UNIVERSIDADE ESTACIO DE SÁ

CAMPUS REBOUÇAS

GRADUAÇÃO EM CINEMA

Autor do trabalho
ILENE FALCÃO DE ARAUJO

Título do Trabalho
RASTROS DE ÓDIO

TRABALHO Nº 2 Análise de filme

Disciplina: Direção Cinematográfica Prof. Francesco Trotta

RIO DE JANEIRO Novembro/2010

SUMÁRIO

I – RESUMO DA HISTÓRIA DO FILME

II – CONTEXTO HISTÓRICO 2.1 – Da época em que se passa o filme 2.2 – Da época em que foi realizado o filme

III – ANÁLISE DA SEQUÊNCIA

3.1 – EM QUE ATO SE SITUA A SEQUÊNCIA

3.2 – CARACTERIZAÇÃO DA SEQUÊNCIA

3.3 – CENÁRIO

3.4 – ENQUADRAMENTOS E AÇÕES DOS PERSONAGENS

3.5 – MONTAGEM

3.6 – PROCEDIMENTOS TÉCNICOS

3.7 – CARACTERÍSTICAS VISUAIS DOS PERSONAGENS

3.8 – DIÁLOGOS

3.9 – PLANTA BAIXA DA SEQUÊNCIA

IV – BIBLIOGRAFIA

I – RESUMO DA HISTÓRIA DO FILME

Rastros de Ódio (1956) é um filme americano de gênero western, dirigido por John Ford e baseado no romance de Alan Le May. A história é sobre a busca realizada por Ethan Edwards que passa anos à procura de sua sobrinha Debbie, que fora sequestrada por índios Comanches ainda na infância. Em 1868, Ethan Edwards (John Wayne) retorna após três anos do final da Guerra Civil Americana na qual lutou como confederado, para a casa de seu irmão Aaron (Walter Coy) em uma região do deserto localizado ao norte do Texas. Pouco depois da chegada de Ethan, o gado pertencente ao vizinho Lars Jorgensen (John Qualen) é roubado, e o reverendo e capitão Samuel Clayton (Ward Bond) leva Ethan e um grupo de homens (os Texas Rangers) para seguir a trilha. Durante o percurso descobrem que o furto fora uma manobra dos índios Comanches a fim de deslocá-los para longe de suas famílias. Quando retornam, Ethan encontra a propriedade de seu irmão em chamas, além de encontrar o próprio, sua esposa Martha (Dorothy Jordan) e seu filho Ben (Robert Lyden) mortos. Como não encontram os corpos das outras duas filhas, Debbie (Lana Wood) e sua irmã mais velha Lucy (Pipa Scott), presume-se que elas foram sequestradas pelos Comanches. Depois do funeral, Ethan e o grupo saem no encalço dos Comanches. Quando chegam ao acampamento índio, Ethan recomenda um ataque, no qual a possibilidade de as duas meninas serem mortas é grande, mas o capitão Clayton insiste em espreitar os índios sem chamar a atenção. Quando os Rangers chegam ao acampamento, os Comanches já partiram, levando o grupo a continuar sua perseguição, porém, quase são emboscados em uma armadilha. Os Rangers conseguem contra-atacar, mas devido ao fato de estarem em número menor, Clayton decide retornar, deixando Ethan, Brad Jorgensen (Harry Carey, Jr), que é noivo de Lucy e o sobrinho adotivo de Ethan, Martin Pawley (Jeffrey Hunter) continuarem a busca. No entanto, Ethan encontra Lucy brutalmente assassinada e possivelmente violentada em um desfiladeiro perto do acampamento Comanche. Brad fica desesperado e sai cavalgando descontroladamente, e acaba morto pelos Comanches. Quando o inverno chega, Ethan e Martin voltam para o rancho dos Jorgensen, onde Martin é recebido com entusiasmo pela filha dos Jorgensen’s, Laurie (Vera Miles). Ethan encontra uma carta à sua espera de um homem chamado Futterman, que diz ter informações sobre Debbie. Na manhã seguinte Ethan sai sem Martin, mas Laurie fornece a este um cavalo a fim de ele alcançar Ehan. Quando encontram Futterman, Ethan e Martin descobrem que Debbie encontra-se sob o domínio de Scar (Henry Brandon), o chefe dos Comanches. Cerca de um ano mais tarde, Laurie recebe uma carta de Martin, na qual este descreve a jornada: Ethan mata Futterman por tentar roubar seu dinheiro, além de descobrirem parte da tribo de Scar morta por soldados. Ethan e Martin vão então para o Novo México, onde conhecem um mexicano que os leva até Scar. Eles encontram Debbie, agora uma adolescente (Natalie Wood), vivendo como uma das esposas de Scar. Quando ela se encontra com eles fora do acampamento, diz que se tornou uma Comanche e pede-lhes para irem embora sem ela. Ethan diz que prefere vê-la morta do que vê-la como índia e tenta matá-la, mas Martin a protege. Nesse momento, os Comanches atacam e Ethan é atingido por uma flecha envenenada. Ethan e Martin fogem e conseguem escapar, retornando em segurança para casa. Ethan e Martin chegam quando o casamento de Charlie (um antigo pretendente) e Laurie está prestes a começar. Depois de uma briga entre Martin e Charlie, o tenente Greenhill (Patrick Wayne) chega com a notícia de que um morador local tido como lunático, Mose Harper (Hank Worden), sabe onde está Scar, pois estivera refém dos índios por alguns dias. O capitão Clayton leva seus homens até o acampamento Comanche, e desta vez optam por um ataque direto. Durante o ataque, Martin mata Scar e Ethan escalpela o índio depois de morto. Quando Ethan vê Debbie, parte em sua perseguição, mas ao invés de matá-la, Ethan a leva para casa. Uma vez que Debbie está segura de volta às suas origens, Ethan vai embora, sozinho.

