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Salvador de Mendonça

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ANA MARIA GARRIDO ALVARIM

A atuação de Salvador de Mendonça como Ministro
Plenipotenciário em Washington (1890-1898):construindo a
República e o americanismo pragmático

BRASÍLIA
2014

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INTRODUÇÃO

Neste trabalho, tratar-se-á de analisar o período em que Salvador de Mendonça serviu como ministro plenipotenciário em Washington (1889-1898). As relações BrasilEstados Unidos foram fortalecidas em um momento de instabilidade interna brasileira, decorrente da mudança de regime. Como se verá, Mendonça foi o principal agente diplomático nas relações entre Brasil e Estados Unidos nesse período, assim como teve função importante em momentos de instabilidade interna com reflexos internacionais.
Na seção 1 deste trabalho, será verificada a conjuntura brasileira daquela época, a qual restringiu e estimulou as atividades de Salvador de Mendonça junto ao governo americano. A passagem de um governo monárquico para um regime republicano acarretou instabilidades institucionais internas, que colocavam em risco o futuro da recém- proclamada República brasileira. Diante desse cenário, fazia-se premente uma aproximação com os Estados Unidos, tendo em vista o temor de que as monarquias europeias inspiravam aos novos donos do poder no Brasil. Temia-se que elas estimulassem um movimento de retorno às antigas instituições. Verifica-se que a atuação de Salvador de Mendonça era, portanto, uma possível estratégia de sobrevivência do novo regime.
A seção 2 dividir-se-á em duas subseções referentes às primeiras gestões internacionais da recém-constituída República brasileira. A primeira analisará as gestões de Salvador de Mendonça em Washington, a fim de que os Estados Unidos reconhecessem o regime republicano. Essa era uma questão vital para a sobrevivência da República, tendo em vista que os países europeus se negavam a reconhecer o novo regime antes da potência americana. A demora do reconhecimento enfraqueceria a posição internacional do Brasil, o que, por sua vez, enfraqueceria as instituições internas, ainda baseadas em um governo provisório dirigido por militares. A segunda subseção analisará a atuação brasileira na Primeira Conferência Interamericana, em
Washington. Ela iniciou-se ainda no período monárquico, sendo, portanto, um exemplo ilustrativo das mudanças de direcionamento da nova política externa, baseada em princípios cada vez mais americanistas. Salvador de Mendonça foi, nessa conferência, um dos principais representantes brasileiros, tendo realizado gestões com o Secretário de Estado americano Blaine para que o encontro fosse bem-sucedido.

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A seção 3 analisará o Tratado de Comércio Blaine-Mendonça, o qual, apesar de ter sido breve, revela as preocupações de Salvador de Mendonça com a necessidade uma maior aproximação comercial. Ela garantiria um bom relacionamento político com os
Estados Unidos. Para o ministro brasileiro, caso o acordo não fosse ratificado, o relacionamento entre os dois países esfriaria de maneira a impactar negativamente o processo de estabilização e institucionalização da República das Espadas.
A seção 4 discorrerá sobre o episódio da Revolta da Armada, em que parte da
Marinha se rebela no Rio de Janeiro, por meio da liderança de Custódio de Mello, e requisita a renúncia de Floriano Peixoto. Esse capítulo argumentará que Salvador de
Mendonça foi um personagem central na defesa da estratégia externa do governo
Floriano. Ele ajudou a evitar que as potências externas reconhecessem aos rebelados o status de beligerantes, a fim de assegurar a legitimidade do governo Floriano.
Mendonça também obteve o apoio dos Estados Unidos para romper bloqueio rebelde, por meio da elaboração de uma esquadra, comumente denominada como “Esquadra de
Papelão”. A seção demonstrará que a esquadra, apesar dos inúmeros problemas que vivenciou, era muito mais poderosa que os navios à disposição dos rebelados, além de ter tido grande importância para o fim da Revolta.
Posteriormente, serão feitas breves considerações finais acerca da importância da atuação de Salvador de Mendonça como agente diplomático junto aos Estados Unidos em um momento de crescente necessidade de apoio externo para a manutenção e a estabilização das instituições republicanas, frente a um contexto europeu de potências monárquicas, que viam com desconfiança o novo regime brasileiro.

1. DO IMPÉRIO À REPÚBLICA: BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA
DA CONJUNTURA DE AÇÃO DE SALVADOR DE MENDONÇA

1.1 A Crise do Império e o Advento da República
O advento da República, em 1889, foi resultado de um processo iniciado na segunda metade do século XIX, principalmente após a Guerra do Paraguai (1864-1870), quando houve maior politização e institucionalização do Exército1. O surgimento do que Ângela Alonso chamou de Geração de 18702 também contribuiu para a mudança ideológica de parte da elite brasileira da época. Essa geração era um movimento

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diversificado ideologicamente, mas que tinha em comum o desejo por reformismo e a crítica às instituições imperiais.
De acordo com José Murilo de Carvalho3, o período entre 1875 a 1889 pode ser caracterizado como de lenta e progressiva perda de legitimidade da monarquia. Boris
Fausto4afirma que a partir da década de 1870, começaram a surgir diversos sintomas de crise, como o início do movimento republicano e os atritos do governo imperial com o
Exército e a Igreja. Não há um consenso na historiografia acerca das razões que levaram à derrocada do Império. Nos anos 1960, Emília Viotti dá importância às quatro questões explicativas: (i) a questão servil; (ii) a questão religiosa; (iii) a questão republicana; e
(iv) a questão militar. Nos anos 1990, Boris Fausto demonstra preferência pelas questões militar e republicana como viés explicativo. José Murilo de Carvalho5 reabilitou a ênfase da questão servil, e, mais recentemente, Ângela Alonso6 advogou a existência de uma corrente de pensamento denominada “Geração de 1870”, que teria influenciado diretamente, por oportunismo ou possibilismo, a queda do Império.
Apesar das diversas questões explicativas para o fim do Império, para Topik7, o
Brasil vivia uma boa situação internacional nos anos 1880 visto que gozava de uma elevada reputação externa, os preços do café estavam favoráveis, e o setor da borracha vivenciava um boom. Além disso, havia um grande afluxo de capital estrangeiro para o país, principalmente para a área de infraestrutura. De acordo com o autor8, as razões para a queda da Monarquia teriam mais relação com a uma falta de respaldo do que com uma existência real de oposição. Em um mesmo sentido, Moniz Bandeira9sublinha que o Império desmoronava à medida que eram substituídas as estruturas pré-capitalistas que o sustentavam, como a escravidão.

1.2 O relacionamento do Brasil com os Estados Unidos nos anos finais do Império
Com o fim da Guerra de Secessão (1861-1865), a ameaça de um possível imperialismo estadunidense no Brasil foi considerada extinta, possibilitando que se abrisse o rio Amazonas para a navegação internacional. Isso tornou as relações dos dois países mais cordiais. Ainda durante a Monarquia, os Estados Unidos se tornaram o principal mercado para o café brasileiro, no ano de 1872. A visita de D. Pedro II à
Exposição de Filadélfia, em 1876, consolidou a amizade dos dois países, visto que o imperador brasileiro foi o primeiro monarca a visitar os Estados Unidos desde a independência do vizinho do norte. Em 1887, o presidente americano Grover Cleveland sugeriu a consecução de uma união aduaneira, demonstrando os esforços de

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reaproximação dos dois países, bem como o desejo americano de construção de um bloco aduaneiro continental.
Com a Proclamação da República, para Moniz Bandeira10, o governo brasileiro teria confundido “republicanização” com “americanização”, visto que o novo regime queria assemelhar-se com os Estados Unidos mesmo simbolicamente, com a instituição do federalismo, dos “Estados Unidos do Brasil” e a adoção de bandeira semelhante ao país do norte. De acordo com Bandeira, para as pessoas que realizaram a Proclamação da República, a americanização do Brasil constituiria o fim da herança colonial, a industrialização e o avanço da democracia. Também seria um contraponto ao predomínio inglês, visto como negativo pelas elites brasileiras em ascensão. Esse mimetismo pode ter sido o resultado da falta de solidez institucional interna, necessitando, dessa forma, buscar o apoio dos Estados Unidos11. A Proclamação da
República brasileira teria apenas formalizado, institucionalmente, a reorientação do
Brasil em direção dos Estados Unidos, a qual já se achava em curso durante a
Monarquia12.
Essa continuidade no relacionamento entre Brasil e Estados Unidos pode ser explicada, em grande medida, pela atuação de Salvador de Mendonça, visto que o diplomata brasileiro trabalhou, naquele país, de 1875 a 1898, primeiro como cônsul em
Nova Iorque e depois como ministro plenipotenciário em Washington, já na República.
Sua continuação no cargo e a virada na política externa brasileira em direção ao continente americano acentuaram a relação entre os dois países, fortalecendo, nesse sentido, o processo de americanização da política externa. Dessa forma, faz-vital analisar, brevemente, a atuação de Salvador de Mendonça no período anterior ao regime republicano. 1.3 A Trajetória de Salvador de Mendonça nos anos finais do Império
A trajetória de Salvador de Mendonça confunde-se com a da Geração de 1870 em dois momentos13: i. Anterior à sua carreira diplomática, quando escrevia em jornais liberais, posteriormente, republicanos, desde os anos de 1870, realizando críticas ao regime imperial; ii. Posterior ao início de sua trajetória na diplomacia, quando estabeleceu uma visão acerca do regime republicano e democrático dos Estados Unidos, principalmente nas cartas e artigos de jornal que escreveu após assumir o Consulado de
Nova Iorque.

