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Trabalho Aplicativo Setorial Da Construção Cvil

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TRABALHO APLICATIVO Investigação sobre a Estrutura Industrial e Seu Impacto no Posicionamento das Maiores Empresas do Setor

Setor da Construção Civil
Certificate in Business Administration – CBA44 Prof. Daniel Motta
Ana Gomes Bruno Marques Érica Pontes Filipe Makarausky Guilherme Gomes Silvio Paiva Tiago Jans

São Paulo, 20 de Março de 2011

Trabalho apresentado ao curso de CBA, como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialização em Administração de Empresas do Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa.

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Índice
Introdução ..................................................................................................................................................... 5 1. 1.1. 1.2. 1.2.1. 1.2.2. 1.3. 2. 2.1. 2.1.1. 2.1.2. 2.1.3. 2.1.4. 2.1.5. 3. 3.1. 3.2. 4. 4.1. 4.2. 4.3. 4.3.1. 4.3.2. 4.4. 4.5. 4.5.1. 4.5.2. 4.5.3. Panorama da Construção Civil ............................................................................................................. 6 Relevância Social ............................................................................................................................ 8 Influência Governamental ................................................................................................................ 9 Programa Minha Casa Minha Vida ................................................................................................ 10 Programa de Aceleração do Crescimento ..................................................................................... 11 Influência Política ........................................................................................................................... 11 Análise de Forças Competitivas de Porter ......................................................................................... 12 As Forças de Porter na Construção Civil ....................................................................................... 13 Poder de Barganha dos Clientes ............................................................................................... 13 Poder de Barganha de Fornecedores ....................................................................................... 14 Rivalidade Interna ..................................................................................................................... 16 Pressão de Produtos Substitutos .............................................................................................. 17 Ameaça de Novos Entrantes ..................................................................................................... 17

Apresentação das Empresas ............................................................................................................. 19 MRV Engenharia e Participações S.A. .......................................................................................... 19 Rossi Residencial S.A.................................................................................................................... 20 Análise Econômica Financeira ........................................................................................................... 22 Análise Macroeconômica ............................................................................................................... 22 Mercado Externo ........................................................................................................................... 23 Crise do SubPrime ......................................................................................................................... 25 A Origem ................................................................................................................................... 25 Os Efeitos no Brasil ................................................................................................................... 25 O futuro do mercado imobiliário ..................................................................................................... 26 Análise Econômica Financeira das Empresas Estudadas ............................................................. 27 Receita Líquida ......................................................................................................................... 27 Lucro Bruto e Margem Bruta ..................................................................................................... 28 EBITDA e Margem EBITDA ...................................................................................................... 29

.................................................................................................................................................................... 30 4.5.4. 4.5.5. 4.5.6. 4.6. Alavancagem ............................................................................................................................. 30 Lucro Líquido e Margem Líquida ............................................................................................... 32 ROE (Return on Equity):............................................................................................................ 33 Análise FOFA ................................................................................................................................ 33

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4.6.1. 4.6.2. 4.6.3. 5. 6.

Análise FOFA do Setor da Construção Civil.............................................................................. 35 Análise FOFA da MRV .............................................................................................................. 36 Análise FOFA da Rossi ............................................................................................................. 37

Conclusão .......................................................................................................................................... 38 Referências Bibliográficas .................................................................................................................. 40

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Introdução
Pretende-se, com o presente trabalho, desenvolver um estudo detalhado e atualizado sobre a estrutura industrial da Construção Civil no mercado nacional. Para isso, selecionamos duas das maiores empresas do setor, com o objetivo de compreender a dinâmica desse segmento econômico, suas forças competitivas e vulnerabilidades. Uma vez que o setor da Construção Civil é extremamente amplo, abrangendo diferentes segmentos, optamos por restringir nossa análise ao mercado imobiliário, focando nosso estudo em moradias denominadas economias e supereconômicas. Devemos ressaltar que essa restrição é de extrema importância para a qualidade da análise, visto que por mais que abrangidos sob um único setor econômico, os segmentos são bastante distintos, existindo grande disparidade, por exemplo, entre obras de infraestrutura e o segmento voltado para o mercado imobiliário. Assim, as duas empresas selecionadas para o presente estudo, serão a MRV Engenharia e Participações S.A. (“MRV”) e a Rossi Residencial S.A. (“Rossi”). Tal escolha se justifica pelo fato de ambas serem referência de excelência operacional nos mercados que atuam e deterem posição de destaque na lista das maiores empresas atuantes no mercado imobiliário brasileiro. Mais que isso, as duas companhias são concorrentes diretas, atuando com enfoque no segmento de baixa e média renda, mercado objeto da presente análise. Com base nas duas empresas selecionadas, traçaremos um estudo macro e microeconômico do setor, bem como uma análise financeira dos principais indicadores da MRV e Rossi com o intuito de demonstrarmos a atual situação de ambas companhias e, por conseqüência, um panorama amplo desse segmento da Construção Civil.