II – CONTEXTO HISTÓRICO

2.1 – DA ÉPOCA EM QUE SE PASSA O FILME

O filme se passa no ano de 1868, três anos após o fim da Guerra Civil Americana. Também chamada de Guerra de Secessão, consistiu na luta entre onze Estados Confederados do Sul latifundiário, aristocrata e defensor da escravidão, contra os Estados do Norte industrializado, onde a escravidão tinha um peso econômico bem menor do que no Sul. Estas diferenças estão entre as principais causas da guerra e têm origem ainda no período colonial: enquanto o desenvolvimento do Norte estava ligado à necessidade de crescimento do mercado interno e do estabelecimento de barreiras protecionistas, o crescimento Sulista era baseado precisamente no oposto, ou seja, o liberalismo econômico que abria todo o mundo às agro-exportações e com mão-de-obra escrava (de origem africana) como base da produção. Em 1861, ano do início da guerra, o país consistia em dezenove estados livres, onde a escravidão era proibida, e quinze estados onde a escravidão era permitida. Em 4 de março, antes que Lincoln assumisse o posto de presidente, onze estados escravagistas declararam secessão da União, e criaram um novo país, os Estados Confederados da América. A guerra começou quando forças confederadas atacaram o Fort Sumter, um posto militar americano na Carolina do Sul, em 12 de Abril de 1861, e terminaria somente em 28 de Junho de 1865, com a rendição das últimas tropas remanescentes da Confederação. Em 1864 já estava claro que a Confederação havia perdido a guerra. Suas forças gradualmente diminuíam, graças a baixas em batalhas e à conquista de território confederado por parte da União, assim diminuindo o número de recrutas. Além disso, equipamentos estavam em falta, e a maioria do sistema de transportes da Confederação ou havia passado ao controle da União (caso da bacia hidrográfica do Rio Mississippi e do Rio Tennessee) ou havia sido sabotado (ferrovias). Porém, os sulistas continuaram a resistir bravamente contra os ataques da União. As últimas tropas sulistas renderam-se em 28 de junho de 1865.

