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Trabalho Precario

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Submitted By luigi
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Luís Carvalho
Nº1002715
A precarização do trabalho será que é uma “doença” do séc. XXI? Ou não será o reflexo das políticas do século passado? Historicamente, no século passado, viveram-se épocas de grande desenvolvimento económico, que por sua vez proporcionou a grande parte da população do 1ºmundo, ter trabalho, ou seja, havia uma baixíssima taxa de desemprego. No entanto este trabalho em que condições era realizado? Após um ‘bum’ de produção fabril, nas mais diversas áreas, devido a genialidade de Henry Ford, que aplicando a teoria de Taylor (1856-1915), sistematizou, racionalizou e hierarquizou o sistema de produção industrial, trouxe consigo, por arrasto, um forte desenvolvimento da produção, e por sua vez da economia. Mas este trabalho muitas vezes era mal pago, para o operário, permitindo a este, apenas sobreviver com alguma dignidade, ou seja, grande parte desta população viveu no limiar da pobreza relativa. Claro que isto se verificou, enquanto existiu um escoamento de produto, e as novas tecnologias, não dominaram este processo. No final do século, e após a introdução do chip, da robotização, entramos numa era diferente, onde o número de pessoas necessárias para o processo produtivo, começou a ser menor e até em alguns casos, praticamente inexistente. Ora, com a introdução do computador, em todas as fases da nossa vida, desde o escritório, à indústria, até a nossa casa…virou o século… e com que nos deparamos? Com a precarização do trabalho, e em consequência deste, um decréscimo acentuado da qualidade de vida dos trabalhadores. Isto porquê? Porque ao contrário do século passado em que apesar de muitas vezes o trabalho ser mal pago, havia muito emprego. Neste momento, essa situação, alterou-se radicalmente, levando a que grande parte das pessoas, sejam obrigadas a aceitar qualquer trabalho, sem qualquer tipo de benefícios sociais, muitas vezes, apenas com contratos a termo certo, a recibos verdes, onde a exploração das capacidades do funcionário são bem evidentes. Nestas condições, a força dos sindicatos, é menor, o que por sua vez aumenta a força dos patrões, e /ou empregadores. Esta ‘nova forma’ de viver, trabalhar, encarar a vida profissional, está a ‘formatar’ a cabeça dos seres humanos, os quais têm muitas vezes que optar ou pela vida profissional, a chamada “carreira” profissional, ou pela vida familiar. Claro que isto só pode acontecer quando um dos com conjugues, tem capacidade financeira e estabilidade, para que esta situação decorra de forma normal, ou seja, que a vida familiar não seja interferida pela vida profissional, e vice-versa. Mas será que termos assim uma fatia tão numerosa de pessoas nesta situação? Provavelmente não, e com o que nos deparamos hoje, é cada vez mais com mulheres solteiras, ou divorciadas e com filhos, com alguma idade, onde para muitas vezes sobreviver, tem que depender de ajudas, ou ter mais que um emprego. É óbvio, que assim sendo, o tempo dispendido com os filhos é menor, a habitação onde residem poderá não ser a ideal para criar os filhos, a alimentação muitas vezes passa por não ser a mais fresca, recorrendo muito aos congelados (mais baratos, e normalmente preparados mais rápido). Por outro lado, a própria estabilidade emocional poderá não ser a melhor. Parece que nos dias de hoje, com a globalização, com as redes sociais, o correio electrónico, a tecnologia de ponta aplicada em todos os processos produtivos, está a deixar um “vazio” enorme, na vida das pessoas. As exigências para com os patrões, para com a família aumenta, assim como aumenta um dia-a-dia de consumismo, que trás conforto, mas também muita insatisfação a grande parte da população que não pode fazer uma coisa tão simples como tomar um café fora de casa, ou até usufruir de férias com a família uma vez por ano. Voltando a questão do trabalho precário, tema muito falado nos últimos tempos, tendo em conta a crise financeira mundial que estamos a atravessar, falemos um pouco do caso português. Estará Portugal a fazer tudo para nos libertar deste drama social? Ou estará somente a ir ‘a reboque’ do exemplo dos outros países, nomeadamente dos da Comunidade Europeia? Reparem, temos uma população pouco numerosa, apenas cerca de 10685000 pessoas, destas apenas cerca de 5500000 são população activa, se a este valor aplicarmos a percentagem de 10% de desempregados, estamos a falar de 550000 pessoas a viver à custa de outras pessoas, família ou de ajudas do estado. Por outro lado, temos uma grande parte da população a envelhecer, o que