Relatório de aplicação de modelos de previsão de ocorrência de inimigos das culturas. Caso do modelo de previsão de infecções de pedrado da nespereira – Resultados preliminares
Nídia Ramos
Patacão Julho de 2008
Projecto - Modernização e reforço da capacidade do Serviço Nacional de Avisos Agrícolas - Estação de Avisos Agrícolas do Algarve
Introdução......................................................................................................................... 3 1 - Breve revisão bibliográfica ......................................................................................... 3 1.1 – Pedrado da nespereira - Fusicladium eriobotryae (Cavara).................................... 3 1.1.1 - Epidemiologia ....................................................................................................... 3 1.1.2 - Sintomas ................................................................................................................ 4 1.1.3 - Meios de luta ......................................................................................................... 5 1.1.4 - Pedrado da nespereira. Método das tabelas de Mills ............................................ 5 2 - Material e métodos - Método das tabelas de Mills...................................................... 5 3 -Resultados e discussão - Pedrado da nespereira........................................................... 6 4 – Conclusão ................................................................................................................... 8 Bibliografia....................................................................................................................... 8
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Introdução No âmbito das orientações para o desenvolvimento sustentável da agricultura, a utilização de métodos de previsão de ataque dos inimigos das culturas, ao contribuir para optimizar a oportunidade de realização de tratamentos fitossanitários, resulta no seu melhor posicionamento com aumento da sua eficácia, eliminação de tratamentos desnecessários, redução dos custos de produção, com possíveis consequências na diminuição do impacte ambiental e do nível de resíduos dos pesticidas nos alimentos, tendo em vista melhorar a qualidade da produção destinada ao consumo. Assim, atendendo à existência da rede funcional de Estações meteorológicas automáticas (EMA) e ao manancial de dados obtidos, torna-se imperioso a sua aplicação a modelos de previsão existentes, especificamente, o modelo de previsão de infecções de pedrado da nespereira (Fusicladium eriobotryae). Espera-se assim, contribuir para a optimização da luta contra este inimigo, fornecendo em tempo útil informação aos agricultores através das Circulares de Avisos Agrícolas. O presente relatório pretende fazer uma síntese do trabalho desenvolvido de aplicação deste modelo na região Algarve, sendo realizada uma breve revisão bibliográfica, descrição de material e métodos e discussão dos resultados preliminares. 1 - Breve revisão bibliográfica O pedrado da nespereira é uma doença, produzida por um Ascomyceta, que pode provocar a destruição total da produção e enfraquecimento da árvore. Começa a manifestar-se com as primeiras chuvas outonais. Esta doença está reportada para os locais de cultivo da nespereira. São sinónimos: Basiascum eriobotryae Cavara 1888 Fusicladium eriobotryae (Cavara) Sacc. 1892 Fusicladium pyracanthae (Thüm) Rostr. 1912 Fusicladium pyrorum var. pyracanthae Thüm Napicladium pyracanthae Thüm Passalora pyracanthae G.H. Otth 1869 Spilocaea eriobotryae (Cavara) S. Hughes 1953 Fusicladium eriobotryae (Cavara) 1.1 - Epidemiologia Os órgãos que pode infectar de forma mais visível são frutos em formação e folhas, não obstante poder infectar as flores, frutos já formados e ramos.
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A fase parasitária do pedrado é assegurada pelo micélio produtor de conídios e depende da existência de órgãos verdes. No pedrado da nespereira não se conhece a forma sexual, prevendo-se que as infecções sejam provocadas por conídios, de modo geral, o micélio podese continuar a desenvolver por via sexual nas folhas mortas e em decomposição, comportando-se como saprófita e forma peritecas. Estas estão localizadas nos estomas, germinam um ostíolo que se abre para o exterior e então projecta bruscamente os ascósporos, que são transportados pelo vento, originando as infecções primárias. Na forma conidial desenvolve-se um talo subcuticular, que corresponde a uma extensão de hinfas ramificadas, que se vão diferenciar em conidióforos, terminais e solitários. Ao nível das lesões das folhas, o micélio procedente da germinação do esporo, desenvolve-se entre a cutícula e as células adjacentes da epiderme, que em condições favoráveis rompem a cutícula e dão lugar a frutificações do fungo. 1.2 - Sintomas O pedrado produz manchas escuras, de contorno sinuoso, que se desenvolvem rapidamente, provocando desidratação do limbo ou paragem de crescimento do fruto, no local de infecção, o que provoca assimetrias no desenvolvimento e queda precoce (Fig. 1 e 2). Nos jovens ramos forma um cancro castanho-escuro, que provoca o dessecamento da zona superior à infecção.