2.2 – DA ÉPOCA EM QUE O FILME FOI REALIZADO

Rastros de Ódio foi filmado entre julho e agosto de 1955 e lançado em 1956. O romance de Alan Le May foi adaptado para roteiro entre dezembro de 1954 e fevereiro de 1955 por Frank S. Nugent. A década de 50 é considerada uma época de transição entre o período de guerras da primeira metade do século XX para um período de revoluções comportamentais e tecnológicas. O mundo se recuperava da Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria se fortalece para uma acirrada competição entre os Estados Unidos e a União Soviética, cujo auge será no início dos anos 1960. Confrontos entre comunismo e capitalismo dominaram esta década. Tais conflitos incluem a Guerra da Coréia e o início da corrida espacial com o lançamento do Sputnik I. O Red Scare (“medo do comunismo”) foi o sentimento predominante nos Estados Unidos ao longo da década. Em 1956, o Presidente Dwight D. Eisenhower se reelege pelo Partido Republicano, vencendo pela segunda vez o candidato do Partido Democrata, Adlai Stevenson. A campanha eleitoral foi marcada pela enérgica entrada da televisão como veículo de propaganda eleitoral. Na mesma época em que o roteiro está sendo produzido, o movimento negro nos Estados Unidos começa a se solidificar, trazendo conquistas como crianças brancas e negras partilhando o mesmo ônibus escolar e escolas. O episódio do “Ônibus de Montgomery”, Alabama, ocorre em 1º de dezembro de 1955, quando Rosa Parks é presa ao se recusar a ceder seu lugar a um homem branco, tornando-se o estopim do movimento que foi denominado “Boicote aos Ônibus de Montgomery” e que posteriormente viria a marcar o início da luta antissegregacionista. A campanha de boicote aos ônibus durou 381 dias, co-liderada por Martin Luther King, e foi encerrada com a decisão da Suprema Corte Americana em tornar ilegal a discriminação racial em transporte público, em 13 de novembro de 1956. Martin Luther King ganha projeção nacional como ativista pelos direitos civis dos negros. O filme vai de encontro à política reacionária contrária à integração racial, sob a forma de um personagem psicologicamente perturbado e que é um fanático racista. O racismo entranhado no personagem de John Wayne em relação aos índios é tão intenso, que este prefere ver a sobrinha morta ao invés de viva e mulher de um Comanche, e possível matriz de filhos mestiços. O Código Hays ainda vigente na época se posicionava contra qualquer tipo de miscigenação e casamento interraciais; John Ford se vale de sua obra e faz um grande ataque ao racismo branco através deste filme.

III – ANÁLISE DA SEQUÊNCIA

Aaron Edwards pressente que os Comanches estão prestes a atacar seu rancho e apesar de impotente diante da tragédia que está para acontecer, tenta proteger sua família e preservar pelo menos a vida da filha caçula, orientando-a a se esconder entre os túmulos do pequeno cemitério que se localiza atrás da casa. O clima de tensão impera em toda a sequência, conferindo a atmosfera de desespero exigido pelo roteiro.

3.1 – EM QUE ATO SE SITUA A SEQUÊNCIA

A sequência escolhida se localiza no primeiro ato, entre 00:17:25 e 00:21:04, após a apresentação da maioria dos principais personagens do filme. Esta sequência é encarregada de introduzir o conflito principal da trama: a dizimação da família de Ethan Edwards e o sequestro de sua sobrinha Debbie pelos Comanches. A partir daí, Ethan inicia sua longa jornada em busca do paradeiro de sua sobrinha. Em seu início vemos Aaron Edwards inquieto diante da casa, intuindo que o ataque índio está iminente. Sua mulher, Martha, também percebe a intranquilidade do marido e tenta disfarçar o nervosismo a fim de que os filhos não fiquem preocupados, e os convoca a realizar as tarefas rotineiras daquele horário, como preparar a mesa para o jantar. Ethan e os vizinhos das redondezas que compõem os Rangers não estão por perto, pois foram averiguar um roubo de gado, que na realidade tratava-se de uma armadilha dos Comanches para deixar a família desguarnecida de proteção. Quando todos se dão conta, à exceção da pequena Debbie, de que a carnificina será inevitável, Aaron e Martha orientam a menina a se esconder entre os túmulos do cemitério da família, localizado atrás da casa. Apesar de conseguir se abrigar entre as lápides, o chefe Comanche Scar a encontra.

