Sistema de Gestão Ambiental – Programa Carbono Neutro
- Natura Cosméticos S/A -

RESUMO:

A Natura é uma marca de origem brasileira presente em sete países da América Latina. No Brasil, a empresa é líder do mercado de cosméticos, fragrâncias, higiene pessoal e no setor de vendas diretas. Em seu comportamento empresarial, a Natura busca, alinhada com o modelo do Triple Botton Line, criar valor para a sociedade como um todo, gerando resultados integrados nas dimensões econômica, social e ambiental. Nesse sentido, dentro de sua política de desenvolvimento sustentável, a Natura lançou em 2007 o projeto Carbono Neutro – apresentado no presente trabalho – que objetiva reduzir as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEEs) e neutralizar o que não pode ser reduzido, por meio de projetos de compensação ambiental.

1. Introdução

A responsabilidade sócio-ambiental hoje é tratada por muitas empresas como um fator estratégico para o negócio e esta tem influenciado o desempenho econômico das organizações. Essa afirmação pode ser evidenciada pelo fato de que o Triple Bottom Line é a principal ferramenta do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo. Nessa conjuntura, pode-se constatar que as questões sócio-ambientais estão intimamente relacionadas a questões de competitividade empresarial e imagem frente aos stakeholders.

Frente a esta nova realidade de mercado e em consonância com seu compromisso com o desenvolvimento sustentável, a Natura engajou-se na questão da redução da emissão dos gases do efeito estufa (GEEs) e adotou o compromisso de neutralizar todas as emissões a partir de 2007. O projeto Carbono Neutro, alinhado com o modelo Triple Botton Line adotado pela Natura, possui o foco da Natura na redução das emissões de gases do efeito estufa (GEEs) e na compensação de tudo aquilo que não é possível reduzir de imediato, a partir da realização de projetos externos, dotados de benefícios socioambientais evidentes.

O projeto Carbono Neutro, alinhado com a perspectiva Econômica – Ambiental objetiva diminuir as emissões relativas em 33% no prazo de cinco anos. Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia adotada pela Natura para o desenvolvimento do projeto e os resultados obtidos com a implantação do mesmo.

2. Metodologia

A metodologia adota para o desenvolvimento deste trabalho deu-se através de pesquisa bibliográfica sob duas perspectivas principais: (1) entendimento e análise do Sistema de Gestão Ambiental adotado pela Natura e suas iniciativas e (2) bibliografia sobre as tendências de mercado relacionadas ao controle de emissões de carbono e o alinhamento desta tendência com o projeto Carbono Neutro, desenvolvido pela Natura, empresa foco deste estudo.

A partir do entendimento dos objetivos e método de pesquisa adotado, apresenta-se a seguir o conteúdo desenvolvido, resultado da metodologia adotada.

3. Sobre a Empresa

A Natura é uma empresa que atua no mercado de cosméticos, fragrâncias e higiene pessoal no Brasil, e de cosméticos em sete países da América Latina e na França. Seus produtos são inovadores, pois para produzi-los há uma mobilização das redes sociais por parte dos conhecimentos científicos e sabedoria das comunidades tradicionais, e o uso sustentável da biodiversidade tipicamente encontrada na flora brasileira. Dessa forma, a empresa busca criar valor para a sociedade como um todo, gerando resultados integrados nas dimensões econômica, social e ambiental – Triple Botton Line.

A companhia possui capital aberto desde 2004, com ações listadas no Novo Mercado, o mais alto nível de governança corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo. A empresa vem aumentando o seu marketshare nos últimos quatro anos e é hoje, líder no seu ramo de atuação no Brasil.

Além de ter uma sede em Cajamar, no estado de São Paulo, existem pólos operacionais, administrativos e comerciais em Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Distrito Federal. A distribuição dos produtos é realizada por meio da venda direta, com o envolvimento de consultores e estima-se ter mais de 5 mil colaboradores envolvidos diretamente com sua produção em todas as suas plantas.

A empresa busca o desenvolvimento sustentável e um bom relacionamento com a sociedade, apresentando uma política sócio-ambiental bem consolidada e diversos programas para a melhoria contínua de seus processos com o intuito de minimizar os impactos negativos causados ao meio ambiente.

