcas mais importantes da região Nordeste, Bernardo observou que a Olinda ficou na 2° posição em volume vendido, com um share de 9,4%. Embora tivesse a maior participação de mercado no PPA, nas duas outras regiões seu porcentual era baixo, diminuindo seu porcentual geral. Enquanto isso, a MD Branco, vice-líder do PPA e líder no Ceará e no RN, e na Bahia e em Sergipe, liderava também as vendas de biscoitos da região, com share de 28%.
Tabela 2
Participação de Mercado 98 99 00 01 02 03 04 AYMORE 1,0% 0,7% 0,6% 0,8% 0,3% 0,2% 0,1% BAUDUCCO 0,9% 1,4% 2,0% 2,8% 3,0% 3,7% 3,0% DANONE 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,4% MARILAN 6,2% 7,1% 7,8% 9,0% 9,3% 9,4% 8,7% M.DIAS BRANCO 20,7% 21,3% 22,9% 24,2% 25,9% 27,1% 28,0% SÃO LUIZ 4,0% 3,4% 3,6% 4,5% 5,5% 6,1% 6,0% PARMALAT 0,0% 0,0% 0,2% 0,8% 2,2% 1,2% 1,4% OLINDA 14,3% 15,5% 15,9% 14,3% 8,8% 8,0% 9,4% TRIUNFO 0,9% 1,0% 0,9% 1,2% 1,1% 0,9% 0,6% TOSTINES 1,9% 1,5% 1,3% 1,8% 1,9% 1,5% 1,1%
O mercado de biscoitos era bastante fragmentado, com grande porcentual correspondendo a pequenas marcas locais. Esta característica se intensificava no Nordeste, onde 46% do mercado correspondiam a vendas de pequenas marcas locais.
Identificando oportunidades de crescimento e de retorno com investimentos na região, marcas nacionais vinham intensificando seu investimento. A Nestlé, por exemplo, investiu principalmente na São Luiz e na Tostines. A primeira, de 2003 para 2004, apresentou crescimento de 15%. A Bauducco também não ficou atrás, oferecendo uma importante linha de wafers (de 2003 a 2004, cresceu neste segmento 21%), sendo conhecida como fabricante de panetones e bolos. No entanto, seu volume total na região caiu 5% neste período.
Tabela 3
Investimento em Mídia por Marca / Fabricante (GRP´S) FORTALEZA RECIFE SALVADOR Richester 22.108 5.099 7.830 Fortaleza 1.169 - - São Luiz 5.799 6.141 4.332 Bauducco 3.639 3.185 3.873 Confiança / Menino Maluquinho - 1.603 - Pelágio Oliveira / Tiririca 2.074 - - Estrela 1.096 - -
Vislumbrando uma oportunidade de expandir suas operações e seus lucros, além de aumentar sua participação no mercado, marcas locais (MD Branco - com Richester e Fortaleza - e Confiança) e marcas nacionais (Nestlé - com São Luiz - e Bauducco) investiram em anúncios em TV e outdoors, estampando suas marcas à vista do consumidor das principais cidades da região.
O mercado de biscoito era segmentado por tipo de biscoito: recheados, rosquinhas, secos /doces, cream cracker e água e sal, Maria / Maisena, salgadinhos / snacks, wafers, acompanhamentos salgados (tipo Salclic e Triggy), cobertos e cookies. Como já havia trabalhado em vendas, Bernardo sabia que, no Nordeste, o consumo de biscoitos era bastante peculiar no que se referia aos diversos tipos de biscoitos disponíveis. Para confirmar, coletou alguns dados da ACNielsen e conferiu os resultados. Realmente, os números mostravam que tinha razão. Na região, o segmento mais significativo era o de Cream Crackers, diferentemente do resto do país, onde o biscoito com maior participação de consumo era o recheado. Isto se devia ao fato dos consumidores locais terem este tipo de biscoito como um complemento da dieta alimentar, sendo considerado um substituto do pão. Consumidos diariamente, precisavam ser comprados em maiores quantidades, o que explicava a preferência por unidades de venda de maior quantidade – ao invés de pacotes de 200g, o predomínio em volume era das embalagens de 500g, que representavam 66% do segmento.