3.2 – CARACTERIZAÇÃO DA SEQUÊNCIA

A sequência tem duração de 3 minutos e 39 segundos e se passa em dois ambientes, o externo, onde vemos o campo, a frente da casa e o pequeno cemitério, e o interno, a sala da casa da família Edwards, que se alternam entre si. O período do dia é o entardecer, caracterizado através de uma belíssima arte de iluminação, e se estende até a noite. Os personagens da sequência são a família Edwards: Aaron, Martha, Lucy, Ben e Debbie, culminando com o surgimento do chefe Comanche Scar (Cicatriz).

3.3 – CENÁRIO

O cenário nesta sequência compreende dois ambientes:
( Externo: parte realizado em locações, como o campo que circunda o rancho da família Edwards (Monument Valley, locação por excelência dos westerns de John Ford), e parte realizado em estúdio, onde observamos com clareza o artificialismo que compõe determinadas cenas, que pode ser notado nas plantas, arbustos, pedras e iluminação.
( Interno: a sala da casa da família Edwards, onde vemos objetos de cena como uma mesa de jantar e cadeiras confeccionadas em madeira nobre, louça inglesa, um lampião, prateleiras de madeira acondicionando garrafas e potes, pequenos quadros pendurados nas paredes, além de utensílios de montaria, chapéu, coldre, um cantil de madeira no formato de um pequeno barril e um rifle acomodado sobre a soleira da porta principal. As paredes que limitam externamente a casa são feitas de tijolos, e as que dividem internamente a casa em cômodos, são feitas de madeira. As janelas são de madeira e têm cortinas. A janela por onde a menina escapa para se esconder tem uma parte interna somente em madeira e outra externa, com madeira e vidraça.

3.4 – ENQUADRAMENTOS E AÇÕES DOS PERSONAGENS

( 00:17:25 ( 00:17:36 – Plano Geral
Câmera posicionada de frente para a casa: Aaron sobe o alpendre da casa pela lateral esquerda do quadro, carregando dois baldes que em seguida apoia no chão, acompanhado pelo cachorro Chris; ouvem-se gritos parecidos com uivos ao longe.
( 00:17:37 ( 00:17:40 – Grande Plano Geral
POV de Aaron: o campo em frente à casa com revoada de pássaros.
( 00:17:41 ( 00:17:43 – Plano Próximo Médio
Câmera posicionada de frente para a casa: Cachorro latindo.
( 00:17:44 ( 00:17:53 – Plano Geral
Câmera posicionada de frente para a casa: Aaron no alpendre da casa se desloca à direita – travelling à direita.
( 00:17:54 ( 00:18:38 – Plano Geral
Câmera posicionada dentro da casa: sala – Martha caminha em direção à porta e a abre; Aaron entra e pega o rifle que está sobre a soleira da porta e o carrega, alegando que irá caçar algumas galinhas e sai novamente; Martha concorda e prepara a mesa para o jantar com a ajuda de Debbie; Lucy entra à direita do quadro com um lampião e Martha diz que ainda não é necessário acendê-lo; Martha se dirige novamente à porta.
( 00:18:39 ( 00:18:52 – Plano americano
Câmera posicionada dentro da casa: Martha na porta de entrada da casa observa o campo; Ben entra e diz à Martha que gostaria que Ethan estivesse presente.
( 00:18:53 ( 00:18:55 – Plano Geral
Câmera posicionada de frente para a casa: Aaron na frente da casa observa o campo.
( 00:18:56 ( 00:19:00 – Grande Plano Geral
POV de Aaron, mostrando o campo, onde se avista no meio dos arbustos um sinal luminoso feito por objeto semelhante a um espelho.
( 00:19:01 ( 00:19:05 – Plano Geral
Câmera posicionada de frente para casa: Aaron em frente à casa, observa o campo e em seguida se vira para a casa e olha para a soleira, onde estão Martha e Ben.
( 00:19:06 ( 00:19:14 – Plano americano
Câmera posicionada dentro da casa: Martha e Ben na porta de casa; pequena pan à direita que mostra Martha fechando a janela.
( 00:19:15 ( 00:19:18 – Plano Geral
Câmera posicionada em frente a casa: Aaron na frente da casa e em seguida corre para dentro dela.
( 00:19:19 ( 00:19:24 – Plano Geral
Câmera posicionada dentro da casa: sala – Aaron entra correndo na casa e tranca a porta; travelling à direita e surge Lucy carregando um lampião aceso e imediatamente é repreendida por Martha.
( 00:19:25 ( 00:19:30 – Plano Próximo Médio
Câmera posicionada dentro da casa: sala – Martha olha para Lucy e está se dá conta que o ataque índio é iminente; em seguida zoom fecha em close de Lucy gritando.
( 00:19:31 ( 00:19:35 – Plano Geral
Câmera posicionada dentro da casa: sala – Martha dá um tapa no rosto de Lucy a fim de fazê-la se acalmar; ao fundo Aaron tranca uma janela; Lucy chora e abraça Martha.
( 00:19:36 ( 00:19:40 – Plano Americano
Câmera posicionada dentro da casa: sala – Aaron destranca a janela para observar o campo.
( 00:19:41 ( 00:19:45 – Grande Plano Geral
POV de Aaron: campo, onde se observa poeira levantada no ar.