obriga, a mais investimento por parte do estado para reformas, gastos com saúde, entre outros. Para puder suportar esta situação, é necessário aumentar impostos, o que por sua vez, vai deixar os portugueses com menos dinheiro no bolso. Menos dinheiro para gastar, menos investimento, menos empresas a conseguir suportar os encargos, por sua vez, criam mais desemprego. Onde vamos parar? Não será isto uma ‘bola de neve’, que está a deteriorar o que de bom se conseguiu no final do século passado, em termos de políticas sociais? Ainda esta semana, uma série de jornais portugueses abordaram este tema, trabalho precário, desemprego, vejamos o que referiu o Professor Luís Bento, da Universidade Católica de Lisboa, que nos diz que a três razoes para a precariedade em Portugal são “em primeiro lugar, a redução (formal) de custos com o pessoal, eliminando encargos fixos e fazendo-os transitar para custos variáveis, através do trabalho temporário. Este passa facturas de prestação de serviços que não vão a custos com pessoal. Em segundo lugar, o crescimento da sazonalidade em muitas actividades (turismo, call-center´s, merchandising).” Por último, aponta “a obtenção de maior flexibilidade laboral por parte das empresas, obtida através do trabalho temporário, actividade sem regulação durante muito tempo, tendo permitido muitos abusos”. Claro que quando, ouvimos estas opiniões, pensamos na população e nas empresas em geral. Agora vejamos, as empresas de estado, não serão o exemplo de tudo aquilo que não deve ser feito em questões de precariedade? Pensem no vosso grupo de amigos, não conhecem pelo menos um, que trabalhe para uma empresa do estado, e que está há vários anos a contratos sucessivos de 6 meses, e que ao fim de 3 contratos consecutivos, são enviados para o desemprego e passados 15 dias os vão buscar para trabalhar novamente? É este o estado “protector” dos interesses das empresas, e com desrespeito pelas pessoas que queremos? Deixo isto ao pensamento de cada um. No entanto, comparando Portugal com os restantes países da União Europeia, Portugal tem ¼ dos trabalhadores com contratos a prazo, só sendo ultrapassado pela Espanha nesta forma de contratação. Como pode um país se desenvolver, com condições deste género, onde as pessoas não são valorizadas, pois são meros ‘peões’ no jogo do dinheiro e do grande capitalismo, tal como defendia Marx, onde os trabalhadores apenas eram pagos para que estes pudessem sobreviver, e não pagos realmente pelo valor do seu trabalho. Neste aspecto, as evoluções foram significativas, pois em diversas áreas de negócio, a renumeração fixa, passou a ser mais baixa, mas em compensação a parte variável, normalmente designadas de ‘prémios de produtividade, são cada vez prática mais frequente, de forma a estimular o trabalhador a dar mais de si. Mas até neste sistema, é necessário que o mesmo seja justo e que os objectivos impostos sejam difíceis mas exequíveis, pois se tal não acontecer, pode desmotivar e até frustrar o trabalhador. Quem são os mais afectados pelo trabalho precário? Os jovens. Em 2009 em Portugal, a taxa de desemprego entre os jovens, situava-se nos 19,2%, o dobro da percentagem de desemprego total. Essa mesma camada, é também das mais qualificadas academicamente, jovens na grande parte , licenciados que não conseguem entrar no mercado do trabalho, que vêem o seu futuro comprometido, pois estabilidade não faz parte do seu vocabulário. Mas o que anseiam estes jovens? Não o mesmo que os pais deles, ou os avós? Puder sentir-se úteis para a sociedade, construir algo, uma casa, uma família, uma carreira profissional onde lhes sejam reconhecidas as competências, e onde o fruto do seu trabalho seja reconhecido de forma justa, isenta e que lhe permitam viver sem receios, sem medos. Medo de perder o emprego, medo de não ter dinheiro para satisfazer as suas necessidades ou as dos seus mais próximo? Este trabalho precário que faz com que o stress, a ansiedade faça parte da nossa rotina diária, o que nos leva a ter pensamentos constantes e penosos, tais como” o que vou fazer quando acabar este contrato? Será que vou arranjar outro trabalho? Quando vou conseguir estabilidade?”