Tabela 4
Importância dos Segmentos no Nordeste EM VOLUME EM VALOR 02 03 04 02 03 04
Cream Cracker / Água e Sal 33,7% 31,9% 32,0% 28,3% 27,0% 28,2%
Biscoitos Recheados 19,8% 20,0% 21,7% 28,3% 26,6% 26,9%
Biscoitos Secos Doces 23,0% 23,3% 20,1% 18,9% 19,9% 17,0%
Maria / Maizena 8,8% 9,0% 11,0% 7,8% 8,0% 9,7%
Salgadinhos / Snacks 8,2% 8,3% 7,4% 5,3% 5,9% 7,0%
Wafers 2,3% 2,7% 3,3% 5,7% 5,9% 5,4%
Rosquinhas 1,6% 2,3% 2,6% 1,5% 2,2% 2,4%
Salgadinhos Acompanhamentos 0,5% 0,5% 0,5% 0,9% 0,9% 0,9%
Biscoitos Cobertos 0,1% 0,2% 0,1% 0,4% 0,6% 0,5%
Cookies 0,3% 0,1% 0,1% 0,6% 0,3% 0,2%
Empresas locais e grandes marcas nacionais, como a Bauducco, investiram pesadamente em suas linhas de rosquinhas e wafers. Com o aumento de investimento na região, começou a ser oferecido maior número de produtos, de melhor qualidade, e linhas mais completas passaram a estar disponíveis. Nas prateleiras, começaram a aparecer novidades e melhores opções para a dona de casa. Biscoitos básicos, como cream cracker, vinham perdendo representatividade no total das vendas em volume, enquanto segmentos mais premium, que possibilitavam o ganho de maiores margens pelos fabricantes, aumentaram sua importância. Os segmentos de biscoitos recheados e de wafers, por exemplo, cresceram, de 2003 para 2004, 2,0% e 1,0%, respectivamente. Outros segmentos, como Maria/Maizena e Rosquinhas, também apresentaram crescimento, da ordem de 2,2% e 1,0%, respectivamente. Figura 1. Participação no Mercado do Nordeste (%)
As empresas locais, como a Marilan e a M. Dias Branco, também estavam investindo no segmento de snacks, que no período de 2002 a 2004 apresentou crescimento de 0,8%. Mesmo com toda esta movimentação do mercado, a Olinda e a Biscoitos Nacionais não tomaram nenhuma ação agressiva para manter sua participação. Nenhum investimento específico foi destinado para o desenvolvimento do negócio no Nordeste. Diante da inércia de sua estratégia de marketing e do ataque agressivo da concorrência, a Olinda sofreu uma relevante queda em sua participação, não voltando mais ao patamar que possuía antes da crise financeira que motivara sua aquisição pela Biscoitos Nacionais (Figura 1).
A EMPRESA:
Biscoitos Nacionais Ltda era uma importante marca de biscoitos conhecida em todo o país. Oferecia ao consumidor extensa linha, desde biscoitos básicos (cream crackers e rosquinhas) até biscoitos premium (recheados e snacks). Os consumidores a percebiam como marca premium, oferecendo produtos de alta qualidade e, por isso, com preço mais elevado.
Embora fosse marca de distribuição nacional, as áreas onde tinha maior participação de mercado eram Sudeste e Sul, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Nordeste sua participação ainda era pequena, embora tivesse crescido de 0,1% de participação em valor, no final de 1998, para 1,3% no início de 2004 (seu maior share na região), terminado o ano de 2004 com share acumulado de 1,1%. Sua participação em volume era bem menor, mas também apresentava salto porcentual grande, pulando de 0,02% para 0,8%, no mesmo período.
Em 2002, a empresa comprou a Biscoitos Olinda Ltda, no que se apresentava como grande oportunidade de investimento no mercado de biscoitos da região, por ser uma marca tradicional e muito conhecida em todo o Nordeste. A localização de sua fábrica era atrativa; na Paraíba, a Olinda permitia diminuições de custos logísticos e facilitava a distribuição dos produtos na região. Isto despertou o interesse de grandes empresas, de investidores e principalmente de concorrentes da Biscoitos Nacionais, interessados em investir na região que vinha se mostrando bastante próspera.