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1. Panorama da Construção Civil
Como primeiro passo para o presente estudo, acreditamos ser necessário um pequeno panorama do setor da Construção Civil. Tal setor econômico se caracteriza por uma vasta quantidade de atividades, com braços distintos, a ponto de ser denominado de “macro-complexo da construção” ou “Construbussiness”. Esse setor engloba atividades como: materiais de construção, equipamentos, construção, construção pesada e serviços.

Construção Indústria de materiais Comércio de materias Serviços Outros fornecedores

Fonte: Abramat-FGV (2010)

Tal setor está vivendo o melhor momento de sua história, atingindo grandes resultados e com ótimas perspectivas para o futuro próximo. No dia 16/12/2010 a Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (“Cbic”) apresentou os resultados do ano de 2010, mostrando que nos primeiros 9 meses desse ano o Produto Interno Brasileiro (“PIB”) da Construção Civil aumentou 13,6% em comparação ao mesmo período do ano anterior, melhor resultado dos últimos 24 anos. Dessa forma, este setor pode ser considerado como fator determinante economicamente, detendo grande capacidade de movimentar a economia, através da geração de riquezas e empregos. Exemplo de tal fato é sua fatia total no PIB, sendo responsável por 18% das riquezas produzidas no País, número que lhe concede a posição do 2°. maior setor econômico nacional

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Outro ponto extremamente relevante para o setor foi a geração de mais de 340 mil vagas de empregos formais, atingindo a incrível marca de 2,6 milhões de empregos na categoria. Abaixo temos uma tabela na qual podemos notar o aumento do número de empregos no setor desde 2008.
CAGED - TEM Ano / Mês Saldo Mês 38.643 27.574 33.437 32.071 28.670 36.758 35.078 35.882 32.769 2.149 -22.731 -82.432 11.324 2.842 16.123 13.388 17.407 18.321 32.175 39.957 32.667 26.156 17.791 -50.966 54.330 34.735 38.629 38.418 39.082 24.825 38.382 40.138 21.676 11.412 -7.851 -79.598 Ano 38.643 66.217 99.654 131.725 160.395 197.153 232.231 268.113 300.882 303.031 280.300 197.868 11.324 14.166 30.289 43.677 61.084 79.405 111.580 151.537 184.204 210.360 228.151 177.185 54.330 89.065 127.694 166.112 205.194 230.019 268.401 308.539 330.215 341.627 333.776 254.178 329.195 12 meses 203.690 225.742 241.926 243.110 258.048 276.337 292.519 302.125 304.497 284.961 254.419 197.868 170.549 145.817 128.503 109.820 98.557 80.120 77.217 81.292 81.190 105.197 145.719 177.185 220.191 252.084 274.590 299.620 321.295 327.799 334.006 334.187 323.196 308.452 282.810 254.178 329.195 PME - IBGE Conjunto 6 R.M.: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre Pessoas Ocupadas (em mil) % 1.448 7 1.479 7,1 1.540 7,4 1.540 7,4 1.534 7,3 1.531 7,2 1.529 7,2 1.543 7,2 1.571 7,3 1.579 7,3 1.589 7,4 1.575 7,3 1.500 7,1 1.539 7,3 1.542 7,4 1.534 7,3 1.533 7,3 1.549 7,3 1.569 7,4 1.569 7,3 1.599 7,4 1.604 7,5 1.615 7,5 1.658 7,6 1.634 7,6 1.664 7,7 1.706 7,8 1.695 7,8 1.708 7,8 1.665 7,6 1.649 7,5 1.643 7,4 1.639 7,4 1.628 7,3 1.633 7,3 1.629 7,3 ... ...

Adm.

Deslig.