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Salvador de Mendonça entrou na carreira diplomática por acaso. Devido a problemas de saúde, recomendaram-no a ir para a Europa ou para os Estados Unidos, a fim de cuidar da saúde. Ao saber dos planos de Mendonça de ir para os Estados Unidos, o Barão de Paranapiacaba realizou ofícios em seu nome, para torna-lo cônsul em Nova
Iorque14. Com a aprovação do Imperador D. Pedro II, Mendonça juntou-se ao corpo diplomático brasileiro nos Estados Unidos em 1875.
Maravilhado com o progresso norte-americano, já em 1875, Salvador de
Mendonça percebeu a crescente importância dos Estados Unidos principalmente para o comércio brasileiro. Em ofício enviado para o Itamaraty, ele afirmou:
Os Estados Unidos já são o maior consumidor do nosso primeiro produto agrícola, assim como nos fornecem quase exclusivamente um dos gêneros de importação de primeira necessidade para nós. Estas relações comerciais, já muito dignas de atenção, podem ser consideravelmente melhoradas, desde que se lhes ligue o interesse que estão reclamando. Outros produtos além do café podem ser exportados para estes Estados, donde poderemos também receber vários gêneros que ainda importamos da Europa por serem aqui bem pouco conhecidos dos nossos mercados. (MENDONÇA apud AZEVEDO,
1971, p. 124)

Um artigo no New York Times, publicado em 1895, afirma que Salvador de
Mendonça foi o representante de um país estrangeiro que desfrutou o mais alto grau de confiança do Departamento de Estado e das Administrações Democratas dos Estados
Unidos15.
Já no final do Segundo Reinado, em julho de 1889, Salvador de Mendonça foi nomeado ministro plenipotenciário em missão especial nos Estados Unidos e delegado do Brasil na I Conferência Interamericana, continuando a servir nesta missão mesmo após a Proclamação da República. Em 1890, foi nomeado enviado extraordinário e ministro plenipotenciário de primeira classe em Washington. Até 1898, Mendonça atuaria como o principal representante diplomático brasileiro nos Estados Unidos, contribuindo em todos os momentos em que os interesses nacionais estiveram em jogo.
Seu principal objetivo era assegurar a estabilidade do novo regime, bem como fortalecer os laços, de maneira pragmática, com os Estados Unidos. As próximas sessões examinarão a atuação de Salvador de Mendonça, como ministro plenipotenciário, nos principais momentos em que uma maior coordenação diplomática, política e econômica entre as duas nações foi necessária: (i) o reconhecimento da República brasileira; (ii) a
Primeira Conferência Interamericana; (iii) o Acordo Blaine-Mendonça; e (iv) a Revolta da Armada.

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2. RECONHECIMENTO DA REPÚBLICA BRASILEIRA E A PRIMEIRA
CONFERÊNCIA INTERAMERICANA (1889-1890)
Ambos os temas do reconhecimento da República e da ação brasileira na
Conferência Interamericana de 1889 serão tratados juntos, tendo em vista que ocorreram concomitantemente, durante os anos de 1889 e 1890. Para ambos os processos, Salvador de Mendonça teve importância fundamental, visto que realizou esforço significativo para que os Estados Unidos reconhecessem a República brasileira prontamente, bem como teve papel significativo na conciliação dos interesses dos Estados Unidos e das nações latino-americanas na Conferência Interamericana em Washington. Ambos os eventos demonstram uma virada ideológica e pragmática da política externa brasileira, a qual se volta, com a republicanização, para a América, com certo detrimento à posição europeísta que predominava no Império.

2.1 O Reconhecimento da República: a importância de Salvador de Mendonça
A instauração da República envolveu a institucionalização de um novo regime, o qual poderia seguir o modelo americano ou francês. Tendo em conta que a República foi instituída por grupos conservadores, como o Exército e os plantadores de café do
Oeste Paulista, a experiência francesa, com alto grau de participação popular, era assustadora para os donos do poder brasileiro. Por essa razão, o modelo americano, burguês, seria muito mais atraente16. Para alguns historiadores, como Moniz Bandeira17, a República significava o fim da herança colonial e o início do progresso e da democracia no Brasil. A fim de alcançar esses ideais, foi de significativa importância o redirecionamento da política externa para a América, por meio de uma
“republicanização” e “americanização” das diretivas externas.
A Proclamação da República no Brasil envolveu questionamentos internos e externos. Para Topik18, ela envolvia vulnerabilidades externas e internas. Quanto às primeiras, as nações monarcas da Europa não viram com bons olhos o desaparecimento da maior nação monarca na América. Ao mesmo tempo, os republicanos brasileiros temiam que a Europa tentasse restaurar a monarquia no Brasil. Além disso, os financistas e credores do Brasil passaram a se distanciar do país, com diversos cortes de créditos, como o da Casa Rotschild. No âmbito interno, as diversas crises que ocorrerão

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no início da República, como a Revolta da Armada e a Revolta Federalista, demonstram que a situação interna era instável.
Por essa razão, fazia-se imperativo o reconhecimento da República brasileira pela maior república americana, os Estados Unidos. Nesse sentido, a primeira medida a ser buscada pelos diplomatas brasileiros e pela delegação que trabalhava na Conferência
Interamericana de Washington foi obter o reconhecimento do regime recémproclamado19. A legação do Brasil em Washington, sob a direção de Salvador de
Mendonça, informou que os Estados Unidos consideravam a República como fato consumado e manifestavam a intenção de reconhecer o novo regime imediatamente20.
Em telegrama para Quintino Bocaiuva, Salvador de Mendonça escreveu: “Saúdo
Governo Provisório. Aguardo ordens em relação Missão Especial e Congresso (...).
Posso obter aqui imediato reconhecimento, mande ordens.”21.Dias após a proclamação,
Quintino Bocaiuva solicitou aos Estados, por circular, o reconhecimento do novo regime. Entretanto, embora a potência americana tenha-se demonstrado favorável ao reconhecimento da república no princípio dos acontecimentos, os Estados Unidos passaram a adotar uma postura mais cautelosa. Nesse sentido, a ação de Salvador de
Mendonça foi essencial para o sucesso do reconhecimento brasileiro, visto que o ministro realizou diversas reuniões com o Secretário de Estado, Jaimes Blaine. Com o início das conversações, o presidente norte-americano Benjamin Harrison negou reconhecimento, afirmando que havia dúvidas quanto à ausência de democracia no regime brasileiro22. A própria imprensa americana, a princípio, não era favorável à
República brasileira, o que fica demonstrado na seguinte passagem de um artigo do jornal New Orleans States:
Uma grande mudança, provavelmente para pior, ocorreu naquele país (...). D.
Pedro II foi destronado, não pelo povo, pois na realidade não há povo no
Brasil, no sentido em que este termo é entendido em países esclarecidos e livres, mas por um Exército mercenário. Que o atual governo do Brasil é uma mera ditadura militar mulata, há poucas dúvidas (New Orleans States Journal apud TOPIK, 1996, p. 122-23).