4. Sistema de Gestão Ambiental

1. Sobre o SGA

O Sistema de Gestão Ambiental, de acordo com a NBR ISO 14001, é a parte de um sistema de gestão da organização voltada para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a sua Política Ambiental e gerenciar seus aspectos ambientais. Este Sistema deve ser integrado com os objetivos da organização, e deve ser compreendido por todos independente da função e do nível em que se encontram.

Figura 1: CICLO PDCA – Sistema de Gestão Ambiental

A Natura, em 2006, obteve a re-certificação segundo a NBR ISO14001, norma com base na qual ela mantém o Sistema de Gestão Ambiental Natura.

Através desse sistema a empresa estabelece o acompanhamento dos seus riscos ambientais, minimizando suas atividades potencialmente agressivas ao meio ambiente e disseminando para outras empresas as práticas e conhecimentos adquiridos na experiência da gestão ambiental.

2. Política Ambiental

A Natura pode ser classificada como uma empresa de grande porte e risco médio.

A Natura assume que uma empresa ambientalmente responsável deve gerenciar suas atividades de maneira a identificar os impactos sobre o meio ambiente, buscando minimizar aqueles que são negativos e amplificar os positivos. Deve, portanto, agir para a manutenção e melhoria das condições ambientais, minimizando ações próprias potencialmente agressivas ao meio ambiente e disseminando para outras empresas as práticas e conhecimentos adquiridos na experiência da gestão ambiental.

Ao assumir a política de meio ambiente como uma das três vertentes de seu compromisso com a sustentabilidade, a Natura visa também à ecoeficiência ao longo de sua cadeia de geração de valor; e, ao buscar a ecoeficiência, favorece a valorização da biodiversidade e de sua responsabilidade social.

A Política Ambiental da Natura contempla a responsabilidade para com as gerações futuras, a educação ambiental, o gerenciamento do impacto do meio ambiente e do ciclo de vida de produtos e serviços e a minimização de entradas e saídas de materiais.

Por ter como matéria-prima de quase todos os seus produtos, recursos naturais, a Natura assume a responsabilidade de estar sempre gerenciando o impacto de seus processos no meio ambiente, identificando seus riscos, e capacitando seus colaboradores e auditoria.

Em sua política ambiental ela também assume que inclui a questão ambiental em sua estrutura organizacional e no seu planejamento estratégico. Promove a educação ambiental como uma das diretrizes de sua política de meio ambiente e busca a ecoeficiência de sua cadeia de valor. Dentre os termos que devem conter uma PA pode-se dizer que a Natura atende a muitos desses compromissos, e isso é essencial para uma empresa que tem como imagem a natureza. Existem alguns compromissos que devem ser expostos em uma política ambiental, como a continua capacitação de pessoas, melhoria continua do desempenho ocupacional, eliminação, prevenção, redução ou controle de riscos, entre outros. Abaixo foram identificadas essas partes básicas que devem conter uma Política Ambiental:

• Filosofia: a Natura assume que uma empresa ambientalmente responsável deve gerenciar suas atividades de maneira a identificar os impactos sobre o meio ambiente, buscando minimizar aqueles que são negativos e amplificar os positivos;

• Comprometimento corporativo: trata a questão ambiental como tema transversal em sua estrutura organizacional e a inclui no planejamento estratégico;

• Melhoria contínua: promove a melhoria contínua dos processos em toda a cadeia produtiva;

• Comunicação com as partes interessadas: a Natura busca disseminar a cultura da responsabilidade ambiental, individual e coletiva, entre colaboradores, equipes de vendas, fornecedores, prestadores de serviços e consumidores;

• Monitoramento: a empresa possui processos para medir, monitorar e auditar os aspectos ambientais associados ao consumo de recursos naturais e à geração de resíduos, estabelecendo periodicamente novas metas.

3. Programas Desenvolvidos

4.3.1. Estação de Tratamento de Efluentes (ETE)

A empresa investiu 3 milhões de dólares na implantação da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) do Espaço Natura Cajamar, que utiliza uma tecnologia trazida do Canadá e única na América do Sul.

A ETE trata 230 mil litros de água por dia, o equivalente ao esgoto de uma cidade de 60 mil habitantes. Cerca de 50% desse volume de água tratada é reutilizada em jardins, sanitários e na reserva de combate a incêndios.

4.3.2. Sistema à Vácuo

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Figura 2: Sistema a Vácuo

O Sistema de Coleta de Esgoto à Vácuo é apropriado para lugares com alta concentração de público e/ou escassez de água, proporcionando a utilização de 2 litros de água/descarga, enquanto no sistema convencional são utilizados 20 litros/descarga.