Tabela 5
Biscoitos Nacionais – Vendas por Mercado % VOLUME % VALOR Norte-Nordeste 4,5% 5,2% MG, ES, interior RJ 9,4% 9,8% Grande RJ 22,8% 19,4% Grande SP 19,1% 21,0% Interior SP 16,9% 18,4% Sul 23,8% 22,8% Centro Oeste 3,4% 3,5%
Depois de sua aquisição, a Olinda passou por uma restruturação, adaptando-se aos padrões e normas de produção de sua controladora. No entanto, nenhum investimento em melhoria de produto ou na própria marca foi feito. A marca continuou oferecendo ao mercado biscoitos cream crackers, biscoitos Maria, biscoitos de Maizena, rosquinhas e água e sal, todos em embalagens de 100, 200 e 500g.
Na verdade não foi apenas a Olinda que foi reestruturada: toda a Biscoitos Nacionais passou por uma grande mudança interna ao longo de 2002 e 2003. A cúpula da empresa foi trocada - o final de 2002 foi marcado pela posse de um novo presidente, com ampla experiência no mercado alimentício, que trouxe nova diretoria e contratou novo corpo gerencial. Vários funcionários foram demitidos e o padrão de cobranças e exigências ficou totalmente alterado. A equipe de marketing foi bastante afetada, principalmente por estar diretamente ligada à alta administração da empresa. A incerteza dominava o ambiente de trabalho, fazendo com que a empresa se voltasse para dentro de si mesma, em uma tentativa de resolver seus problemas internos.
Tabela 6
Olinda: Participação no Mercado Nordestino
Vendas Vendas Em Volume Em Valor
1999 15,5 16
2000 15,9 16,8
2001 14,3 14,8
2002 8,8 9,2
2003 8 8,1
2004 9,4 9,1
Como consequência do processo de ajuste, a administração da nova marca adquirida foi relaxada, limitando-se a atividades essenciais às operações diárias. O único investimento de marketing foi em embalagem, com o logotipo da Biscoitos Nacionais acrescentado em todas as embalagens dos biscoitos Olinda, como um aval de qualidade. A estratégia era conseguir um efeito guarda-chuva entre as marcas. A partir de investimentos na Biscoitos Nacionais, buscava-se alavancar as vendas das duas marcas. No entanto, com o tempo, ficou claro que, ao invés de dar maior confiabilidade ao produto, a mudança acabou confundindo o consumidor, levando-os a questionar se os biscoitos Olinda não eram mais aqueles que estavam acostumados a comprar. Não ficou claro se aqueles eram produtos da Biscoitos Nacionais ou se continuavam sendo os da marca Olinda. Assim, apesar de todas as mudanças, a Olinda continuou a perder participação de mercado.
Bernardo fora contratado havia dois anos, devido à aquisição da Olinda, como Gerente de Desenvolvimento de Novos Clientes no Nordeste, cargo em que ficou durante um ano e meio. Esta posição deu-lhe grande conhecimento do mercado da região e do funcionamento dos canais de venda, principalmente os grandes varejos, com quem negociava com frequência.
Com todas as mudanças estruturais, a equipe de marketing da empresa foi desfeita e um novo grupo foi formado, o que acabou se transformando em uma oportunidade para Bernardo. Por sua experiência no mercado da região e por ter tido uma formação voltada para marketing, foi-lhe dada a oportunidade de restruturar o negócio da companhia no Nordeste. Em meados de 2004, foi transferido para a área de marketing, tornando-se líder do projeto de desenvolvimento de produtos para o Nordeste - o Projeto Olinda.
Durante o tempo em que trabalhava na Biscoitos Nacionais, Bernardo pode perceber que a cultura da empresa era bastante conservadora, não utilizando oportunidades alternativas de investimento em marketing. Com base no que aprendeu e em pesquisas do histórico de investimento da companhia, Bernardo constatou que se costumava utilizar mídia televisiva, preferencialmente, o que implicava em altos investimentos. No entanto, sob a orientação do novo presidente, as coisas estavam mudando. O grupo de desenvolvimento de projetos estava bastante envolvido e entusiasmado, empenhado em reerguer o negócio no Nordeste e na busca de resultados.
Analisando as duas marcas, a Biscoitos Nacionais e a Olinda, Bernardo concluiu que o perfil e o posicionamento da primeira era bem diferente do apresentado pela segunda: a Biscoitos Nacionais era tida como uma marca divertida, amiga, companheira, que está com você nos melhores momentos do dia, enquanto que a Olinda era vista como sendo uma marca de tradição Nordestina, antiga e ultrapassada. O que mais deixava isto claro para Bernardo era sua própria experiência na área de vendas, já que alguns clientes importantes recusavam-se a comercializar Olinda por considerarem seus produtos como ultrapassados.