2008 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 2009 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 2010 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Ajustes no saldo de 2010*

151.881 145.455 151.821 158.097 158.829 169.360 180.852 177.557 180.580 168.202 142.747 81.156 151.465 138.627 168.517 152.788 162.176 166.244 180.477 184.570 182.719 178.624 171.342 112.529 190.660 189.214 227.513 207.637 219.134 211.217 225.551 236.818 221.363 208.665 195.114 131.111

113.238 117.881 118.384 126.026 130.159 132.602 145.774 141.675 147.811 166.053 165.478 163.588 140.141 135.785 152.394 139.400 144.769 147.923 148.302 144.613 150.052 152.468 153.551 163.495 136.330 154.479 188.884 169.219 180.052 186.392 187.169 196.680 199.687 197.253 202.965 210.709 75.017

Tabela 1: Evolução do Emprego na Construção Civil Muito interessante notar que chegamos a um ponto durante o ano de 2010, que não tínhamos mais profissionais capacitados para atuarem na área, levando o Presidente da Cbic, Dinah Feitoza Safady, a buscar acordos com o Governo de Portugal a fim de importar engenheiros civis. Outro grande desafio encontrado pelo setor é a falta de terra urbanizada, as inovações na construção, sustentabilidade e o saneamento básico.
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Observamos que os dois últimos problemas apresentados, estão diretamente ligados ao fato de não mais termos “lugares” para construir, principalmente a fim de atender as necessidades do Programa Minha Casa Minha Vida. Atualmente os principais bairros e regiões nas quais estão localizados os empreendimentos do MCMV são os de baixa renda (até 10 salários mínimos), como periferias. Entretanto, estamos em um estágio no qual, para termos novos empreendimentos, faz-se mister, primeiramente, desenvolver certas regiões para que se tornem habitáveis, sendo o estágio inicial, justamente, um Programa de Saneamento Básico. Assim, o MCMV anda de maneira integrada com outros programas inseridos no Programa de Aceleração do Crescimento, como veremos abaixo. O ponto de termos grandes inovações tecnológicas no setor, pode ser uma boa noticia, porém requer mão de obra qualificada a fim de manusear e acompanhar tais inovações, o que, em um país subdesenvolvido com o Brasil, é de extrema falta no momento. No tocante a Construção Civil, outra grande alavanca ao setor é o fato de o Brasil ter sido escolhido para sediar a Copa do Mundo de Futebol da FIFA de 2014, e os Jogos Olímpicos de 2016, este último ocorrerá na cidade do Rio de Janeiro, esses são os maiores eventos esportivos do mundo. Gerando durante suas preparações mais empregos, novos estádios, aeroportos, rodovias e hotéis. Este trabalho apresentará com maior profundidade o sub setor imobiliário da construção civil, dando maior foco àqueles de baixa renda, grande beneficiário do MCMV. Com o intuito de desenvolvermos uma análise mais aprofundada, iremos focar nosso estudo na produção e comercialização de unidades habitacionais para essa classe social.

1.1. Relevância Social
Primeiramente, podemos destacar que a Construção Civil exerce um papel social de grande destaque, especialmente em dois aspectos, são eles: a geração de empregos diretos e indiretos que o setor proporciona e o elevado déficit habitacional no país. Com relação ao número de empregos gerados, uma característica bastante importante, é a função do setor em absorver uma mão de obra desqualificada e inexperiente. Ou seja, em um País subdesenvolvido,
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economicamente ativo e com baixo nível de instrução, exerce um papel fundamental, oferecendo, de um lado, a oportunidade do primeiro emprego para os mais inexperientes e, de outro, trabalho para uma classe menos preparada. Exemplo de sua importância na função de gerar empregos, podemos destacar o fato de que a construção civil é responsável por 6% do total dos salários pagos na economia nacional e 12,47% dos rendimentos dos trabalhadores autônomos. Mais um dado que merece análise apurada, é o fato de que para cada milhão de reais investido na construção civil, são gerados 33 empregos direitos e 25 indiretos. Assim, além do grande potencial na geração de empregos, é instrumento relevante na distribuição de renda. Outra função primordial da Construção Civil, em um País com tamanha desigualdade social como o Brasil, é seu papel de suprir o déficit habitacional existente. Índices apontam que o déficit habitacional deve se aproximar de 23 milhões de moradias nos próximos anos, representando uma necessidade imediata de construção de novas unidades habitacionais. Assim sendo, ficará a cargo da Construção Civil, nos próximos anos, solucionar essa questão que é extremamente relevante, por todas suas implicação sociais. Esse gigantesco déficit, combinado com a estabilização econômica e o aumento da renda, darão acesso à moradia própria para grande parte da população nacional, especialmente classes C e D, que com essas novas condições da economia, podem, agora, sonhar com sua casa própria. Nesse tocante, entra o programa MCMV, como veremos, com o objetivo de subsidiar as empresas do setor e os clientes e ajudar o acesso ao crédito, através de taxas de juros mais baixas que as praticadas no mercado, com o objetivo único solucionar tamanha escassez de moradia popular.