( 00:19:46 ( 00:19:50 – Plano Americano
Câmera posicionada dentro da casa: sala – Aaron observa o campo no peitoril da janela; Martha instrui Debbie a se esconder entre os túmulos do pequeno cemitério da família.
( 00:19:51 ( 00:20:02 – Plano Próximo Médio
Câmera posicionada dentro da casa: sala – Martha continua com as instruções a Debbie; voice off de Aaron falando para Martha se apressar.
( 00:20:03 ( 00:20:11 – Plano Americano
Câmera posicionada dentro da casa: sala – Aaron pega Debbie no colo e a apoia no peitoril da janela, esperando Martha pegar a boneca que a menina havia pedido.
( 00:20:12 ( 00:20:13 – Plano Americano
Câmera posicionada dentro da casa: sala – Ben e Lucy observam Martha buscar a boneca para Debbie.
( 00:20:14 ( 00:20:15 – Plano Americano
Câmera posicionada dentro da casa: sala – Martha surge correndo e entrega a boneca para Debbie.
( 00:20:16 ( 00:20:24 – Plano Próximo Médio
Câmera posicionada do lado de fora da casa, em frente à janela: Aaron atravessa Debbie pela janela; Martha se debruça no peitoril chorando; Aaron a puxa e fecha a janela.
( 00:20:25 ( 00:20:30 – Plano Geral
Câmera posicionada de frente para a lateral da casa, perfilada: o cachorro Chris escapa por uma fenda na parede e corre atrás de Debbie.
( 00:20:31 ( 00:20:44 – Plano Geral
No pequeno cemitério da família Debbie repreende o cão, mandando-o retornar e corre para se esconder.
( 00:20:45 ( 00:20:53 – Plano Próximo Médio
Debbie está abaixada na frente da lápide da avó e surge uma sombra sobre ela.
( 00:20:54 ( 00:21:04 – Close
Scar observa Debbie e em seguida toca um berrante.

FADE

Destacamos que a câmera está sempre em posição perfilada (para menos ou mais), à exceção dos planos gerais. 3.5 – MONTAGEM

Na sequência abordada, a narrativa é linear e cronológica. As transições entre os planos não se valem de nenhum efeito especial, como fades ou fusões, à exceção do último plano que se une à sequência seguinte através de um fade. A câmera está na maioria da duração da sequência quase sempre imóvel e os closes são reduzidos. Os planos descritivos e narrativos pontuam em sua sucessão. Com uma linguagem extremamente direta, Ford filmava pouco, a fim de que não sobrasse película filmada em excesso e com isso os produtores dessem ao filme um formato diferente de sua idéia original. Segundo André Bazin, uma das características do estilo fordiano mais evidentes é a montagem invisível, que Ismail Xavier denomina de “transparente”. Esta montagem implica em clareza e rapidez da narrativa, que, por conseguinte, proporciona um ilusionismo cinematográfico que oferece fácil entendimento ao espectador, fazendo com que este ignore que o filme foi montado, pois questões de ordens estética e técnica não poderiam “incomodar” o público. Nos filmes de John Ford, inclusive em Rastros de Ódio, observa-se uma estrutura binária na qual o diretor se vale da montagem até mesmo para expor a oposição entre duas forças antagônicas: a dos norte-americanos brancos e a dos índios.