Fig. 1 – Aspecto da infecção de pedrado em fruto em crescimento e em maturação.
Não obstante os sintomas poderem confundir-se com o acidente fisiológico de carência de cálcio, distingue-se facilmente pela presença de um enfeltrado aveludado, sobre a mancha.
Fig. 2 – Aspecto da infecção de pedrado em folha.
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A desidratação de jovens ramos, serve de porta de entrada a outros parasitas tal como Cytospora. 1.3 - Meios de luta Luta cultural: destruição de folhas caídas e restos de frutos mumificados da produção anterior e ramos com sintomas. Luta química: Na Espanha preconiza-se um tratamento preventivo ao início da floração, em plena floração (5 % de pétalas caídas) com produto sistémico ou penetrante. Após a floração, sempre a que a temperatura seja superior a 15ºC e a precipitação seja superior a 10 l/m2, recomenda-se a utilização de fungicida. Se esta aplicação se efectuar nas 24 horas seguintes à precipitação, deve-se usar um fungicida preventivo (pode-se usar enxofre molhável se não se atingir 30ºC de temperatura diurna), se for 24-72 horas ou após usar um fungicida sistémico ou penetrante (articulos.infojardin.com 20/01/2008) Os tratamentos preventivos devem ser aplicados durante o período de incubação do fungo quando se verificar condições de desenvolvimento da doença de acordo com a climatologia; tratamentos curativos sempre que haja contaminação.
1.4 - Método das tabelas de Mills A tabela de Mills foi uma primeira tentativa para posicionar os tratamentos fitossanitários contra o pedrado das pomóideas, sendo uma ferramenta para determinar os períodos de infecção da doença, ao relacionar temperatura, duração de folha molhada e o desenvolvimento da infecção. Inicialmente a tabela de Mills mostrava valores diferentes de tempo de incubação para a ocorrência de infecções fraca, moderada ou grave e se se tratava de infecção provocada por ascósporos ou conídios. Mais tarde, esta tabela foi revista e apresentou um valor único para a intensidade de infecção e o tempo requerido para as infecções foi diminuído. Há medida que se desenvolvia a informatização, apareceram tabelas mais ou menos complexas, mas pouco foi modificado em termos de valores de período de incubação. 2 - Material e métodos - Método das tabelas de Mills O método das tabelas de Mills consiste na determinação potencial dos períodos de risco de contaminações primárias e secundárias do pedrado da macieira, baseado na ocorrência de determinadas condições climáticas (temperatura, período de humectação e dias de incubação). Para o efeito foi aplicado o modelo das tabelas de Mills corrigida (utilizado pelos Serviços de Avisos Agrícolas de Valência-Espanha), que consiste fundamentalmente na aplicação directa dos dados da tabela, fazendo o cruzamento dos parâmetros da temperatura e horas de humectação (Quadro 1).
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Quadro 1 – Tabela de Mills corrigida - Condições climáticas que influenciam as contaminações primárias e secundárias do pedrado da nespereira (Fusicladium eriobotryae ). Temperatura média durante o período de humectação (ºC) 26 24 22 20 18 16 14 12 10 Número de horas de humectação acima das quais tem origem uma: Contaminação primária 13 9 9 9 9 9 10 11 14 Contaminação secundária 9 6 6 6 6 6 6½ 8½ 9½
Dias de incubação 8 8 9 11 13 15 17
A implementação do modelo foi efectuada com os dados horários micrometeorológicos fornecidos pela EMA de Tavira. Simultaneamente foi efectuado um breve levantamento bibliográfico de identificação e caracterização do fungo e das formas de frutificação, no sentido de se efectuar uma primeira aproximação para aferição o tempo de incubação dado pela Tabela de Mills corrigida e com a presença de conídios. • Avaliação da intensidade de infecção
Na colecção varietal de nespereiras no CEAT, foi realizada uma observação conducente à determinação da intensidade de infecção consoante a área afectada de frutos e folhas através de índice (Índice 0 - Sem sintomas, Índice 1 - Presença nas folhas, Índice 2 - Presença nas folhas, frutos pouco afectados, Índice 3 - Presença nas folhas e frutos mais ou menos afectados, Índice 4 - Presença nas folhas e frutos muito afectados). 3 -Resultados e discussão