1.2. Influência Governamental
Primeiramente, devemos apontar que o governo tem papel fundamental no setor da Construção Civil, tanto direta quanto indiretamente. Sua influência se dá através de regulamentações, subsídios, incentivos fiscais, política monetária. Isto é, como apontamos acima, esse setor econômico detém uma importância social e econômica de extrema relevância nacional, assim, o governo acompanha de perto sua evolução.

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Pode-se, inclusive, salientar que o Governo é um verdadeiro player do setor atuando diretamente na Construção Civil com lançamentos de projetos habitacionais e medidas constantes para incentivar e garantir o crescimento do setor. Exemplo de tal fato foi a atuação direta do Governo nacional no combate aos efeitos da crise do SubPrime com a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (“IPI”) para os materiais necessários ao setor. Mais que isso, existem dois programas lançados pelo Governo que influenciam diretamente o segmento em que a MRV e a Rossi atuam, são eles o Programa de Aceleração do Crescimento e, mais especificamente no que tange o mercado imobiliário de baixa renda o Programa Minha Casa Minha Vida. Dada a importância de tais projetos encabeçados pelo Governo Federal para o segmento sob análise, iremos, agora, nos aprofundar um pouco nas especificidades de cada programa.

1.2.1. Programa Minha Casa Minha Vida
O Programa Minha Casa Minha Vida 1 é uma iniciativa da Caixa Econômica Federal para a redução do déficit habitacional no Brasil. Lançado em 2009, o objetivo é a implementação do Plano Nacional de Habitação, com a pretensão de construir 1 milhão de moradias para famílias com rendimento mensal de até 10 salários mínimos. Em vista da grande demanda por unidades habitacionais econômicas e supereconômicas e da falta de interesse da indústria de explorar esse nicho, por ser pouco atrativo, o MCMV entrou com o intuito de alterar esse cenário tanto para o cliente final, quanto para a construtora. O programa em pauta se caracteriza por, de um lado, financiar as obras aumentando o poder de construção das empresas e, por outro, facilitar a aquisição do cliente através de subsídios de até R$ 23.000,00 e taxas de financiamento abaixo das praticadas pelo mercado. Assim, pretende fornecer acesso à moradia digna, com padrões mínimos de sustentabilidade, segurança e habitabilidade para essa parcela significativa da população nacional que ainda carece de um bem tão fundamental para a existência humana. O programa em pauta é dividido em 3 categorias distintas, que são definidas com base no rendimento familiar mensal, sendo elas: i) renda de zero à três salários mínimos (subsídio quase integral, sendo disponibilizadas 400 mil imóveis); ii) renda de três à seis salários mínimos (subsídio de até R$ 23.000,00 e taxas de financiamento abaixo das praticadas no mercado, sendo disponibilizadas 400 mil unidades habitacionais) e iii) para a população com
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renda familiar entre seis e dez salários mínimos (subsídio para a aquisição com teto de R$ 23.000,00 e taxas menores que as usuais, com 200 mil unidades destinadas para essa faixa). Esse programa é de fundamental importância pois será responsável em fornecer a primeira casa própria para uma parcela muito necessitada da população brasileira, mais que isso, se implementado da maneira correta, pode trazer verdadeiras transformações sociais e econômicas para o país. Por fim, devemos salientas que já existem planos para o lançamento da continuação do programa, que deve abranger um número ainda maior de unidades habitacionais.