3.6 – PROCEDIMENTOS TÉCNICOS

O filme foi realizado em VistaVision, que é uma técnica que permite um formato de filme com resolução mais alta. Foi criada por engenheiros da Paramount Pictures em 1954, que desenvolveram a idéia da fotografia widescreen plana, com a vantagem de poder usar lentes esféricas de altíssima resolução e capazes de uma profundidade de foco admirável. Para conseguir isso, foi preciso fazer uma mudança radical no processo de filmagem, de maneira a aproveitar o máximo de área fotográfica possível no filme 35 mm. Ficha técnica:
( Título no Brasil: Rastros de Ódio
( Título Original: The Searchers
( País de Origem: EUA
( Tempo de Duração: 118 minutos
( Ano de Lançamento: 1956
( Direção: John Ford
( Elenco principal: John Wayne, Jeffrey Hunter, Ward Bond, Vera Miles, Natalie Wood, Henry Brandon, Walter Coy, Dorothy Jordan, Pippa Scott.

3.7 – CARACTERÍSTICAS VISUAIS DOS PERSONAGENS

Aaron: homem branco, robusto, cabelos negros, aparentando estar na faixa dos quarenta anos. Suas vestes são típicas de um rancheiro do Texas do terço final do século XIX – calça de brim marrom, apropriada para serviços em fazenda, camisa com mangas longas cor de telha e colete caqui. Homem calado e de poucas falas, parece ter sido toda a vida subserviente ao irmão Ethan. Martha: mulher de Aaron, branca, cabelos castanhos e presos em um coque, aparentando estar na faixa dos quarenta anos. Apesar de morar em um rancho isolado, se veste com esmero, chegando a usar um camafeu junto ao seu vestido azul de mangas compridas e avental branco. Parece guardar uma paixão platônica pelo cunhado Ethan. Lucy: é a filha mais velha do casal Edwards. Está no final da adolescência, mas já tem um noivo, aprovado pela família. Branca, de cabelos ruivos, e assim como a mãe, se traja com capricho, mesmo morando em um rancho no meio de um deserto. Usa um vestido azul estampado com flores pequenas e de mangas compridas e um avental branco. Parece ser colaboradora quanto à educação de seus irmãos menores e bastante carinhosa. Apesar de não ver seu tio Ethan há bastante tempo, o reconhece de imediato quando o vê retornando ao rancho. Ben: é o único filho do sexo masculino do casal Edwards. Aparenta ter catorze anos, branco, de cabelos louros e tem altura compatível com sua idade. Traja-se de forma semelhante ao pai, com calças de brim escuro, camisa de mangas compridas azul claro e colete preto. Parece admirar mais seu tio Ethan do que o próprio pai. Debbie: é a caçula do casal Edwards, aparentando ter cerca de oito anos. É branca, cabelos castanhos presos em duas tranças com delicados laços vermelhos. Seu vestido é azul e seu avental de cor salmão é diferente do da mãe e da irmã, como se fosse um jaleco por cima do vestido. No momento da fuga em direção ao cemitério, usa um xale preto. Scar: chefe Comanche, também chamado de Cicatriz. Homem alto, atlético, cujas características físicas não são compatíveis com as de um índio americano. Seus olhos azuis e traços finos nos levam a deduzir que ele também é fruto da miscigenação entre branco e índio.