Além disso, o sistema à vácuo permite melhorar as condições para operação da ETE e proporciona a instalação de sanitários em subsolos sem necessidade de bombeamento.

4.3.3. Projeto Coleta Certa

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Figura 3: Coleta Seletiva

Trata-se de um projeto de coleta seletiva lançado em Outubro de 2000 que vem sendo realizada com êxito na Natura.

|Volume total de resíduos por destinação |
|Descrição do Indicador |UNID. |2000 |2001 |2002 |2003 |
|% Incinerados |% |4,10% |5,94% |5,52% |6,40% |
|% Reutilizados |% |36,80% |22,24% |16,32% |17,60% |
|% Descarregados em aterro |% |4,40% |34,02% |31,91% |24,40% |
|% Reciclados |% |54,60% |37,80% |46,26% |51,60% |

Tabela 1: Volume total de resíduos por destinação

4.3.4. Consumo de Energia Elétrica

A Natura possui um sistema de controle do consumo de energia elétrica para não haver desperdícios, utilizando também iluminação solar nos estacionamentos.

Além disso, a empresa também possui sensores de presença pela fábrica, um sistema de otimização de ar condicionado, onde as paredes do estoque não são pintadas para diminuir o uso do mesmo e também possui alguns furos de vidro para que a iluminação externa seja usada durante o dia.

4.3.5. Programa de Certificação de Ativos (Matérias-Primas Vegetais)

Trata-se de um processo adotado pela Natura para assegurar o uso sustentável dos recursos naturais e a certificação de ativos obtidos por atividades de manejo, florestal ou agrícola, que tem como premissa a conservação da biodiversidade. O objetivo central está na certificação de ativos vegetais para garantir o fornecimento sustentável das espécies, considerando aspectos ambientais, sociais e econômicos.

O bom uso dos recursos vegetais em produtos da empresa é assegurado pelo selo de manejo florestal FSC (Forest Stewardship Council - Conselho de Manejo Florestal), pelo selo de manejo agrícola SAN (Sustainable Agriculture Network - Rede de Agricultura Sustentável) e pelos selos de agricultura orgânica IBD (Instituto Biodinâmico) e Ecocert. O processo de certificação favorece a conservação da agro biodiversidade ao atender a diretrizes ecológicas e sociais, estabelecendo uma relação de confiança com o consumidor final. Ativos presentes em produtos Natura:

- Jambu (com certificação orgânica); - Macela (com certificação orgânica); - Cupuaçu (com responsabilidade socioambiental); - Açaí (com responsabilidade socioambiental).

4.3.6. Programa de Desenvolvimento Sustentável – Comunidade

O foco está em promover o desenvolvimento sustentável nas áreas onde as comunidades fornecedoras vivem, visando reforçar aspectos sociais e ambientais locais que extrapolam a atividade comercial.

4.3.7. Programa Natura Cajamar – Oficinas Culturais

Projeto de cunho social lançado em 2000, voltado para crianças e adolescentes, cujo objetivo é promover a mobilização e organização da comunidade jovem de Cajamar, através de oficinas culturais (exemplo: oficinas de grafite, jardinagem e papel reciclado) para desenvolver potencial criativo e estimular a apropriação pública dos espaços para a convivência saudável e solidária.

4.3.8. Programa Carbono Neutro

Projeto cujo objetivo é reduzir e compensar a emissão de gases de efeito estufa em todas as etapas da cadeia produtiva da Natura.

Foi um dos passos mais importantes para o aprimoramento do desempenho ambiental da Natura.

4. Indicadores do GRI

As empresas que não monitoram um conjunto de indicadores de desempenho ambiental podem não estar gerenciando sua performance, tampouco a performance de seu SGA. Assim, para garantir o sucesso nos resultados visando uma maior competitividade, faz-se necessário que as empresas monitorem continuamente indicadores de desempenho ambiental. Diante da importância de tais indicadores para a implementação de um bom SGA e para a organização em si, a Natura foi a primeira companhia brasileira a adotar, na íntegra, os métodos de divulgação recomendados pela Global Reporting Initiative (GRI), uma organização criada por diversas instituições multilaterais para o desenvolvimento de um padrão comum global para a divulgação voluntária dos impactos econômico, social e ambiental das organizações.