. Estas e outras perguntas são cada vez mais frequentes entre a população activa. Não seria importante, esta mesma população, estes jovens licenciados, precários, passarem a ter uma vida política mais activa? É importante, travar este drama, as politicas governamentais actuais, não são mais do que meras “ilusões ópticas”, em que passa o discurso de “vamos combater a precariedade”, mas o que se faz não é mais do que alterar regras, mas onde os resultados não são visíveis, e muitas vezes até são contraproducentes. Em conclusão, o trabalho flexível que tem vindo a ser introduzido nos últimos anos, em prol da competitividade, satisfaz uma parte dos trabalhadores, nomeadamente aqueles que estão nos quadros das empresas pois conseguem muitas vezes satisfazer as suas necessidades em termos de horários de trabalho, no entanto, também é uma forma de as empresas, satisfazerem as suas necessidades explorando os trabalhadores que não se encontram neste situação, pois estes, sem reivindicação alguma, trabalham a qualquer hora, qualquer dia, em quaisquer condições, para terem acesso a um salário, não renumerado pelo real trabalho que é desenvolvido, mas sim por tabelas salariais obsoletas, e desenquadradas com as verdadeiras necessidades que qualquer humano tem que ter para viver com dignidade. È verdade que não temos todos, que ter mansões, nem carros de luxo, nem iates, mas não deveríamos todos ter um lar, electricidade, agua, luz, um meio de deslocação quando necessário, acesso a bens de consumo alimentar frescos e chegar ao fim do mês sem contar os “tostões”? Não é no fundo, este o grande objectivo que quem entra, ou quer entrar no mercado de trabalho? Não viver sufocado, em contas, anseios, pressões, ter uma voz presente e fazer parte de uma comunidade justa, honesta e transparente? Onde a as pessoas, são pessoas, e não números para empresas, ou para o estado, que tem como função básica proteger os interesses das população em geral, mas que muitas vezes “esquece-se” das suas funções, olhando e protegendo mais os interesses das grandes empresas, mais do que quem trabalha nelas. Vejamos, estudemos sociologicamente o impacto das próximas medidas, previstas serem alteradas no código de trabalho para breve, para perceber se alguma coisa vai mudar, e se mudar, se esta mudança é para melhor. Para combater verdadeiramente esta crise de confiança, crise no trabalho, crise na oferta de oportunidades para os jovens de este país, que fazem parte da geração pós-industrial, da economia do conhecimento. Não é esta economia assente na inovação, nas ideias? Quem melhor do que os jovens licenciados para ajudarem a criar novas formas de trabalho, novas formas de ajudar a retomar a economia? Para isso é necessário que estes tenham condições para que tal aconteça, é necessário criar oportunidades de estes mostrarem o que valem, e que estudaram, muitas vezes, até com varias especializações, não porque precisam de estudar, mas porque sabem que quanto mais conhecimento adquirirem, mais valiosos estes se podem tornar para as empresas e maior a possibilidade de serem bem renumerados. Quando iremos parar este fosso enorme, que separa os ricos dos pobres? Será que os 2% da população mais rica, que albergam quase metade da riqueza mundial, sabem o que é trabalho precário? Não poderiam estes “ajudar” a alterar o rumo dos acontecimentos? Distribuir não o dinheiro deles, mas com este, criar mecanismos próprios para o desenvolvimento de trabalho. Voltemos a trabalhar na agricultura, na pesca, na criação de gado, de leite, de vinho. Inovemos nestas áreas. E quando digo inovar, não é utilizar um tractor mais potente, ou um arado especial para prescindir das pessoas, mas sim o oposto, prescindamos de alguns “gadjets”, em prol da criação de emprego. Hoje em dia, a comunidade europeia preocupa-se mais com as cotas de pescas, de produção de leite, mas não se preocupa com o pescador que fica em casa, não por não ter peixe para pescar, mas porque não o pode pescar. E quando o pode pescar, o vende baratíssimo a grandes máquinas de fazer dinheiro que são os hipermercados, os distribuidores, que têm em muitos casos margens de lucro escandalosas. Não é esta também uma forma de precariedade? Precariedade de pensamento, um abuso da necessidade que as pessoas têm de receber algum dinheiro para por um prato de comida na mesa. Não teremos que pedir aos nossos representantes políticos para experimentarem viver 6 meses com o ordenado mínimo nacional, e terem que pagar renda de casa, contribuições, impostos, comida, roupa, transportes para que estes percebam de uma vez por todas, as necessidades que os trabalhadores passam, e tomem de uma vez por todas, medidas sérias, objectivas e com verdadeiro impacto positivo na vida das pessoas, de forma a acabar com a precariedade laboral?

Bibliografia:
Anthony Giddens, Sociologia, 7ªedição, Fundação Calouste Gulbenkian www.por7gal.pt http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1030224 http://economico.sapo.pt/noticias/governo-nao-afasta-mais-medidas-contra-trabalho-precario_96253.html http://resistir.info/varios/distr_riqueza_p.html
http://diariodigital.sapo.pt/dinheiro_digital/news.asp?section_id=2&id_news=149214

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