3.8 – DIÁLOGOS

00:17:44 – Aaron para o cão Chris: Quieto, garoto.
00:18:14 – Aaron para Martha: Vou tentar caçar algumas aves antes do jantar.
00:18:18 – Martha para Aaron: Faça isso, Aaron.
00:18:27 – Lucy para Martha: Mãe, os dias estão encurtando.
00:18:29 – Martha para Lucy: Não precisa acender ainda. Vamos apreciar o por do sol.
00:18:45 – Ben para Martha: Está tudo bem, mamãe, eu estava de vigia, mas...
00:18:48 – Martha para Ben: O que, Ben?
00:18:49 – Ben para Martha: Gostaria que Tio Ethan estivesse aqui. Não acha, mãe?
00:19:05 – Martha para Ben: Feche aquela janela, Ben, como um bom rapaz.
00:19:21 – Lucy para Martha: Ma... (e é interrompida com o grito de Martha)
00:19:22 – Martha para Lucy: Lucy!
00:19:30 – Lucy: grito desesperado de pavor.
00:19:45 – Martha para Debbie: Vamos fazer uma brincadeira. Lembra onde você se escondia com a vovó?
00:19:48 – Debbie para Martha: Onde ela está enterrada?
00:19:50 – Martha para Debbie: Rasteje até lá sem fazer barulho, como um...
00:19:54 – Debbie para Martha: Como um ratinho!
00:19:56 – Aaron para Martha: Depressa, Martha! A lua vai subir!
00:19:58 – Martha para Debbie: E não faça barulho nem volte, não importa o que ouvir! Promete?
00:20:04 – Debbie para Martha: Eu prometo.
00:20:06 – Debbie para Martha e Aaron: Esperem, eu quero minha boneca!
00:20:09 – Aaron para Debbie e Martha: Não temos tempo!
00:20:17 – Aaron para Debbie: Agora abaixe-se e corra!
00:20:17 – Martha para Debbie: Filha!
00:20:32 – Debbie para o cão Chris: Chris, volte! Volte, Chris! Volte! 3.9 – PLANTA BAIXA DA SEQUÊNCIA

A planta baixa da sequência compreende a casa da família Edwards e suas cercanias. A fim de que o desenho contivesse apenas informações necessárias, no interior da casa colocou-se apenas como objeto de cena a mesa, pois esta é essencial como ponto de referência no que tange à descrição de planos, movimentação de atores e posição de câmera.
Legenda:
( janelas – cor azul: xzc
( porta – cor verde: xzc
( greta no anexo da casa, por onde foge o cão Chris – cor amarela: xzc
( contorno dos limites da casa, alpendre e anexo – cor vermelha: xzc
( moldura da planta baixa – cor preta: xzc
( posição da câmera – seta cor cinza: A título de localização, estabelecemos dentro do esquema uma bússola com os pontos cardinais, que coincidem com a orientação do sol no filme. A janela localizada ao leste corresponde àquela por onde a personagem Debbie foge em direção ao cemitério. O campo que o personagem Aaron observa localiza-se em frente ao alpendre, no oeste. Abaixo há a associação dos planos que se enquadram em cada planta, de acordo com a ação de cada personagem:
Planta nº 1: Aaron
( Câmera (: 00:17:25 ( 00:17:36; 00:17:41 ( 00:17:43; 00:17:44 ( 00:17:53
( Câmera (: 00:17:54 ( 00:18:38
Planta nº 2: Martha
( Câmera (: 00:17:54 ( 00:18:38
Planta nº 3: Debbie e Lucy
( Câmera (: 00:17:54 ( 00:18:38
Planta nº 4: Ben e Martha
( Câmera (: 00:18:39 ( 00:18:52; 00:19:06 ( 00:19:14
Planta nº 5: Aaron, Martha e Debbie
( Câmera (: 00:19:01 ( 00:19:05; 00:19:15 ( 00:19:18;
( Câmera (: 00:19:19 ( 00:19:24; 00:19:31 ( 00:19:35;
( Câmera (: 00:19:36 ( 00:19:40; 00:19:46 ( 00:19:50; 00:19:51 ( 00:20:02; 00:20:03 ( 00:20:11; 00:20:14 ( 00:20:15;
( Câmera (: 00:20:16 ( 00:20:24
Planta nº 6: Debbie e Scar
( Câmera (: 00:20:31 ( 00:20:44
( Câmera (: 00:20:45 ( 00:20:53
( Câmera (: 00:20:54 ( 00:21:04

IV – BIBLIOGRAFIA

EYMAN, Scott; DUNCAN, Paul. John Ford, a filmografia completa. Colônia: Ed. Taschen, 2005. 192p.

GARDNIER, Ruy; LEVIS, Leonardo; MESQUITA, Raphael (orgs.). John Ford. Rio de Janeiro: Ed. Blum Filmes, 2010. 1ª Ed. 432p.

VIEIRA, João Luiz. (Re)vendo John Ford: autorismo e gênero em questão – Rio de Janeiro: CCBB, 2010. (Comunicação Oral).

SEARCHERS, THE. Dir. John Ford, Warner Bros. Pictures, 1956. DVD (119min), color.