A opção pelo modelo GRI tem se tornado crescente em todo o mundo, tendo em vista sua proposta de fazer com que haja um padrão internacional para a elaboração de relatórios. A uniformização por meio de um padrão único de elaboração é extremamente positiva, uma vez que possibilita uma maior e mais exata comparação entre diversas organizações nos diferentes contextos nos quais estão situadas.

A Empresa passou a utilizar este modelo para apresentar os resultados de seu negócio quando teve seu capital aberto, o que a permitiu apresentar ao mercado e às partes interessadas suas performances econômica, ambiental e social.

Foi desenvolvido um Sistema de Gestão de Responsabilidade Corporativa em que todos os indicadores de projetos e ações sócio-ambientais da empresa se integram à estrutura da GRI, tendo seus objetivos e metas reportados em seu Relatório Anual. Fazendo isso, a Natura teve como ganho a possibilidade de monitorar a gestão dos negócios de maneira integrada, de acordo com suas metas e sustentabilidade.

Em seguida estão explícitos alguns resultados da Natura ao longo dos últimos anos quanto aos indicadores do GRI:

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Grafico 1: Impacto Ambiental das Embalagens

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Gráfico 2: Materiais usados provenientes de Reciclagem

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Gráfico 3: Peso dos Resíduos

| |
|Consumo de Água |
| |2006 |2007 |2008 |
|Consumo de água nos Sites de Cajamar e Itapecerica|141.883 |114.694 |112.342 |
|da Serra (m3) | | | |
| | | | |
|Consumo de água em outros espaços Natura no Brasil|n.d. |2.757 |11.894 |
| | | | |
|Consumo total de água |141883 |117.451 |124.236 |
|Consumo de água por unidade faturada (L/unidade) |0,53 |0,42 |0,38 |
| | | | |
| | | | |
| | | | |
|Ativos Certificados | | | |
| |2006 |2007 |2008 |
|Total de Ativos Certificados (un) |22 |24 |26 |
|Porcentagem do total de espécies certificadas|63% |51% |54% |
| | | | |
| | | | |

Tabela 2: Ativos Certificados e Consumo de Água

5. Controle de Emissões de Carbono

As Mudanças Climáticas Globais representam um dos maiores desafios da humanidade. Crescentes emissões de Dióxido de Carbono (CO2) e outros gases como o metano (CH4) e o óxido nitroso (NO2) na atmosfera têm causado sérios problemas, como o efeito estufa. Devido à quantidade com que é emitido, o CO2 é o gás que mais contribui para o aquecimento global. Suas emissões representam aproximadamente 55% do total das emissões mundiais de gases do efeito estufa. O tempo de sua permanência na atmosfera é, no mínimo, de 100 anos. Isto significa que as emissões de hoje têm efeitos de longa duração, podendo resultar em impactos no regime climático, ao longo dos séculos.

Evidências científicas apontam que caso a concentração de CO2 continue crescendo, a temperatura média da terra vai aumentar entre 1,4 e 5,8 ° C até 2100. As conseqüências disso são:

Aumento no nível dos mares

Efeitos climáticos extremos - enchentes, tempestades, furacões e secas

Alterações na variabilidade de eventos hidrológicos - aumento do nível do mar, mudanças no regime das chuvas, avanço do mar sobre os rios, escassez de água potável

Desta forma, as alterações climáticas colocam em risco a vida na terra, representando uma ameaça à biodiversidade, à agricultura, à saúde e ao bem-estar da população humana.

Historicamente, os países industrializados têm sido responsáveis pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa. Contudo, na atualidade, vários países em desenvolvimento, entre eles China, Índia e Brasil, também se encontram entre os grandes emissores. Estima-se que, em 1998, o Brasil tinha emitido pelo menos 285 milhões de toneladas de carbono, das quais cerca de 85 milhões resultaram da queima de combustíveis fósseis (71% do uso de combustíveis líquidos, 15,6% da queima de carvão mineral e 4% de gás natural). A maior parte das emissões do Brasil (2/3) provém de atividades de uso da terra, tais como o desmatamento e as queimadas, o que, atualmente, representa 3% das emissões globais.

Na Convenção de Mudança Climática, que ocorreu em junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, as nações participantes se comprometeram a ratificar uma convenção a fim de criar mecanismos que diminuíssem as emissões dos gases causadores do efeito estufa. Estes mecanismos dizem respeito à capacidade de as fontes de energia emitirem baixos níveis dos gases causadores do efeito estufa, e também as alternativas para absorção de CO2, através dos projetos de seqüestro de carbono.