1.2.2. Programa de Aceleração do Crescimento
Além do MCMV, outra iniciativa governamental que está de fato alavancando o setor da Construção Civil no país, é o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Este Programa fora lançado pelo Governo Federal em 28 de Janeiro de 2007, com uma verba total de 503 bilhões de reais, dos quais 170,8 bilhões foram destinados à Infraestrutura Social e Urbana. Hoje já temos lançado o PAC 2, acumulando um total de 1,59 trilhões de reais, que serão investidos em seis áreas. São elas: Cidade Melhor; Comunidade Cidadã; Minha Casa, Minha Vida; Água e Luz para todos, Transportes e Energia. Assim, apesar da PAC não dizer respeito especificamente para o setor de Construção Civil de unidades habitacionais de baixa renda, ele implica em várias alterações que influenciam tal setor. Isto é, como mencionamos acima, o Brasil é extremamente carente de infraestrutura, tal como saneamento básico. Dessa forma, as obras do PAC acabam criando condições para a expansão de construções voltadas para a baixa renda. Nesse tocante, a combinação de programas distintos inseridos no PAC é uma questão de relevância para o segmento sob estudo e verdadeira prova da importância das medidas governamentais para tal setor.

1.3. Influência Política
Pela análise supra, fica evidente a preocupação do governo com o setor da construção civil, com acompanhamento constante da evolução do setor e

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medidas diretas para influenciar o seu crescimento. Nesse tocante, vale tecermos breve análise sobre o papel político do setor sob estudo. Por sua gigantesca influência social e econômica, o setor da Construção Civil é alvo constante de medidas políticas e eleitoreiras. Isto é, esse setor industrial tem a capacidade singular de influenciar desde a camada mais pobre da população, que está a busca da casa própria, até os grandes investidores internacionais visto que afeta diretamente os índices econômicos mais relevantes. Assim sendo, é um ótimo instrumento de manobra política, constantemente utilizado pelos diversos governos com o objetivo de perpetuação no poder. Não se faz necessário grande reflexão para apontarmos inúmeros programas governamentais que foram lançados com a promessa de, por um lado, diminuir o expressivo déficit habitacional brasileiro e, de outro, movimentar a economia nacional. Dessa forma, se por um lado o Governo é um player de essencial importância para o setor, por outro, ele nem sempre joga com foco na evolução desse segmento, sendo, muitas vezes utilizado com objetivos individuais e egoísticos.

2. Análise de Forças Competitivas de Porter
No ano de 1983, o professor de Harvard Business School, Michel Porter, lançou seu modelo das forças competitivas que afetam uma organização. Tal modelo econômico demonstra as forças do ambiente externo, de maior relevância, que recaem sobre uma empresa, bem como os efeitos decorrentes de tais forças. Segundo o presente autor, o potencial de um setor está atrelado a combinação das seguintes forças: i) intensidade da rivalidade interna; ii) ameaça de novos entrantes; iii) pressão por produtos substitutos; iv) poder de barganha dos fornecedores e v) poder de barganha dos clientes. Com o intuito de facilitar o entendimento do raciocínio do autor, vale análise do organograma abaixo que representa a interação das cinco forças.

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Com o presente modelo, é possível analisar os atuais concorrentes, o poder de negociação dos fornecedores e clientes, a possibilidade de entrada de novos players no setor, bem como a influência de produtos substitutos. Feita essa sucinta introdução sobre Porter, passemos, agora, para seu estudo em relação às forças presentes no setor da Construção Civil.

2.1. As Forças de Porter na Construção Civil 2.1.1. Poder de Barganha dos Clientes
Os clientes competem com a indústria forçando os preços para baixo, barganhando por melhor qualidade ou mais serviços e jogando os concorrentes uns contra os outros. O poder de cada grupo de compradores depende de certas características quanto à sua situação no mercado e da importância relativa de suas compras para indústria em comparação com seus negócios totais. Quando o comprador tem todas as informações sobre demanda, os preços reais do mercado, e mesmo sobre custos dos fornecedores, isso, em geral, lhe dá mais poder para a negociação do que quando a informação é deficiente. (PORTER) De um lado, temos as grandes incorporadoras do mercado. Do outro lado, temos os clientes. Para medir esta força neste tipo de mercado, devemos primeiro conhecer os clientes para que a medição seja a mais exata possível. Para diferenciar, vamos nomear dois tipos de clientes: Pessoa Física e Pessoa Jurídica.