Apesar dos receios do governo americano e da rejeição da opinião pública daquele país à República brasileira, era essencial o rápido reconhecimento dos Estados
Unidos, a fim de assegurar a sobrevivência do novo regime brasileiro. Para Topik23, os temores quanto ao retorno da monarquia, imposta pelos europeus eram reais, tendo em vista que o movimento restaurador ainda era forte e que o Império foi derrubado em um

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momento de grande popularidade interna, decorrente da abolição da escravidão. Isso contraria, em certa medida, as diversas teses quanto à crise da monarquia, já explicitadas na seção 2 deste trabalho. Talvez se possa fazer um contraste entre as novas elites e a população brasileiras. Enquanto aquela se tornou desfavorável à monarquia, esta ainda era muito próxima ao regime.
Salvador de Mendonça passou a argumentar junto à parte americana, especialmente Blaine, que seria benéfico para os Estados Unidos reconhecerem a
República brasileira antes de alguma nação europeia. Em verdade, Mendonça tinha recebido instruções do Barão de Itajubá que comentavam que nenhum país europeu estava disposto a realizar o reconhecimento antes dos Estados Unidos24. Por essa razão, seu trabalho nos Estados Unidos ganhou ainda mais relevância, necessitando muito poder dissuasório do lado brasileiro. Alguns fatores contribuíram para persuadir o presidente Harrison a ser o primeiro a reconhecer a República brasileira25: a) a posição da imprensa modificou-se, visto que em sua perspectiva o regime brasileiro tinha se firmado como mais democrático; b) o regime estaria mais estável; c) alguns monarquistas desistiram de restaurar o velho regime. Além dessas mudanças de percepções, sobressaiu-se o desejo americano por aliança com o Brasil na Conferência
Interamericana, visto que Blaine estava tendo dificuldades para levar adiante a agenda dos Estados Unidos naquela conferência, especialmente no que diz respeito à união alfandegária. Do lado brasileiro, ainda havia outras motivações para o reconhecimento rápido, além da própria sobrevivência do regime. Mendonça acreditava que a amizade com os
Estados Unidos seria um elemento influenciador na resolução da Questão das Missões com a Argentina (1895), tendo em vista que a arbitragem seria realizada pelo presidente americano Groover Cleveland.
Após diversas trocas de ofícios e relutância por parte dos norteamericanos, o reconhecimento foi feito em 29 de janeiro de 1890. A importância de
Salvador de Mendonça para o reconhecimento do novo regime foi verificada tanto pelo ministro das relações exteriores brasileiro quanto pelo Secretário de Estado americano,
James Blaine. Isso fica evidenciado na seguinte carta de Blaine para Charles Flint, quem também contribuiu de forma significativa para o reconhecimento:
Depois de fazer uma resenha dos fatos com o doutor (Salvador de Mendonça) e atendendo aos seus persuasivos argumentos, ofereci-lhe arranjar o seu recebimento na Casa Branca como representante da nova República, tão depressa quanto os discursos pudessem ser preparados (BLAINE apud
AZEVEDO, 1971 p. 181)

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2.2 A Primeira Conferência Interamericana (1889-1890)
A Primeira Conferência Interamericana (1889-1890) teve início ainda durante o
Segundo Império. Ela visava a diversos objetivos, como a consecução de uma união aduaneira, a adoção de uma moeda comum, a adoção de um sistema de pesos e medidas uniforme e a discussão de um plano definido para arbitragem obrigatória26. A delegação brasileira enviada por Pedro II deveria não só representar o Brasil na conferência, mas também negociar um acordo comercial com os Estados Unidos. Entretanto, um acordo de comércio entre os dois países só se concretizará mais tarde, com o Acordo BlaineMendonça, analisado por esse trabalho na próxima seção. Com a proclamação da
República, a posição brasileira na conferência alterou-se, tornando-se mais participativa e cooperativa.
De acordo com Luís Cláudio Villafañe27, pode-se perceber uma clara mudança de posição da delegação brasileira após a Proclamação da República, principalmente no que se refere à questão do arbitramento obrigatório. Salvador de Mendonça, como
Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário em Washington, requisitou, por meio de telegrama ao Ministro das Relações Exteriores, a autorização para “dar interpretação republicana às instruções monárquicas na Conferência, sendo autorizado por Bocaiuva.
A Conferência Interamericana também objetivava a consecução de uma união aduaneira continental que criaria uma comunidade comercial continental 28. Isso era um desejo estadunidense desde o início da década de 1889, sendo o principal objetivo da
Conferência29. Este era um ponto de discórdia entre os negociadores latino-americanos, tendo em vista a oposição argentina e chilena, principalmente. O Brasil era, por sua vez, mais receptivo à posição de Blaine quanto à união aduaneira30. Nesse sentido, de importância essencial foi o delegado brasileiro Salvador de Mendonça. De acordo com
Topik, o “diplomata brasileiro desempenharia um enorme papel nas relações BrasilEstados Unidos durante a maior parte da década de 1890, por suas ligações pessoais com americanos influentes”.
A amizade de Salvador de Mendonça com Blaine permitiu que o brasileiro fosse o membro mais ativo nas negociações do tratado comercial no âmbito da Conferência.
A longa vivência de Mendonça nos Estados Unidos, tendo inclusive se casado com uma americana, facilitou a familiarização do brasileiro com os procedimentos e as perspectivas americanas31. Por essa razão, ele pôde atuar como intérprete de Blaine nas

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negociações com outros países latino-americanos. As discussões acerca do arbitramento obrigatório tinham como consequência a abolição do direito de conquista, o que era rechaçado pelos Estados Unidos, visto que, nessa época, o imperialismo das superpotências era crescente. Pode-se afirmar que apesar das excelentes relações entre
Mendonça e Blaine, essa questão demonstra que Salvador não defendia um americanismo ideológico, visto que buscou auferir os interesses nacionais brasileiros.
Moniz Bandeira concorda com essa afirmativa, ao dizer que:
Salvador de Mendonça, na 1ª Conferência Pan-Americana, inaugurava uma linha de entendimento com os Estados Unidos, que estabelecia suspeitas no ânimo de alguns delegados latino-americanos. Isto não significava, todavia, que levasse a colaboração às raias do servilismo. (BANDEIRA, 1973, p. 204)

Os Estados Unidos demonstravam-se fortemente contrários à inclusão da cláusula sobre abolição do direito de conquista, a qual era desejada pelos outros países latino-americanos. Caso a cláusula fosse incluída, os Estados Unidos não assinariam o tratado de arbitramento obrigatório. Dessa forma, Mendonça realizou diversas reuniões com ambas as partes, a fim de chegar a um acordo, sendo bem-sucedido. Com Blaine, ele argumentou que os países latino-americanos apenas desejavam tornar mais completo o arbitramento obrigatório e garantir a integridade, a soberania e a independência de todas as nações32. O Secretário de Estado apenas mudou de opinião quando Carnegie e
Mendonça argumentaram que o projeto de abolição somente atava as mãos dos Estados
Unidos em relação às nações signatárias do tratado que em tal projeto se originasse.
Ao analisarem os resultados da conferência, Cervo e Bueno33 verificaram que houve uma convergência dos pontos de vista brasileiro e argentino. A proposta de união aduaneira, que era aceita pelo Brasil, encontrou resistência argentina, visto os bons resultados que o país platino auferia de seu relacionamento com a Inglaterra.
Argumento mais forte contra a união foi o fato de as tarifas aduaneiras serem a principal fonte de receita de muitos países34 da região. O resultado foi a aprovação de resolução em favor apenas de acordos bilaterais e plurilaterais. Após a conferência, o Brasil tentou estabelecer com os Estados Unidos uma “aliança ofensiva e defensiva para a defesa da sua independência, soberania e integridade territorial”; entretanto não foi bemsucedido35.
Nesse sentido, apesar de os Estados Unidos não terem obtido as preferências comerciais que desejavam naquele momento, o país buscou, bilateralmente, realizar esforços nesse sentido. Já o Brasil buscou auferir uma aliança política com os Estados
Unidos por outros meios. O Acordo Blaine-Mendonça (1891) pode ser considerado o

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resultado do descompasso de interesses dos Estados Unidos na área comercial e do
Brasil, na seara política. Talvez seja por essa razão que ele não se perpetuou no tempo, como será visto a seguir.

3. O ACORDO BLAINE-MENDONÇA
Em 1890-91, Blaine propôs a Salvador de Mendonça um acordo de preferências tarifárias, o qual previa a troca de produtos agrícolas e manufaturados com isenção de taxas alfandegárias. Do lado brasileiro, visava-se a aumentar as exportações de café para os Estados Unidos, bem como estimular a produção de açúcar brasileiro, tornando esse produto mais competitivo no mercado americano. Acreditava-se que os Estados Unidos dariam exclusividade ao açúcar brasileiro em detrimento do produzido nas colônias caribenhas da Espanha, especialmente Cuba.
O acordo não foi bem recebido no Brasil, tendo em vista a polarização existente no Congresso entre os ex-monarquistas e os republicanos históricos. Nilo Peçanha, que na época era deputado na Assembleia Constituinte, requisitou uma sessão secreta para examinar os aspectos da negociação com os Estados Unidos36. Entretanto, de acordo com Topik37, Deodoro da Fonseca empregou seus poderes de “ditador provisório” para assinar o acordo Blaine-Mendonça. A aceitação do Governo Provisório, o qual envolvia militares, republicanos e nordestinos ocorreu, sobretudo, graças aos argumentos apresentados por Salvador de Mendonça ao Congresso.
De acordo com o ministro brasileiro, em termos diplomáticos, o acordo constituiria parte essencial da “aliança íntima” entre as duas nações, vital para o reconhecimento da República por parte dos norte-americanos bem como para a continuação da amizade entre os dois países. Entretanto, esse argumento não poderia ser utilizado no Congresso, pois seria visto como uma aliança tácita entre o governo de
Deodoro da Fonseca e os Estados Unidos. Nesta época, ocorreu o incidente Balmaceda no Chile38 e, por isso, os legisladores brasileiros poderiam temer que essa aliança se voltaria contra eles. Além disso, caso a Argentina tomasse conhecimento dessa “aliança íntima”, os esforços de solução da Questão das Missões por meio da arbitragem dos
Estados Unidos poderiam ficar comprometidos. Por isso, Salvador de Mendonça teve que argumentar em favor do acordo apontando apenas motivações econômicas.
Para o ministro plenipotenciário, os principais beneficiados pelo Acordo BlaineMendonça seriam os produtores de açúcar nordestinos, os quais viam, há muito, a