O conceito de seqüestro de carbono foi consagrado pela Conferência de Kyoto, em 1997, com a finalidade de conter e reverter o acúmulo de CO2 na atmosfera, visando a diminuição do efeito estufa. A conservação de estoques de carbono nos solos, florestas e outros tipos de vegetação, a preservação de florestas nativas, a implantação de florestas e sistemas agroflorestais e a recuperação de áreas degradadas são algumas ações que contribuem para a redução da concentração do CO2 na atmosfera.

No Protocolo de Kyoto foi estabelecido que os países desenvolvidos comprometeram-se formalmente a reduzir suas emissões de gases para atenuar o efeito estufa em 5% abaixo dos níveis de1990 com o objetivo para o período 2008 - 2012. Tal ação significa a redução de centenas de milhões de toneladas por ano, com um custo enorme para estas economias. Espera-se que estes países, por sua vez, repassem os comprometimentos aos seus respectivos setores industriais, através da criação de impostos sobre emissões de gases causadores do efeito estufa. Estes setores deverão encontrar alternativas de se adaptar aos novos custos de produção ou aos limites de emissões. O segundo ponto importante do protocolo é que será aceito o conceito de comercialização de créditos de seqüestro ou redução de gases causadores do efeito estufa. Sendo assim, os países ou empresas que reduzirem as emissões abaixo de suas metas poderão vender este crédito para outro país ou empresas que não atingiram o grau de redução esperado. Um terceiro ponto do acordo diz respeito aos métodos aceitos para realizar as reduções das emissões. Geralmente, os métodos preferidos por vários países são baseados em processos para melhoria da eficiência na utilização e na transmissão de energia, processos industriais e sistema de transporte. Outra alternativa é a substituição de combustíveis muito poluentes (carvão mineral ou diesel) por outros combustíveis menos ricos em carbono. O protocolo também considera a absorção de CO2 pela vegetação como um método para compensar as emissões, sendo um ponto interessante para países com aptidão florestal, pois também pode gerar outros recursos do setor florestal, trazendo conseqüências de ordem econômica, ambiental e social.

6. Projeto “Carbono Neutro”

As crises decorrentes das mudanças climáticas exigem uma mudança nos padrões de consumo e produção. Nessa perspectiva, o Projeto Carbono Neutro, lançado em 2007 é destinado a reduzir e compensar a emissão de gases de efeito estufa em todas as etapas da cadeia produtiva da empresa – desde a extração de matérias-primas e de materiais para embalagens, passando por processos internos e o transporte de produtos, até o seu descarte.

A grande inovação do projeto reside no fato de que a Natura se comprometeu com um plano completo, a partir do estabelecimento de três frentes de atuação, detalhadas a seguir - inventário, redução e compensação - que envolve toda sua cadeia produtiva.

Nessa abordagem, a meta estabelecida para o projeto é a redução da emissão relativa de 33%, entre 2007 e 2011, em relação ao total de 2006.

Frente ao fato de que não é possível reduzir todas as emissões da empresa, a Natura assumiu o compromisso de neutralizá-las. Para fazer a compensação das emissões de GEE geradas, a empresa desenvolve, a cada ano, projetos de compensação, em diferentes regiões do Brasil.

A seguir, apresentam-se, de forma detalhada, as três etapas do projeto Carbono Neutro e os resultados alcançados pelo mesmo.

1º PASSO: INVENTÁRIO

Um item de fundamental importância para colocar um projeto de redução e neutralização em operação é estabelecer, com a máxima precisão, o volume de emissões de gases do efeito estufa. O primeiro inventário da Natura foi realizado em 2006 e este é anualmente atualizado, de forma a acompanhar as tendências de crescimento ou diminuição das emissões. A Natura trabalha com um inventário de escopo ampliado, considerando as emissões de GEE desde a extração de matérias-primas e de materiais para embalagens, passando por processos internos e o transporte de produtos, até o seu descarte final. O Ciclo do Carbono da Natura, que detalha os níveis de emissão de cada etapa da cadeia produtiva, é apresentado a seguir.

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Figura 4: Ciclo do Carbono - Natura

O inventário é realizado com base nos padrões do Greenhouse Gas Protocol Initiative (GHG Protocol) e na Norma ABNT NBR ISO 14064-1, que estabelece princípios para a concepção, o desenvolvimento, a gestão e a elaboração de relatórios de empresas sobre os níveis de GEE.