PESQUISA DE SEGMENTAÇÃO:
Desde agosto de 2004, quando se tornou gerente de produtos, Bernardo tratara de colocar em andamento uma série de pesquisas que viessem a embasar futuras recomendações. Tinha em mãos, naquele momento, os resultados dessas pesquisas e informações de mercado do Nordeste. Não havia mais tempo para solicitar dados adicionais, pareceres ou novas análises de mercado. Precisava tomar uma decisão e terminar sua apresentação para segunda-feira com as informações disponíveis.
Bernardo começou a revisar os resultados da Pesquisa de Segmentação do Mercado Nordestino. A pesquisa havia sido feita com o objetivo de identificar os segmentos de mercado da região, determinar quais poderiam ser potencialmente desenvolvidos pela Biscoitos Nacionais ou pela Olinda e identificar opções de posicionamento mais adequadas para atender os segmentos e as posições atuais dos competidores chaves presentes. A questão que Bernardo queria ver respondida era: “Quais os segmentos potenciais em que poderia estar investindo no mercado nordestino e que drivers de preferência deveriam ser atendidos para cada segmento?”
O método adotado pelo instituto foi um levantamento, com entrevistas pessoais, por domicílio, com donas de casa com filhos. A pesquisa de campo foi realizada de janeiro/2005 a fevereiro/2005, com uma amostra de 600 domicílios. Duzentas entrevistas foram realizadas em Recife, 200 em Fortaleza e 200 em Salvador, cobrindo as três regiões mais relevantes do mercado nordestino. A amostra foi ponderada por classe social.
Conclusões da pesquisa – Características de consumo da região:
• Biscoitos tendem a serem consumidos durante o lanche da tarde, no café da manhã, durante a noite para enganar a fome ou na escola como merenda das crianças. Estas ocasiões são responsáveis por 80% do consumo de pacotes de biscoitos. O consumo durante a tarde foi a que apresentou maior importância, seguida pelo café da manhã, porque o biscoito (especialmente o cream cracker) é visto como substituto do pão pelas consumidoras regionais. O não consumo de biscoito durante as refeições é claro, sendo visto como um hábito prejudicial à saúde.
Tabela 7
Ocasiões de Consumo (no Nordeste) Total Salvador Recife Fortaleza Café da manhã 21% 23% 20% 20% Snack da manhã 13% 15% 15% 10% Lanche escolar 15% 15% 15% 16% Almoço 1% 1% 2% 0% Snack da tarde 28% 27% 25% 31% Jantar 6% 7% 9% 2% Snack da Noite 16% 14% 15% 20%
Tabela 8
Consumo das Marcas por Ocasião
Qualquer
Ocasião Café da Manhã Snack da Manhã Lanche
Escolar Snack da Tarde Snack da Noite Bauducco 23% 4% 22% 21% 17% 15% Águia 22% 23% 10% 4% 9% 11% Biscoitos Nacionais 6% 1% 6% 4% 4% 3% Fortaleza 54% 53% 21% 5% 30% 35% Olinda 31% 30% 16% 7% 17% 19% São Luiz 50% 17% 41% 38% 39% 34% Richester 44% 15% 31% 42% 34% 31% Marilan 16% 12% 11% 5% 9% 9%
• São Luiz e Richester eram consideradas para consumo em qualquer ocasião. Respectivamente, 50% e 44% das donas de casa declararam que outras ocasiões de consumo eram as dos snacks (manhã / tarde / noite e lanche escolar). Bernardo observou que ser uma marca para qualquer hora e ocasião era fundamental para aumentar o potencial de volume vendido. Era importante ter uma linha completa, com várias opções, não apenas cream crackers, biscoitos Maria e biscoitos de Maisena, como também recheados e wafers. Olinda, Fortaleza e Águia Central eram percebidas como marcas de cream cracker, com consumo limitado ao café da manhã por 30% da amostra.
• O consumo de biscoitos estava fortemente ligado à infância e às crianças, que têm importante influência na atitude das mães - 58% da amostra das donas de casa entrevistadas afirmaram ficarem felizes por dar biscoitos a seus filhos. Além disso, 56% das entrevistadas afirmaram que seus filhos eram muito influenciados por propaganda.