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decadência de sua produção. Apesar de o acordo também beneficiar o café, esse ponto era pouco importante, visto que o Brasil era o maior produtor e exportador mundial do produto, sendo, naquele momento, monopolista. O aumento da tarifa sobre o café brasileiro, acarretado pela tarifa McKingley, pouco impactaria as exportações brasileiras. Entretanto, para o açúcar, o cenário era o inverso. As exportações brasileiras desse produto para os Estados Unidos já não conseguiam fazer frente à competição com as colônias caribenhas espanholas. Com o estabelecimento da tarifa McKingley, as exportações brasileiras de açúcar sofreriam um baque ainda maior. Mendonça argumentava que além de isenção tarifária ao açúcar brasileiro, o que já estimularia a produção desse produto, os Estados Unidos teriam se comprometido a não fornecer reciprocidade igual para nenhum outro produtor açucareiro, o que ensejaria quase que um monopólio virtual sobre o mercado do açúcar nos Estados Unidos. Blaine teria dito que desejava ver a ruína de Cuba e Porto Rico, a fim de estimular sentimentos de revolta nessas localidades. Por essa razão, em telegrama de maio de 1891, Mendonça informava ao Ministro das Relações Exteriores, Justo Chermont, que “até hoje não há e nem é provável que haja acordo com a Espanha apesar do quanto diz a imprensa39”.
No entanto, após a assinatura do Tratado Blaine-Mendonça, os Estados Unidos realizaram acordos similares com a Espanha, a Grã-Bretanha e outros produtores de açúcar europeus. Salvador de Mendonça foi muito criticado por isso, afinal, afirmou que o Brasil teria exclusividade. De acordo com Topik40, o tratado com o Brasil foi “o primeiro passo por ser o mais fácil de garantir, dada a necessidade da República de apoio político e militar dos Estados Unidos”. O acordo com o Brasil teria sido apenas uma manobra para facilitar a abertura dos mercados cubano e europeus. Salvador de
Mendonça obviamente se sentiu enganado. Entretanto, Topik41 acredita que Blaine não mentiu para o representante brasileiro, levando em conta as evidências históricas, as quais, segundo o historiador americano, sugeririam que nunca houve qualquer insinuação séria por parte dos Estados Unidos de que qualquer país obteria o monopólio do mercado de açúcar naquele país. Levando também em conta que a produção brasileira não conseguiria suprir imediatamente toda a demanda americana por açúcar, o
Congresso dos Estados Unidos nunca teria considerado viável esse monopólio.
Salvador de Mendonça culpou, então, os diplomatas europeus e o Congresso brasileiro, os quais teriam levantado suspeitas de que o Brasil não seria capaz de fornecer açúcar o suficiente. Entretanto, brasileiros como Rui Barbosa, sentiram-se

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enganados, colocando a culpa em Mendonça. Ao saber que os Estados Unidos estavam negociando um tratado similar com a Espanha, Mendonça e Blaine, com a ajuda de
Charles Flint, teriam se empenhado em evitar que o Congresso brasileiro descobrisse esse fato. Coloca-se, então, a questão de o porquê Salvador de Mendonça teria enganado seu próprio governo.
Alguns críticos afirmavam que Mendonça visava a prejudicar a República.
Entretanto, tendo em vista toda a trajetória do ministro brasileiro no cenário republicano, a hipótese de afinidade monárquica não pode ser aceita. Um argumento mais plausível seria o fortalecimento das relações do Brasil com os Estados Unidos, mesmo em detrimento de um acordo pouco favorável ao seu país. Mendonça era um sincero admirador dos Estados Unidos e do pan-americanismo. Na opinião do próprio ministro, fora ele, e não o Barão do Rio Branco, quem plantara as “sementes de amizade com os Estados Unidos”, os quais gerariam os frutos que o Barão iria colher no século seguinte42. Isso é possivelmente revelado na seguinte passagem:
Semelhante passo (não assinar o acordo) causaria, estou certo, um rompimento de relações com este país, a retirada do ministro americano em
24 horas e uma guerra de tarifas, em que não temos senão a perder, além de vantagens comerciais hoje certas, a amizade do país que sempre nos tratou com respeito (MENDONÇA, apud TOPIK, 1996, p. 172-73).

Além desses dois argumentos, há ainda outro que propõe que Mendonça teria enganado o governo brasileiro em benefício próprio, em razão de seus vínculos comerciais com Charles Flint, quem muito lucraria com o acordo, compartilhando os lucros com Mendonça.
No entanto, é importante ressaltar que mesmo antes de saber sobre as negociações com a Espanha, o Congresso brasileiro já tinha se mostrado contrário ao acordo por diversas razões. Dentre elas, está o fato de que o acordo colocaria em risco o processo de modernização pela qual passava a produção açucareira no Brasil, visto que ele só diminuía as tarifas para o açúcar bruto, enquanto que o refinado continuaria protegido da competição estrangeira. Essa iniciativa, portanto, enfraqueceria a já fraca indústria nacional. Apesar de Salvador de Mendonça argumentar que o acordo traria mais ganhos para o Brasil do que para os Estados Unidos, o ministro estava pouco preocupado com a sorte da indústria nacional, já que ele acreditava que o Brasil levaria muitos anos para avançar nessa área. Contrariamente, o ministro Aristides Lobo afirmou que “tantos e tão maus os resultados deste tratamento para as indústrias nascentes do

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país, que parece inútil discutir a razão que se pode alegar e que justifique as causas desse tratado”43.
Antes da assinatura do acordo, Deodoro da Fonseca foi deposto e assumiu
Floriano Peixoto, quem sempre tinha se mostrado contrário ao acordo elaborado por
Mendonça. Por isso, esperava-se que o Marechal de Ferro fosse anular o tratado e renunciar a aliança informal com os Estados Unidos; entretanto isso não ocorreu. A situação de instabilidade ensejou que o novo presidente fortalecesse suas relações com o vizinho do norte. De acordo com Salvador de Mendonça, em seu artigo à imprensa americana intitulado “Latest Aspects of the Brazilian Rebellion”, o ministro plenipotenciário afirma que, na época da renúncia de Deodoro, “the revolutionists had on their side a large majority of the Congress, while the only dependence of the president was a minority of the army, little disposed to support the violator of the constitution.44”. No artigo, Mendonça afirma, com algum exagero, que o governo
Floriano foi o início de uma nova era, cheia de promessas para a consolidação da
República.
A fim de manter-se no poder, Floriano Peixoto aliou-se a oficiais subalternos politizados e militantes republicanos da classe média. Para Topik45, Floriano realizou uma política de governadores avant la lettre, tendo em vista que se aliou aos governos estaduais com o objetivo de neutralizar a oligarquia rural, aumentando sua liberdade de ação. Por essa razão, devido às alianças de Floriano Peixoto com grupos comprometidos com a industrialização do Brasil, seria de se esperar que ele fosse contrário ao Tratado
Blaine-Mendonça. Entretanto, não havia grande pressão interna por parte dos jacobinos para a anulação do acordo, devido à boa imagem que os Estados Unidos tinham perante esse grupo. Além disso, o jornal O Jacobino vinculava o pan-americanismo ao nacionalismo; os americanos precisariam se unir para proteger e instituir economias independentes. É necessário ressaltar que Floriano não era dado aos assuntos diplomáticos.
Topik46 assinala em seu livro que o Marechal de Ferro mantinha certa desconfiança em relação à diplomacia, além de ter-se negado a realizar acordos comerciais com países sul-americanos e europeus. Entretanto, apesar de contrário ao acordo Blaine-Mendonça, ele precisava do apoio americano devido à instabilidade ocasionada pela Revolta
Federalista e pela Revolta da Armada.