A seguir são apresentados os resultados relativos às emissões de GEE dos 3 ciclos anuais da empresa, desde a concepção do projeto Carbono Neutro.

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Gráfico 4: Total de Emissões

|Emissões de CO2e por Atividade (toneladas) |
| |2006 |2007 |2008 |
|Extração de matérias-primas e materiais de embalagem |62.353 |65.837 |72.095 |
|Fornecedores diretos |14.967 |17.472 |17.120 |
|Energia adquirida |913 |910 |1.140 |
|Fontes móveis |2.993 |3.270 |3.395 |
|Transporte de produtos (até consumidor final) |23.975 |27.138 |30.946 |
|Descarte final do produto e embalagem |45.758 |41.106 |36.689 |
|Outros |21.802 |23.309 |26.336 |

Tabela 3: Total de Emissões por Atividade

Como se pode identificar no gráfico 1 e tabela 1, no ano de 2008, as emissões da Natura totalizaram 188.051 toneladas de CO2e (dióxido de carbono equivalente), um volume 5,03% maior que o de 2007, quando foram registradas 179.040 toneladas de CO2e. Essa mudança é fruto de uma revisão de dados de consumo, da inclusão de novos processos de emissão, do aprimoramento de metodologias de cálculo e da atualização de fatores de emissão com padrões internacionais.

2º PASSO: REDUÇÃO

A partir da identificação do volume de GEE, inicia-se a etapa principal do projeto – redução de emissões. As etapas do processo identificadas com potencial de redução de emissões são:

• Atividades de extração de matérias-primas;

• Extração de materiais de embalagem;

• Fornecedores diretos;

• Processos internos;

• Transporte de produtos;

• Descarte de produtos e de embalagens;

Entre as práticas já adotadas que contribuíram para a redução, estão: a utilização de álcool orgânico nas fórmulas, a redução de massa da Revista Natura, o incentivo ao transporte de produtos por via marítima, o uso de combustíveis renováveis, a otimização de embalagens e a ampliação do uso de materiais reciclados.

Até 2008, a empresa alcançou uma redução relativa de 9%, sendo 6% em 2007 e 3% em 2008, conforme destacado no gráfico a seguir.

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Gráfico 5: Emissões Relativas

3º PASSO: COMPENSAÇÃO

A terceira etapa do Projeto Carbono Neutro é a compensação de todas das emissões que não podem ser evitadas. Para isso, a Natura seleciona, através de editais públicos, projetos capazes de reduzir ou compensar totalmente o volume de CO2 emitido pelas operações da empresa.

Avaliação de Projetos

Para a avaliação dos projetos de compensação inscritos no edital, a Natura utiliza uma ferramenta guia para a seleção e qualificação. Os pontos mais relevantes do processo de seleção são: perfil socioambiental e potencial inovador da proposta. A avaliação é composta por quatro temas centrais (GEE, Social, Ambiental e Inovação), utiliza 17 critérios e é dividida em três filtros: críticos, mínimos e adicionais, conforme tabela a seguir.

|TEMAS |CRITÉRIOS CRÍTICOS |CRITÉRIOS MÍNIMOS |CRITÉRIOS ADICIONAIS |
|GEE |- Monitoramento |- Permanência |- Verificação e certificação de terceiros |
| |- Adicionalidade |- Fugas |- Conformidade com padrões reconhecidos |
| |- Documentação |- Dupla contagem |- Registro de redução de emissões |
| |- Concepção de Projeto | | |
|Social |- Aspectos legais |- Geração de renda local |- Fortalecimento das instituições locais |
|Ambiental |- Aspectos legais |- Biodiversidade | |
| |- Impactos ambientais | | |
|Inovação | | |- Inovação tecnológica |
| | | |- Práticas inovadoras |

Tabela 4: Critérios de Avaliação de Projetos

Portfólio de Projetos de Compensação

No ano de 2008, a Natura desenvolveu cinco projetos de compensação que, juntos, estão compensando 228 mil toneladas de CO2e para a empresa, um volume maior do que o total emitido pelas suas operações em 2008, 188.051 toneladas.

Os projetos são segmentados da seguinte forma: (1) desmatamento evitado, (2) projetos energéticos e (3) projetos florestais, distribuídos entre as regiões norte, sudeste e centro-oeste. A configuração geográfica dos projetos desenvolvidos é apresentada na figura 5 a seguir.