A implementação do método da tabela de Mills com base nos dados horários micro-meteorológicos de Tavira, colocou algumas questões em particular no que diz respeito à duração do período de humectação (PHu), sendo necessário fazer uma primeira aproximação aos valores de radiação e de velocidade do vento, pois estes parâmetros podem influenciar de sobremaneira
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a duração do período de humectação. Assim, para o período em análise desde 1 de Janeiro até 30 de Junho de 2008, foi considerado período de humectação sempre que se verificassem valores de folha molhada acima de 70% e se e só se anteriormente tivesse ocorrido precipitação acima de 0,2 mm. Quanto aos valores de radiação, foi considerado que acima de 120W/m2 (valor dado pela Organização Mundial de Meteorologia) tinha-se horas de sol, o que pode influenciar o fim do período de humectação mais ou menos uma hora em especial se no mesmo período se observar a ocorrência de ventos de força 3 e 4 (acima de 6,5 Km/h). No quadro 2 apresentam-se os períodos de possível contaminação para a cultura. Considerando que os tratamentos fitossanitários preventivos se devem realizar desde a floração até à colheita (período de maior susceptibilidade) e que existem variedades mais tardias e zonas de micro-clima, considerou-se o período até Maio. Pela aplicabilidade matemática do método, no presente período, deveriam ter sido emitidos 8 avisos para proceder a tratamentos preventivos. Quadro 2 – Períodos prováveis de contaminação de acordo com o método de Tableas de Mills Corrigida Data 2008 02-Jan 03-Jan 14-Jan 04-Fev 17-Fev 18-Fev 19-Fev 20-Fev 23-Fev 20-Mar 09-Abr 10-Abr 17-Abr 20-Abr 16-Mai 24-Mai N.º horas 9 8 12 17 9 18 15 13 44 17 36 6 8 37 7 17 Tmd período 14 13 11 12 14 15 13 12 14 12 15 16 15 14 16 14 Dias de incubação 13 14 16 15 13 12 14 15 13 15 12 11 12 13 11 13 Nota Aviso Aviso Aviso Aviso
Aviso Aviso Aviso Aviso*
* - Variedades mais tardias e/ou zonas de microclima Tmd - Temperatura média diária
O conhecimento para o isolamento, preparação e montagem do fungo foi sendo adquirido ao longo de várias observações em frutos de nespereira com sintomas, em especial a detecção de conidióforos e conídios; em meados de Março e 7 de Maio, possibilitou a preparação do fungo e observação das suas estruturas.
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Avaliação da intensidade de infecção Foi realizada em 29/02/2008, tendo-se determinado que 74% das nespereiras tinham índice 3; 15 % índice 4 e 11% índice 2. Face à existência de frutos mumificados com pedrado do ano anterior e a possibilidade das actuais infecções progredirem, assim como, pelo facto de não terem sido realizados tratamentos fitossanitários dirigidos a esta doença, previu-se nesta data estarem criadas as condições para afectação de grande parte da produção, o que foi verificado por observações subsequentes.
4 – Conclusão Foi exequível a aplicação do método da tabela de Mills corrigido, com base nos dados micro-meteorológicos da EMA de Tavira. A análise da saída do modelo deu oito períodos prováveis de contaminação. Perspectiva-se, com os conhecimentos agora adquiridos, a aferição do modelo através da validação dos períodos de risco com as observações de campo. Para ambos os modelos preconiza-se a repetição dos estudos, para dar maior consistência aos resultados obtidos. Agradecimentos Agradece-se ao Eng.º Paulo Oliveira pelo apoio com os dados obtidos das EMA´s e aos Eng.ºs Téc. Agr. Manuel Luís e José Fernando Prazeres pelo apoio e colaboração nos trabalhos de campo. Bibliografia
Boletín de Avisos n.º 13. Octobre 2003 – Generalitat Valenciana. Cruz, R. (1957) – Avisos para o combate do pedrado e do bichado das pomóideas. Repa. Ser. Fitopatológicos, Lisboa. Descripción de Variedades de Níspero Japonês http://www.agricultura.gva.es/sdt/pdf/libros/n47.pdf acedido 20/01/2008 Enfermedades de los frutales de hueso y pepita http://articulos.infojardin.com/Frutales/enfermedadesfrutales-hueso-pepita.htm acedido 20/01/2008
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