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Em Washington, Salvador de Mendonça continuou em suas funções como
Ministro Plenipotenciário, tendo o papel vital em negociar o apoio dos Estados Unidos à recém-nascida República brasileira. Nesse sentido, Mendonça solicitou uma declaração através dos canais diplomáticos às cortes da Europa, da adesão dos Estados Unidos aos princípios da Doutrina Monroe (...) e que qualquer interferência em apoio à restauração monárquica no Brasil seria interpretada como uma atuação incompatível com a manutenção da referida doutrina (Topik, op cit, p. 193, grifo nosso)

Em troca, o Brasil ofereceria sua adesão permanente ao tratado BlaineMendonça. A assinatura do acordo foi recebida favoravelmente nos Estados Unidos, e com alarme na Grã-Bretanha, visto que as exportações britânicas para o Brasil poderiam ser substituídas por produtos provenientes dos Estados Unidos. Entretanto, com a chegada do presidente Cleveland ao poder, o Tratado Blaine-Mendonça foi denunciado em agosto de 1894, com a imposição de tarifas de 40% sobre o açúcar brasileiro. A administração democrata compreendeu que o acordo pouco havia beneficiado os
Estados Unidos, visto que seus produtos não conseguiram vencer a concorrência europeia. Em realidade, enquanto as exportações estadunidenses permaneceram praticamente estagnadas, as brasileiras cresceram de 59 milhões de dólares em 1890 para 112 milhões em 1892, apesar de ter decrescido para 76, em 189347.
Em 1897, já no final do período de Salvador de Mendonça como Ministro
Plenipotenciário em Washington, os Estados Unidos tentaram um novo acordo comercial com o Brasil, devido ao retorno da administração republicana ao poder. A instituição de uma nova tarifa, a tarifa Dingley, em 1897, colocaria um ônus enorme sobre as exportações brasileiras de café e açúcar. Entretanto, nesse momento, Salvador de Mendonça mostra-se contrário à negociação de um novo acordo comercial, por acreditar que ele traria poucas vantagens ao Brasil. Isso demonstra, mais uma vez, que
Salvador de Mendonça apregoava uma aproximação pragmática com os Estados
Unidos. O ministro afirmou que “somos ameaçados com a imposição de direitos pesados sobre os nossos produtos de exportação, caso nos recusemos a celebrar novo convênio; mas, se o celebrarmos, a compensação que nos oferecem é quase ilusória”48.

4. A REVOLTA DA ARMADA E A INTERVENÇÃO AMERICANA
Em 1893, a Marinha de Guerra do Brasil, sob o comando de Custódio de Melo, revoltou-se e bloqueou o acesso à Baía de Guanabara, com o intuito de derrubar o

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governo de Floriano Peixoto. A revolta teria ocorrido devido à mudança de posição relativa da Marinha e do Exército com o advento da República, tendo este recebido a maior fatia do orçamento militar49. O Brasil temia a intervenção estrangeira europeia com o intuito de derrubar a República e reinstituir a monarquia. Para isso, o apoio dos
Estados Unidos, tanto politica como militarmente, foi essencial para que o governo
Floriano Peixoto não fosse derrubado. A participação de Salvador de Mendonça foi de importância fundamental para assegurar, nos Estados Unidos, que (i) o governo de
Floriano Peixoto era legítimo; que (ii) os revoltosos não recebessem status de beligerância; (iii) para a formação de uma esquadra para lutar contra a armada de
Custódio de Melo, a Esquadra Flint. A rebelião durou de setembro de 1893 a março de
1894.
Custódio de Melo acreditava que sua revolta terminaria prontamente com a resignação do poder pelo General Floriano Peixoto. Entretanto, Floriano recusou-se a sair do poder, levando a Revolta da Armada a durar cerca de seis meses. Muitos estudos recentes do episódio preferiram pautar-se na importância do papel diplomático e militar de potências estrangeiras, entre elas, os Estados Unidos. Steven Topik, em seu livro
“Comércio e canhoneiras: Brasil e Estados Unidos na Era dos Impérios (1889-1897)”, realiza esforço nesse sentido. Ele afirma que: “Rio was too important to be left to the
Brazilians (…) The Great Powers felt it was their duty and right do defend their commerce and citizens.” Entretanto, para Joseph Smith50, as potências estrangeiras nunca estiveram no controle dos eventos que ocorreram no Rio de Janeiro, e reagiam de maneira mais reativa do que proativa. Suas ações foram, para Smith, afetadas e restringidas pela atitude firme e inteligente da diplomacia de Floriano durante a revolta.
O autor ainda afirma que a importância desse fator foi largamente negligenciada pelos historiadores. Verifica-se, dessa maneira, a importância fundamental da diplomacia brasileira para a resolução do conflito que afligia o Rio de Janeiro em 1893. Salvador de
Mendonça, como Ministro Plenipotenciário nos Estados Unidos teve, por isso, papel extremamente essencial para a manutenção da soberania brasileira e perseguição de maior estabilidade política interna no Brasil. A diplomacia teria função ainda mais significativa se for levada em conta a relutância do presidente americano Cleveland de se envolver em disputas no exterior. Logo após o início da Revolta da Armada, Floriano
Peixoto convidou os corpos diplomáticos da França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália,
Portugal, Espanha e Estados Unidos para discutir medidas de salvaguardas ao comércio

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mercante51. O convite foi tomado pelas potências europeias como uma forma indireta de demonstrar que elas estavam do lado de Floriano, por isso, elas não aceitaram o convite de forma unânime. Em vez disso, as potências realizaram notas formais, que foram apresentadas para ambos os lados do conflito. Nelas, afirmava-se que os navios mercantes que tivesse bandeiras estrangeiras continuariam com seus negócios usuais na baía e seriam protegidos por seus respectivos navios de guerra nacionais.
Para Smith, apesar de as potências europeias e os Estados Unidos afirmarem neutralidade, essas notas constituiriam inferência externa na revolta, visto que elas claramente procuraram restringir as atividades militares de ambos os lados da disputa.
Elas teriam representado também uma infração direta à soberania brasileira, o que teria estimulado o ressentimento dos brasileiros em relação às nações estrangeiras. As potências ainda teriam requisitado que Floriano não fortalecesse as fortificações da cidade, o que foi obviamente ignorado pelo presidente brasileiro52. Outro importante instrumento da política de Floriano foi a dura censura à imprensa local, a qual era, de forma geral, hostil aos estrangeiros durante a revolta.
Durante o período de vigência da Revolta da Armada, teve início a Revolta
Federalista na região Sul do Brasil, em que se confrontaram os federalistas e os republicanos. Os revoltosos do Sul uniram-se a Custódio de Melo, a fim de tornarem suas causas mais poderosas. Para o Direito Internacional, os revoltosos da esquadra de
Melo eram piratas e deveriam ser tratados como tais por todas as nações. Entretanto, em outubro de 1894, um governo rebelde foi formado pelas forças federalistas no estado de
Santa Catarina, o qual requisitou reconhecimento diplomático das potências estrangeiras, a fim de auferirem status de beligerantes. Em seu estrito controle das informações, Floriano gerenciou de forma bem-sucedida o fluxo de informações, de forma que elas chegassem distorcidas a seu favor no exterior.
Outra estratégia midiática levada a cabo pelo governo Floriano foi aludir a possíveis motivações monarquistas por parte dos rebeldes, o que de fato nunca foram provadas de acordo com diversos historiadores53. Essa tática de afirmar intenções monarquistas por parte dos rebeldes pode ter sido derivada da afirmação prévia do antigo Secretário de Estado americano, Blaine, que havia afirmado para Salvador de
Mendonça, na época da renúncia de Deodoro da Fonseca, que os Estados Unidos iriam auxiliar a República brasileira caso os monarquistas tentassem restabelecer o poder

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.

Já naquele momento, Salvador de Mendonça telegrafou ao ministro Fernando Leite
Pereira, afirmando: “Quereis apoio deste Governo contra manejos restauradores; quereis

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nova mensagem ao Congresso americano ao nosso; quereis nota monroísta à Europa; quereis esquadra daqui para portos Brasil; ordenai, posso obtê-lo”55.