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Figura 5: Distribuição Geográfica do Projeto

De forma a complementar as informações da figura anterior, a tabela a seguir busca, de forma resumida, apresentar o escopo dos projetos desenvolvidos.

|Projeto: Carbono, Biodiversidade e Comunidade no Corredor Ecológico Pau Brasil |
|Execução |Instituto BioAtlântica (IBio) |
|Tipo |Restauração Florestal |
|Localização |Parque Nacional do Pau Brasil e Parque Nacional do Monte Pascoal (Porto Seguro, BA) |
|Quantidade de compensação |79.050 toneladas de CO2e |
|Descrição |O projeto tem como objetivo a promoção do reflorestamento para restabelecer um corredor de |
| |vegetação nativa que unirá dois importantes fragmentos protegidos de Mata Atlântica: o Parque |
| |Nacional do Pau Brasil e o Parque Nacional do Monte Pascoal, ambos no Estado da Bahia. O corredor |
| |promoverá o fluxo da biodiversidade nos fragmentos de Mata Atlântica localizados entre as duas |
| |unidades de conservação e em outros remanescentes florestais da região. |

|Projeto: Uso de Biomassa Renovável em Indústrias Cerâmicas |
|Execução |Consultoria Carbono Social |
|Tipo |Energético |
|Localização |Alagoas |
|Quantidade de compensação |60 mil toneladas de CO2e |
|Descrição |O projeto propõe alternativas sustentáveis para substituição da madeira por fontes renováveis em |
| |duas indústrias ceramistas localizadas no Estado de Alagoas. |

|Projeto: Carbono Socioambiental do Xingu |
|Execução |Instituto Socioambiental (ISA) e Instituto Centro de Vida (ICV) |
|Tipo |Florestal |
|Localização |Mato Grosso |
|Quantidade de compensação |40 mil toneladas de CO2e |
|Descrição |O projeto faz parte da campanha ‘Y Ikatu Xingu’, que se desenvolve desde 2004 na região das |
| |cabeceiras do Xingu, com o objetivo de promover a recuperação de Áreas de Preservação Permanente |
| |dos cursos d’água (APP) – matas ciliares e nascentes – degradadas, nos formadores do Rio Xingu, no|
| |Estado do Mato Grosso. o projeto prevê a remoção do carbono ao longo de um período de 30 anos, |
| |com a recuperação de 116 hectares de APPs (áreas de proteção permanentes) degradadas. |

|Projeto: Redução de Emissão de Gases de Efeito Estufa na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma |
|Execução |Fundação Amazonas Sustentável (FAS) |
|Tipo |Redução de desmatamento evitado |
|Localização |Amazonas |
|Quantidade de compensação |30 mil toneladas de CO2e |
|Descrição |O objetivo do projeto é conter o desmatamento e a conseqüente emissão de GEE em uma área, a Reserva|
| |de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Juma, que sofre forte pressão para o desmatamento, pelo |
| |interesse econômico em explorar seus recursos. |

|Projeto: Fogões Eficientes no Recôncavo Baiano |
|Execução |Consultoria Ambiental PV |
|Tipo |Energético |
|Localização |Bahia |
|Quantidade de compensação |18.880 toneladas de CO2e |
|Descrição |O objetivo do projeto é substituir o uso de fogões à lenha rudimentares por fogões eficientes. |

Tabela 5: Projetos Desenvolvidos

7. Conclusão

Este trabalho foi desenvolvido como trabalho final da disciplina Tópicos Especiais de Produção, ministrada no curso de Engenharia de Produção da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense e teve como objetivo apresentar a metodologia adotada pela Natura para se ter um melhor entendimento do Sistema de Gestão Ambiental na Indústria e programas ambientais desenvolvidos atualmente pela empresa.

Diante da análise dos temas abordados nesse texto, podemos perceber a grande preocupação que a Natura apresenta com o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social, preocupação esta que a empresa possui uma forte cultura organizacional e uma política sócio-ambiental consolidada. O programa Carbono Neutro é mais um dos muitos compromissos que Natura tem com o meio ambiente e a sociedade e é um fator essencial para uma empresa que tem como imagem a natureza.

A busca de programas de melhoria continua de seus processos e a minimização dos impactos negativos causados por estes a proporcionam um desempenho diferencial e um referencial para as indústrias brasileiras a ter como caso de sucesso.