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Pessoa Física: comum e assalariado, que compra os empreendimentos direto das construtoras. Para conquistar este público, há crescentes ofertas de crédito das construtoras para que seus clientes alcancem o sonho da casa própria, a juros muito menores do que os ofertados por financeiras de mercado. Pessoa jurídica: Empresas em geral, que compram empreendimentos para usos variados. Embora eles não representem o maior mercado, representam as maiores vendas singulares e com o prazo de pagamento mais rápido do que os clientes pessoa física, que geralmente optam por prazos muito longos de pagamento, o que tende a dificultar o fluxo de caixa das empresas atuantes no setor. Para estes clientes, o processo de compra é mais criterioso e longo. A aquisição de um empreendimentos imobiliário representa uma fração significativa nos custos de uma pessoa física ou jurídica. Geralmente são investimentos altos e com planos de pagamento a longo prazo, o que necessita um planejamento financeiro constante. Nesse caso, os compradores estão inclinados a gastar os recursos necessários para comprar a um preço favorável e selecionar bem qual tipo de empreendimento adquirir. Considerando que as vendas de apartamentos e casas são dependentes da renda familiar, a melhoria no poder de compra das classes C, D e E elevam a procura por financiamentos para compra da casa própria. Nesse tocante, com acesso ao crédito pelas classes mais baixas da população, a demanda por unidades habitacionais econômicas e supereconomicas está muito alta, afetando diretamente o poder de barganha do consumidor. Isto é, na atual conjuntura, podemos afirmar que existe um maior poder nas mãos dos construtores em comparação com seus clientes, ficando esses, limitados às condições pré-estabelecidas pelo mercado. Pode-se afirmar que, ainda que praticamente não existe espaço para negociações. As unidades lançadas são vendidas em prazo curto, concedendo às empresas certa segurança e posição favorável perante os clientes.

2.1.2. Poder de Barganha de Fornecedores
Os fornecedores podem exercer poder de negociação sobre os participantes de uma indústria ameaçando elevar preços ou reduzir qualidade dos bens e serviços fornecidos. Fornecedores poderosos podem, conseqüentemente, diminuir a rentabilidade de uma indústria incapaz de repassar os aumentos de custos em seus próprios preços. Para Porter, um grupo de fornecedores é poderoso se a seguinte situação se configura:
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I)

O produto do fornecedor é um insumo importante para o negócio do comprador. Insumos como o cimento são essenciais para o sucesso do processo de fabricação da construção civil. Isto aumenta o poder do fornecedor perante o comprador, sabendo que tais insumos são imprescindíveis para o setor. É dominado por poucas companhias. O mercado de cimento é dominado por 6 grandes grupos que, juntos, têm capacidade de exercer considerável influência em preços, qualidade e condições. Não está obrigado a lutar com outros produtos substitutos na venda à indústria. Até o poder do fornecedor muito forte pode ser posto em cheque se concorrerem com substitutos.

II)

III)

Com base nas informações acima, temos que a Construção Civil encontra grande dependência de seus fornecedores, sendo alvo de constante poder de barganha por parte dos mesmos. Isto é, levando em consideração o cimento, aço e mão de obra qualificada, principais componentes do processo de produção do setor sob análise, temos que, na presente conjuntura, o poder de barganha desses fornecedores está muito elevado. Mais que isso, o fornecimento destes produtos está, na maioria das vezes, concentrado nas mãos de empresas que formam oligopólios, ou seja, poucas empresas dominam a maior fatia do mercado, dificultando o poder de negociação das construtoras. Exemplo claro desse fato é o fornecimento de cimento, isto é, as construtoras negociam com players muito poderosos, diminuindo seu poder de barganha sobre seu principal insumo. Mais que isso, este mercado oferece pouco espaço para a entrada de novas empresas fornecedoras em um setor de alta escala e com necessidade de domínio do processo de produção da matéria prima. Nesse tocante, podemos afirmar que essa força de Porter exerce influência fundamental na cadeia produtiva da Construção Civil, elevando os preços das unidades habitacionais para os consumidores finais. Ou seja, a combinação de pequeno poder de barganha por parte dos clientes e elevado poder de barganha dos fornecedores, acarreta na elevação dos preços para os compradores.