Floriano

respondeu que aguardaria o momento oportuno. Para Topik56, a rebelião ocorreu devido a motivações muito mais complexas, tendo em vista que havia monarquistas, republicanos, integrantes do exército e marinheiros que apoiavam os rebeldes, bem como havia os mesmos personagens no outro lado da contenda.
Apesar de as potências afirmarem-se como neutras, os comandantes dos navios de suas bandeiras não necessariamente o eram. Um fato nesse sentido foi a recepção do contra-almirante Stanton, dos Estados Unidos, a Mello, a bordo do navio Newark, apresentando-o ao ministro americano, antes mesmo de se reunir a Floriano. Para o presidente brasileiro, isso constituiria um reconhecimento implícito dos rebeldes e um insulto ao governo federal. Salvador de Mendonça prontamente narrou o incidente ao
Secretário de Estado norte-americano, Walter Gresham, o qual considerou um “erro estúpido” do almirante. O presidente Cleveland, ao saber do acontecimento, suspendeu temporariamente Stanton, que foi substituído pelo capitão Henry F. Picking, aconselhando-o a manter a neutralidade. No entanto, no final de 1893, Gresham tornouse mais frio com o ministro plenipotenciário brasileiro, visto que começou a desconfiar do governo Floriano além de acreditar em uma vitória dos rebeldes. Temiam apoiar o governo Floriano e sofrerem as mesmas consequências que vivenciaram no Chile.
Enquanto Floriano controlava o acesso à mídia e aos acontecimentos no Brasil, no exterior, principalmente nos Estados Unidos, Salvador de Mendonça tentou contrabalançar a imprensa americana a favor do presidente brasileiro. Em um cenário em que simpatizantes dos rebeldes em outras capitais, como Buenos Aires e Londres, iniciaram uma campanha de propaganda favorável à revolta no seio da sociedade norteamericana, o ministro plenipotenciário nos Estados Unidos foi essencial para assegurar a legitimidade do governo de Floriano Peixoto frente à opinião pública norte-americana, bem como para evitar que os Estados Unidos reconhecessem o status de beligerância dos revoltosos.
Tendo em vista que Mendonça estava nos Estados Unidos desde 1875, sendo uma figura popular e reconhecida nos círculos políticos dos Estados Unidos, o impacto de sua “diplomacia pessoal” foi enorme57. O ministro brasileiro reuniu-se diariamente com o Secretário de Estado americano após o início da revolta da armada; ele mandou diversas cartas para publicação em importantes jornais americanos, nas quais enfatizava os aspectos positivos do governo Floriano, enquanto previa o colapso inevitável da

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revolta. Em seus artigos, ele apelava para a preferência norte-americana à República, criticava a personalidade de Custódio de Melo (outrora seu amigo) e o governo rebelde de Santa Catarina, ao qual chamou de “governo do Robinson Crusoé”58. Um importante artigo nesse sentido foi o “Republicanism in Brazil” para o North American Review, uma importante publicação nos meios políticos norte-americanos. Nele, Salvador de
Mendonça traça um panorama da evolução do “republicanismo” no Brasil, citando a
Inconfidência Mineira, a Confederação do Equador, o Manifesto Republicano e o
Partido Republicano. Dessa maneira, verifica-se que a ideia de República consolidou-se gradualmente na sociedade brasileira.

Vale a pena citar alguns trechos do artigo

jornalístico do ministro plenipotenciário brasileiro nos Estados Unidos:
From the publication of the manifesto of the new party to the proclamation of the republic, on the 15th of November, 1889, the republican cause gained ground rapidly (…) What is done cannot be undone. If the step was taken hastily, it was at least in the right direction. The chief danger would be in looking backwards (…) Were the republic as bad as its worst enemies paint it, it would still be preferable to any monarchy that could be set up on its ruins. No restoration, however, is now possible in Brazil (…) The efforts to effect it would undoubtedly excite a civil war whose bitterness would be intense and duration indefinite, but whose result no republican can doubt.
(MENDONÇA, 1894a).

Verifica-se, dessa forma, que Salvador de Mendonça, por ser um republicano evolucionista, acreditava que a proclamação da República em 1889 foi um processo feito de forma muito rápida. Entretanto, é preferível manter esse estado de coisas a retornar à monarquia, visto que isso causaria uma guerra civil de duração indefinida e maiores danos ao Brasil do que a continuidade de uma República realizada às pressas.
Salvador de Mendonça tinha argumentos

políticos

convincentes

que

justificariam a não concessão do status de beligerância aos rebeldes pelos Estados
Unidos. Em reunião com Gresham, o ministro brasileiro argumentou que se os Estados
Unidos conferissem reconhecimento aos rebeldes, ele “viria a reconhecer que apenas caiu num laço armado arteiramente pelos ingleses59”. Para Mendonça, os ingleses sabiam com antecedência os movimentos que os rebeldes realizariam por estarem ajudando a manter o bloqueio. Por isso, a Grã-Bretanha esperava convencer os americanos a reconhecerem os revoltosos. Além disso, afirmou que os europeus esperavam restaurar a monarquia por meio da outorga do status de beligerantes aos rebeldes. Verifica-se, dessa forma, que os argumentos de Floriano Peixoto e de Salvador de Mendonça estavam alinhados e em perfeita consonância.
Apesar de potencialmente falsa e até hoje não comprovada, o argumento do retorno da monarquia pelos beligerantes teria sido fortalecida com o manifesto de

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Saldanha da Gama, em 9 de dezembro, o qual exigia um plebiscito nacional sobre a forma adequada de governo para o Brasil. Para Topik60, não se pode dizer que Gama tenha se declarado a favor da monarquia; posteriormente, ele afirmaria que estaria propondo um plebiscito quanto à forma que a República deveria assumir, presidencialista ou parlamentarista. Entretanto, com a forte censura do governo, o esclarecimento de Gama foi pouco difundido, principalmente à imprensa estrangeira.
Essa afirmação de Topik está em consonância com a de Smith61, o qual julga a importante função de Floriano em controlar a imprensa. Moniz Bandeira62 afirma que o pronunciamento a favor do retorno da monarquia teria levado os Estados Unidos a aumentarem sua esquadra na Baía de Guanabara, ao mesmo tempo em que os navios estrangeiros diminuíam. Já o argumento do apoio inglês aos revoltosos também é outro que, até os dias atuais, é objeto de controvérsia, tendo em vista que historiadores discordam dessa tese63. No entanto, as informações emitidas pela embaixada americana no Rio ao Secretário de Estado convenceu Gresham que os ingleses estariam realmente apoiando os rebeldes.
Nesse cenário, a justificativa legal fornecida pelos Estados Unidos para a não concessão do status de beligerância era o de que o controle de Desterro não constituiria território suficiente para justificar essa outorga, de acordo com o Direito Internacional da época. Entretanto, para Topik64, devido à sua experiência com guerras civis, os americanos recusavam-se a conceder o que era requisitado por rebeldes. Além disso, as boas relações entre os dois países teriam sido um fator muito mais importante na recusa do que a legislação internacional.
Devido a considerações econômicas (interesses comerciais), políticas e militares
(desejo de testar a nova Marinha), além do ressentimento quanto à atuação europeia no
Rio de Janeiro, Cleveland decidiu apoiar o governo de Floriano. A participação militar dos Estados Unidos na Revolta da Armada teria grande importância geopolítica, visto que teria conduzido a uma política expansionista americana, a fim de continuar o desenvolvendo a Nova Marinha, ocasionando a Guerra Hispano-Americana65. A participação da marinha dos Estados Unidos foi muito importante para assegurar a vitória de Floriano. A atenção internacional voltou-se à Baía de Guanabara, onde estaria se desenhando a primeira batalha naval importante em trinta anos, a qual seria a primeira a utilizar novas tecnologias navais66.
Quanto aos interesses econômicos, Moniz Bandeira67 ressalta que a decisão de apoiar Floriano abertamente só ocorreu quando Saldanha da Gama privou os Estados

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Unidos das rendas alfandegárias e do desembarque de mercadorias no porto do Rio de
Janeiro. Após essa decisão, Washington enviou o contra-almirante Benham para o
Brasil, com ordens para romper o bloqueio, como Salvador de Mendonça já havia sugerido. Em uma caracterização geral, os navios da esquadra dos Estados Unidos tinham muito mais poder de fogo do que os de Custódio de Melo, ou mesmo qualquer outra esquadra estrangeira. Devido a esse grande poderio, o almirante da esquadra,
Andrew Benham, adotou uma política agressiva, tentando romper o bloqueio da marinha brasileira revoltosa. De acordo com Joaquim Nabuco “... a presença de uma poderosa esquadra norte-americana, desproporcionada com a força efetiva das outras potências (...) dava corpo à ideia de que os Estados Unidos estavam decididos a intervir, no momento oportuno, em favor da legalidade.”68
Existe uma tese na historiografia, ainda não provada em razão dos documentos estarem codificados (o único momento totalmente codificado desse período, de acordo com Topik, é o dos comunicados entre Benham e o secretário da marinha, Herbert), de que o almirante Benham teria sido uma das razões mais fortes para que o presidente
Floriano convocasse eleições presidenciais. Contribui para essa tese a informação que
August Belmont, representante dos Rotschild, teria dado ao barão de Rotschild, de que
Washinton teria decidido que: (i) o Marechal Floriano seria mantido no poder até o fim do seu mandato; (ii) ele seria sucedido por um civil; (iii) a república seria mantida “a qualquer custo”69. Dessa maneira, talvez se possa falar que a Revolta da Armada contribuiu para a realização de eleições civis, enfraquecendo a ditadura jacobinista.
Apesar de toda a ajuda militar, econômica e estratégica dos Estados Unidos, o presidente Cleveland e o secretário de Estado Gresham sustentaram um discurso, voltado para a sociedade estadunidense, de que eram neutros.
Para Steven Topik, o episódio mais significativo e mais “bizarro” das relações entre Brasil e Estados Unidos, nesse período, teria sido a Esquadra Flint, comumente conhecida como “a esquadra de papelão”. Apesar de ter entrado para a história com essa designação, de acordo com Smith70, a esquadra Flint que chegou ao Rio de Janeiro em
1894 era muito superior a toda a esquadra rebelde em termos de poder de fogo. Ela era composta por doze navios, que foram reunidos nos Estados Unidos por Charles Flint. O mais bizarro do episódio talvez seja a grande influência dos interesses privados americanos sobre a política externa. Topik71 argumenta que teria sido mais pragmática a compra de navios europeus, mas as fortes relações diplomáticas entre Brasil e Estados