• Os consumidores de biscoitos mostraram-se pouco sensíveis a preço e a embalagens práticas (31% da amostra afirmaram que marcas mais baratas podem ser tão boas quanto as caras). Apenas 21% da amostra mudariam de marca por causa de preço e 23% pagariam mais por uma embalagem mais prática.
• O consumo era dividido entre as maiores marcas. O comprometimento dos consumidores era baixo, bem como a rejeição. Mesmo no caso de marcas líderes como São Luiz e Fortaleza, a distribuição da lealdade entre as marcas era mais equilibrada. Como a lealdade não era alta, várias marcas eram “frequentemente compradas”. Além disso, o nível de comprometimento mais alto declarado foi “Eu frequentemente compro esta marca”. A afirmativa “Esta é a única marca que eu compro” não foi escolhida
• O consumidor percebia a São Luiz como a marca de melhor qualidade. Ela era vista como uma marca do Sul, do mundo retratado nas novelas. Embora a São Luiz fosse declarada como a marca líder em desempenho (avaliada como “excelente” ou “muito boa”), ela não era a mais comprada, sendo a 4° marca do mercado em volume. Isto mostrava que a preferência pela marca podia ser considerada também aspiracional. Os consumidores gostariam de poder consumi-la (é a melhor / a ideal), mas, no entanto, ela era a marca mais cara do mercado, muitas vezes acima do seu poder de compra .
• Os atributos mais importantes que estavam associados às marcas preferidas eram: qualidade, confiança / preferência, vale o que custa e fresquinho / crocante. Bernardo pôde perceber que um atributo considerado importante para a Olinda, “tradição”, não era muito valorizado frente a outros atributos considerados mais importantes. Além disso, atributos ligados às crianças apresentaram importância declarada muito maior do que importância derivada, o que mostrava que para as consumidoras, conscientemente, os atributos ligados às crianças eram importantes. Por outro lado, inconscientemente, outros atributos eram mais relevantes para determinar a preferência geral pela marca. Mesmo tendo isto em mente, Bernardo continuava considerando relevante a participação das crianças no consumo de biscoitos e sua influência no processo de decisão de compra das mães.
• Pelo mapa de similaridade (Figura 2), Bernardo observou que foram formados quatro grupos de marcas: Richester, Bauducco e São Luiz apareceram próximas, sendo percebidas como marcas caras, com produtos de alta qualidade; Fortaleza e Olinda foram vistas como sendo marcas mais baratas de biscoitos salgados crocantes; Marilan e Águia Central foram marcas avaliadas como sendo de baixa qualidade, sem sabor ou com sabor ruim. Finalmente, aparece a Biscoitos Nacionais, como uma marca pouco conhecida ou conhecida apenas pelo nome, como declarado por alguns respondentes.
Além de descobrir contra que marcas Olinda e Biscoitos Nacionais estavam competindo diretamente, Bernardo pediu para que o Instituto de Pesquisa levantasse o desempenho da imagem da Olinda (Figura 3), com base nos atributos percebidos como os mais relevantes para a categoria. Pôde, então, observar que a Biscoitos Olinda era vista como uma marca nordestina, tradicional, presente no mercado há muito tempo, barata e popular, voltada para o público adulto. Os atributos relevantes identificados como estando ligados à marca foram: confiabilidade, “vale o que custa”, sempre fresquinha e crocante. No entanto, a marca não estava ligada a outros atributos igualmente relevantes: tinha pouca ligação com o universo infantil e era pouco avaliada como uma marca que provê momentos de prazer.
Figura 2. Mapa de Similaridade
Figura 3. Mapa de Imagem
Resultados da Segmentação do Mercado Nordestino:
Foram encontrados cinco segmentos de mercados (Figura 4). De acordo com suas características, foram atribuídos os seguintes nomes: “Mães de Família”, “Curiosas por Novidades”, “Mulheres Sertanejas”, “Mulheres Modernas” e “Pouco Envolvidas”. Figura 4. Segmentos por Cidade (%)
• Mães de Família representavam 20% da amostra. São mulheres focadas nas necessidades de sua família. Costumam utilizar os biscoitos como uma forma de mostrar seu amor e agradar a família, em momentos especiais em que estão todos reunidos. O consumo de biscoitos é um dos primeiros prazeres de que conseguem lembrar, associado ao calor e à segurança de seus lares. Embora estejam preocupadas com a família como um todo, são bastante influenciadas pelas crianças. Declaram que o que faz seus filhos felizes também as faz felizes. Além disso, dizem que as crianças são muito influenciadas por propaganda, o que acaba por se refletir em suas decisões. Não dão valor a embalagens mais práticas e não veem os biscoitos como perfeitos para momentos de relaxamento. Têm a percepção de que marcas mais baratas não são tão boas quanto as marcas mais caras. Seus drivers básicos são relacionados não apenas com qualidade e confiança, mas também ao fato do produto valer o que custa e de ser preferido por todos. Estão concentradas principalmente em Salvador e Sergipe (38%). No entanto, as demais regiões também apresentam porcentuais representativos (PPA – 35% e Ceará e RN – 26%). Este é o segmento com maior número médio de filhos, com famílias maiores e um dos segmentos que mais compra para as crianças, sendo predominantemente de classes B, C e D.