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Unidos e o receio quanto ao posicionamento das potências europeias no que se refere ao conflito, levou Floriano a voltar-se para o vizinho do Norte.
A Esquadra Flint pode ter sido o fator decisivo para a vitória do governo
Floriano e para a consolidação da amizade do Brasil com os Estados Unidos72. Nesse episódio, a participação de Salvador de Mendonça foi de grande relevo, levando em conta que, ao não conseguir comprar navios de outras nações, como a Argentina,
Floriano Peixoto pediu que Mendonça buscasse canhoneiras nos Estados Unidos.
Entretanto, o presidente norte-americano Cleveland não aceitou vender navios de guerra para o Brasil. O ministro plenipotenciário não se deu por vencido e continuou tentando reunir uma esquadra nos Estados Unidos, por meio da transformação de navios civis em embarcações de guerra. O almirante brasileiro J. Maurity era contrário a essa decisão, preferindo aguardar que dois cruzadores, que estavam em construção na França, ficassem prontos. Mendonça então argumentou que seria perda de tempo. No entanto, a história demonstrou que os dois cruzadores ficaram prontos antes mesmo da esquadra
Flint. Os verdadeiros motivos para que Salvador de Mendonça formasse uma esquadra nos Estados Unidos seriam os dividendos diplomático e publicitário de gastar uma alta soma de dinheiro73. Além disso, Mendonça teria dado mais atenção aos conselhos de
Charles Flint, seu amigo de longa data, do que a Maurity, visto que desconfiava que este fosse monarquista.
Flint também possuía uma vasta experiência em temas de navegação e venda de armas, visto que era dono de uma empresa de navegação e acionista na U.S. and Brazil
Mail Steamship Company. Após contrair empréstimos na Europa, Flint comprou diversos navios nos Estados Unidos, enfrentando críticas, juntamente com Salvador de
Mendonça, naquele país e no Brasil, sendo acusados de lucros em situação de guerra.
Muito se dizia que o ministro plenipotenciário brasileiro estaria ganhando uma grande soma de dinheiro por meio de Flint. Entretanto, de acordo com Carlos Süssekind de
Mendonça74e Steven Topik75, Mendonça teria desmentido todas as acusações, além de provar com documentos a falsidade dessas acusações.
A Esquadra Flint demorou vários meses para chegar ao Rio de Janeiro. As razões apontadas por Salvador de Mendonça foram as de que ocorreram muitas avarias e desordens, visto que os rebeldes teriam colocado agentes infiltrados entre a tripulação dos navios. Entretanto, de acordo com os marinheiros, a rebelião teria sido ocasionada pelo péssimo tratamento imposto pelos oficiais bem como pelos baixos soldos. Além disso, os navios teriam sido acometidos por falhas mecânicas. Após atingir a costa

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brasileira, a esquadra permaneceu em Recife até meados de fevereiro de 1894, com a justificativa de se realizar reparos emergenciais nos navios. Entretanto, a Esquadra Flint teria sido mandada para o Nordeste para evitar que os rebeldes do Sul tomassem aquela região76. Apesar das diversas críticas que rondam a Esquadra Flint, ela não foi algo cômico ou irrelevante. O navio Nictheroy, da esquadra Flint, era tão grande e mais rápido que o Aquibadan, navio mais moderno da Marinha brasileira. O principal papel da esquadra Flint foi impedir que os revoltosos da Armada conseguissem unir as forças com os federalistas do Sul. Entretanto, ela continuou a enfrentar diversos acidentes quanto ao maquinário e ao armamento. Quando finalmente alcançou a Baía de
Guanabara, em março de 1894, a revolta naval já havia se enfraquecido, devido à esquadra americana e às mortes de vários rebeldes.
É possível afirmar que o fim da Revolta da Armada influenciou significativamente o arrefecimento da Revolta Federalista no Sul. As forças federalistas estavam prontas para atacar São Paulo, porém retrocederam ao saber que a revolta naval tinha sido dominada pelas forças governistas e retornaram ao Rio Grande do Sul. Além disso, a Esquadra Flint também atuou no cenário do embate entre federalistas e republicanos, no Sul do Brasil. Após a situação no Rio de Janeiro ter sido controlada, ela rumou para Desterro, onde capturou o Aquibadan, principal navio dos rebeldes, que, entretanto, encontrava-se avariado. Ao descer a terra, as tropas do governo iniciaram uma campanha de terror, enfraquecendo ainda mais as forças federalistas.
Quando do retorno da Esquadra Flint ao Rio de Janeiro, Floriano afirmou: “coube à gloriosa marinha de guerra nacional, tão deslustrada por alguns de seus membros, dar o último golpe nesta revolta, tirando-lhe o mais poderoso elemento de ação de que dispunha”. Percebe-se, dessa maneira, que, apesar de a Esquadra Flint ter sido formada por navios estadunidenses, tripulação em grande parte americana, montada por um americano (Flint), Floriano não deu crédito nenhum a Flint ou outro norte-americano, a fim de estimular o orgulho nacional e o patriotismo. Apesar desse discurso, brasileiros importantes como Joaquim Nabuco77 e Eduardo Prado78 criticaram a ajuda americana, caracterizando-a como intervenção estrangeira e afronta à soberania nacional. Entretanto, é possível afirmar que o episódio da Esquadra Flint fortaleceu ainda mais as relações entre Brasil e Estados Unidos. A importância de Salvador de
Mendonça foi reconhecida pela imprensa norte-americana, como pode ser verificado

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nesse artigo do New York Times de 1895, o qual afirma que, durante a Revolta da
Armada, Mendonça foi: a careful guardian of the interests of the Government he had helped to stablish, and which he was most anxious should survive the first attempt to overturn it and restore the empire. His services here, at that time, were inestimable to Brazil. At critical moments his counsel was immensely valuable and helpful in guiding the Administration, and no opportunity to strengthen the hands of the Brazilian Government was neglected by its alert and capable representative (NEW YORK TIMES, 1895).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atuação brasileira no período considerado (1889-1898) é compreendida pela historiografia como a “diplomacia da consolidação”79. A atuação de Salvador de
Mendonça foi, dessa forma, essencial para a consolidação da República brasileira, ao se aproximar, de maneira muito pragmática, da nação mais poderosa das Américas, os
Estados Unidos. Apesar de muitos legarem ao Barão do Rio Branco a alcunha de
“americanista pragmático”, pode-se considerar que Salvador de Mendonça já havia realizado esforços de aproximação pragmática com os Estados Unidos, a fim de auferir os interesses nacionais brasileiros, como o reconhecimento do novo regime, o aumento do comércio exterior brasileiro (Acordo Blaine-Mendonça) e a garantia da estabilidade, da soberania e da não intervenção europeia no período da Revolta da Armada.
A continuação de Salvador de Mendonça como Ministro Plenipotenciário em
Washington mesmo após a Proclamação da República demonstra certa continuidade na relação entre os dois países. Este trabalho buscou demonstrar que a

atuação

desse

diplomata brasileiro foi vital para assegurar a estabilidade do novo regime, principalmente no que se refere ao reconhecimento internacional da República.
A atuação conjunta na I Conferência Interamericana demonstra, entretanto, que os Estados Unidos também se beneficiaram da aliança com o Brasil, pois a diplomacia brasileira, na figura de Mendonça, serviu como intermediário entre a potência do Norte e os países latino-americanos. Isso ensejou a aprovação do tratado que estabelecia o arbitramento obrigatório, bem como a abolição do direito à conquista entre as partes signatárias. Apesar de muito criticado, o Acordo Blaine-Mendonça fortaleceu, pelo menos temporariamente, as exportações brasileiras para os Estados Unidos. Ele também pode ter garantido a continuação das boas relações entre os dois países em um momento de grande instabilidade institucional brasileira. Salvador de Mendonça, um dos principais