• Mulheres Sertanejas representavam 36% da amostra. Grupo de menor renda, com nível de instrução mais baixo, possui atitudes pouco discriminantes. São mulheres que favorecem valores familiares e aspectos ligados às crianças, guiadas por alta qualidade e confiança na marca. Têm atitudes similares às das “Mães de Família”, vendo os biscoitos como uma forma de agradar e de mostrar seu amor à família. Acreditam que o costume de comer biscoitos com a família é um prazer passado de geração a geração. Mesmo assim, não apresentaram posições muito distintas e claras. Para elas “tudo está bom”. Embora sua renda seja baixa, sendo predominantemente de classes C e D, este é o grupo que gasta mais em biscoitos.
• Mulheres Modernas representavam 19% da amostra. Tendo a maior renda e nível de instrução mais alto, costumam pagar mais por qualidade. Como não acham os biscoitos prejudiciais às crianças, são bastante permissivas no que se refere ao consumo, comprando sempre o que as crianças pedem e permitindo o consumo em qualquer horário fora das refeições. São guiadas pelas opiniões de terceiros, preferindo as marcas que todo mundo gosta e as que são servidas nas melhores casas. Também são muito influenciadas pela qualidade dos produtos, que devem se apresentar sempre fresquinhos e crocantes. Não ligam o consumo do produto a momentos de aconchego com a família nem o veem como uma forma de demonstrar amor. Sendo o grupo com o maior porcentual de mulheres que não são donas de casa, é um dos segmentos que mais gasta com biscoitos para as crianças. São predominantemente de classes B e C. Favorecem marcas de prestígio, como São Luiz e são o grupo que mais desfavorece a Olinda.
• Pouco Envolvidas representavam 10% da amostra. São mães que preferem biscoitos tradicionais da região onde vivem, não gostando de experimentar novos biscoitos. Compram o produto quando as crianças pedem e pagam mais por qualidade, embora não sejam fiéis a nenhuma marca. São guiadas por confiança, pelo que deixa as crianças felizes, e acreditam que o consumo deste produto demonstra o amor que sentem pela família e fornece momentos de prazer. Não utilizam o produto para recompensar as crianças, nem levam os biscoitos para onde vão. São pouco ligadas à variedade e à praticidade de embalagem, além de não serem guiadas por marcas mais populares e baratas. Têm alto nível de instrução (51% têm segundo grau completo), preferencialmente das classes B, C e D. É o segmento que menos gasta por mês na compra de biscoitos (apenas R$23.45 por mês).
• Curiosas por Novidades representavam 16% da amostra. São mulheres que mudam de marca por causa do preço, não são leais e adoram experimentar novos biscoitos. Também são muito ligadas a aspectos referentes às crianças. Ficam felizes com o que faz seus filhos felizes; reconhecem que as crianças são muito influenciadas por propagandas e não acham que os biscoitos sejam prejudiciais à saúde delas. Não ligam o consumo dos biscoitos ao aconchego do lar nem a momentos especiais com a família. São guiadas por alta qualidade (biscoitos fresquinhos), confiança e o que faz as crianças felizes. São pouco ligadas a marcas populares e baratas e a diferentes tipos de embalagens, embora sejam orientadas por preço e não tenham lealdade a nenhuma marca. Adoram provar novos biscoitos e acham que eles são perfeitos para matar a fome das crianças até as refeições. Este é o segmento com o menor número médio de filhos, com mães mais jovens e que gastam menos (R$ 24.72 por mês). As mulheres “Curiosas por Novidades” têm, em média, 36 anos, tendo menos de 2 filhos (média = 1,9).