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artífices do acordo, é até hoje criticado por ter negociado tal tratado, sendo, inclusive, acusado de ter ganhado vantagens econômicas por meio dele. Entretanto, é importante lembrar que, em 1898, ao estabelecer-se nova tarifa nos Estados Unidos, Mendonça foi contrário à negociação de um novo acordo comercial, por acreditar que o Brasil pouco ganharia com ele.
O trabalho de Mendonça também foi importante para garantir o apoio dos
Estados Unidos em momentos vitais, como no caso da Revolta da Armada. Sua atuação
- tanto no nível de governo, ao mediar as negociações entre os jacobinos e a administração Cleveland, quanto no nível público-privado, ao negociar, juntamente com
Flint, a consecução de uma esquadra a ser enviada para lutar contra as forças de
Custódio de Melo- foi de essencial importância para atingir os interesses nacionais brasileiros, bem como a estabilidade do governo de Floriano Peixoto. Salvador de
Mendonça agiu de maneira a influenciar a opinião pública americana, de forma a tornála mais favorável à causa legalista.
Em suma, verifica-se que apesar de Salvador de Mendonça não ter recebido tantas honrarias como o Barão do Rio Branco ou Joaquim Nabuco, ele foi importante agente diplomático na consecução dos interesses brasileiros, os quais estavam, àquela época, muito vinculados à estabilidade do novo regime republicano bem como a uma maior aproximação junto às nações americanas. Como representante brasileiro na maior potência americana, é inegável o importante papel que Mendonça teve ao longo de sua atuação nos Estados Unidos, tendo saído do cargo apenas em 1898, quando os civis já haviam voltado à direção do Estado e a República já se encontrava, em grande medida, estabilizada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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27

SMITH, Joseph. Brazilian Diplomacy and Foreign Intervention in the Brazilian Naval
Revolt, 1893-94. Revista Complutense de Historia de América, nº 26, pp 117-134. 2000
SOARES, Rodrigo Goyena. Esprit de Corps e politização das Forças Armadas após a
Guerra do Paraguai. Anais do XVI Encontro Regional de História da Anpuh-Rio: Saberes e práticas científicas. 2014.
TOPIK, Steven. Comércio e Canhoneiras: Brasil e Estados Unidos na Era dos Impérios
(1889-1897). Companhia das Letras. 2009.

NOTAS
1

SOARES, Rodrigo Goyena. Esprit de Corps e politização das Forças Armadas após a Guerra do
Paraguai. Anais do XVI Encontro Regional de História da Anpuh-Rio: Saberes e práticas científicas.
2014.
2
ALONSO, Ângela. Ideias em Movimento: a geração 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo. Paz e
Terra. 2002
3
CARVALHO. José Murilo de. Teatro de sombras: a política imperial. São Paulo: Edições Vértice,
1988.
4
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13ª edição. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 2009.
5
CARVALHO, Op cit.
6
ALONSO, Op cit.
7
TOPIK, 2009. Comércio e Canhoneiras: Brasil e Estados Unidos na Era dos Impérios (1889-1897).
Companhia das Letras. 2009.
8
Idem
9
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil. Rio de Janeiro. Civilização
Brasileira. 2007.
10
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Estados Unidos no Brasil: dois séculos de história. Civilização
Brasileira. 1973.
11
PEREIRA, Gabriel Terra. A Diplomacia da Americanização de Salvador de Mendonça (1889-1898).
Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual Paulista. Campus de Franca. Faculdade de História,
Direito e Serviço Social. 2009.
12
TOPIK, Steven. op. cit.
13
PEREIRA. op. cit.
14
AZEVEDO, José Afonso Mendonça. Vida e Obra de Salvador de Mendonça. Ministério das Relações
Exteriores. Divisão de Documentos. Seção de Publicações. 1971.
15
NEW YORK TIMES. Dr. Salvador de Mendonça- Distinguished Career of Brazil’s Envoy
Extraordinary and Minister Plenipotentiary to the United States. Washington. 1895.
16
TOPIK, op. cit.
17
BANDEIRA, 1973, op. cit.
18
TOPIK, op cit.
19
PEREIRA, op cit.
20
BUENO, Clodoaldo; CERVO, Amado Luiz. História da Política Exterior do Brasil. 2ª edição. Brasília.
Editora da Universidade de Brasília, 2002.
21
MENDONÇA apud AZEVEDO, 1971, p. 177. Grifo nosso
22
TOPIK, op. cit.
23
TOPIK, ibidem.
24
AZEVEDO, op cit.
25
TOPIK, op cit.
26
BRASIL, Ministério das Relações Exteriores, Relatório, 1888 a 1889. Disponível em: < http://www.crl.edu/brazil/ministerial/relaçoes_exteriores> 27
SANTOS, Luís Cláudio Villafañe. O Brasil entre a América e a Europa: o Império e o interamericanismo (do Congresso do Panamá à Conferência de Washington). São Paulo. Editora
UNESP, 2004.

28

28

SANTOS, Ibidem.
BANDEIRA, 1973, op cit.
30
TOPIK, op cit.
31
TOPIK, ibidem.
32
AZEVEDO, op cit.
33
CERVO E BUENO, op cit.
34
SANTOS, op cit.
35
SANTOS, ibidem.
36
BANDEIRA, 1973, op cit.
37
TOPIK, op cit.
38
Blaine realizou intervenção no Chile, a fim de manter o presidente Balmaceda no poder. Entretanto, os revolucionários foram vitoriosos, e demonstraram grande má vontade em relação aos americanos, devido ao apoio destes ao ex-presidente.
39
MENDONÇA apud BANDEIRA, 1973, op cit.
40
TOPIK, op cit.
41
TOPIK, op cit.
42
TOPIK, op cit.
43
LOBO apud BANDEIRA, 1973, op cit.
44
MENDONÇA, Salvador de. Latest Aspects of the Brazilian Rebellion. The North American Review
Volume 158 Issue 447. 1894B.
45
TOPIK, op cit.
46
TOPIK, op cit.
47
BANDEIRA, 1973, op cit.
48
MENDONÇA apud BANDEIRA, 1973, op. cit.
49
CARVALHO. As forças armadas na Primeira República: o poder desestabiizador. In : FAUSTO
(dir.). O Brasil republicano : sociedade e instituições (1889-1930). São Paulo : Difel, 1977. Tomo III, v.
2. (Col. História da Civilização Brasileira), pp. 183-234.
50
SMITH, Joseph. Brazilian Diplomacy and Foreign Intervention in the Brazilian Naval Revolt, 1893-94.
Revista Complutense de Historia de América, nº 26, pp 117-134. 2000
51
SMITH, ibidem.
BRASIL, Ministério das Relações Exteriores, Relatório, 1893 a 1894. Disponível em: < http://www.crl.edu/brazil/ministerial/relaçoes_exteriores >
52
Brasil, ibidem.
53
SMITH, op cit. TOPIK, op cit.
54
Em 1892, Blaine chamou Salvador de Mendonça e comunicou-lhe que as Cortes europeias conspiravam para restaurar a monarquia no Brasil. Os Estados Unidos não permitiriam que o golpe tivesse sucesso e se dispunham a usar todos os meios possíveis para defender a República
(BANDEIRA,1973, op cit).
55
MENDONÇA apud BANDEIRA, 1973, op. cit. p. 212. Grifo nosso
56
TOPIK, op cit.
57
SMITH, op. cit.
58
SMITH, ibidem
59
TOPIK, op. cit, p. 256
60
TOPIK, op. cit.
61
SMITH, op. cit.
62
BANDEIRA, 1973, op. cit.
63
TOPIK, op. cit, p. 258
64
TOPIK, op. cit.
65
TOPIK, op. cit.
66
TOPIK, op. cit.
67
BANDEIRA, 1973, op. cit.
68
NABUCO apud BANDEIRA, op cit.
69
BANDEIRA, idem.
70
SMITH, op. cit.
71
TOPIK, op. cit.
72
TOPIK, op. cit.
73
TOPIK, op. cit
74
MENDONÇA, Carlos Sussekind de. Salvador de Mendonça: democrata do Império e da
República. Rio de Janeiro, INL/MEC, 1960.
29

29

75

TOPIK, op cit.
TOPIK, op cit.
77
Joaquim Nabuco, em “A intervenção estrangeira durante a revolta”, afirma que o governo Floriano aumentou o perigo estrangeiro, abdicando temporariamente sua soberania, ao apelar pela ajuda dos
Estados Unidos.
78
Em seu livro “A Ilusão Americana”, de 1893, Eduardo Prado ataca os Estados Unidos, o que, no contexto da revolta da armada, quando Floriano buscava apoio americano, significava a contestação do regime republicano, o qual é o que mais protege os abusos do capitalismo.
79
PEREIRA, op. cit.
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