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2.1.3. Rivalidade Interna
A intensidade da rivalidade em um setor depende de diversos fatores: concentração do setor, o grau de concorrência dos preços, a presença de barreiras à saída, a taxa de crescimento do setor e a relação entre custos fixos e o custo total do investimento. (MCGUIGAN) No mercado brasileiro de construção civil existe uma grande disputa por melhores participações de mercado entre as empresas em atividade. Esta rivalidade se intensifica com os altos investimentos em publicidade, aumento de serviços ou de garantias para os clientes. Para Porter, a rivalidade ocorre porque um ou mais concorrentes sentem-se pressionados ou percebem a oportunidade de melhorar sua posição. Apesar do crescimento acelerado da Construção Civil, nota-se que a quantidade de concorrentes não aumentou no mesmo ritmo no setor, pois existe uma forte barreira de entrada para uma nova empresa que deseje iniciar operações neste ramo. Hoje, é preciso um alto investimento na compra de terreno, ativos, insumos e mão de obra qualificada, deixando os custos fixos da operação extremamente elevados. Esta barreira de entrada de novas empresas abre espaço para a expansão dos grandes grupos que já atuam no setor, tais como a Gafisa e a Cyrela que têm forte operação nos segmentos de médio e alto padrão e recentemente criaram subsidiárias para dar foco nos empreendimentos imobiliários para a população de baixa renda. Ao mesmo tempo, as barreiras de saída são igualmente altas civil, pois nenhum concorrente consegue se recuperar integralmente de altos investimentos realizados em obras com planos de pagamento que geralmente são negociados à longo prazo. Uma decisão de saída do mercado pode resultar em prejuízos de astronômicos. Dentro da construção civil existem diversos braços distintos de atuação que não competem diretamente entre si. Isto é, empresas com oferta de empreendimento a mercado e outra para empreendimentos públicos. Em empresas que atendem ao mercado de pessoa física o risco do investimento é menor, enquanto que nos projetos públicos, onde há a necessidade de participar de licitações e lidar com o plano de pagamento do governo, torna a entrada nesse ramo uma decisão de risco, pois a margem de lucro é menor, a quantidade de concorrentes é maior e existe a preferência por alguns concorrentes em detrimento de outros.

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2.1.4. Pressão de Produtos Substitutos
Produtos substitutos são aqueles que desempenham funções equivalentes, nem sempre similares e nem sempre da mesma indústria, mas que passam a suprir as mesmas necessidade dos clientes. É uma condição básica de barganha, pois sempre que for economicamente atraente, a mudança para o produto substituto irá ser considerada. Os substitutos podem limitar os lucros em tempos normais, como também podem reduzir as fontes de riqueza que a indústria pode obter em tempos de prosperidade. (Porter) Em muitos casos não há pressão ou ela é inexpressiva. Assim, no caso da Construção Civil, pode-se dizer que essa força não é muito relevante, visto que a moradia é um bem essencial para qualquer pessoa e de difícil substituição.

2.1.5. Ameaça de Novos Entrantes
Uma indústria se torna atrativa quando o retorno proporcionado por ela é maior do que o do mercado. Partindo da premissa de que todas as empresas sempre buscam maior rentabilidade, novas empresas passam a considerar a entrada na indústria de maior retorno. Entretanto, a capacidade do mercado tem que ser levada em consideração, já que a entrada em demasia de empresas pode gerar saturação. Neste caso, os preços caem devido à grande oferta de produtos, e os custos necessários para enfrentar os concorrentes aumentam, sendo esta equação maléfica para todos os participantes da indústria. (PORTER) Existem, portanto, algumas barreiras de entrada que dificultam a entrada de novos participantes, dentre as quais podemos citar: economia de escala, capital, diferenciação de produtos, altos custos de mudança, canais logísticos, restrições legais, acesso à matéria-prima, patentes, pesquisa e desenvolvimento e regulamentação governamental. Para Porter, empresas que atuam em muitos negócios sinérgicos, conseguem compartilhar as operações ou funções em comum e podem obter economias em grande escala, oferecendo assim empreendimentos com melhores custos. Estas empresas representam um alto nível de ameaça para a MRV e Rossi, pois entrariam com fôlego financeiro para competir nos principais mercados em quais tais companhias atuam.

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Um exemplo disto, é a criação da empresa Living Construtora S.A., que pertence ao grupo Cyrela Brasil Realty. A empresa foi criada em 2006, com o foco inicial em imóveis direcionados ao segmento econômico e supereconômico, que não param de crescer graças às perspectivas macroeconômicas otimistas. Em 2009, a Living Construtora respondeu por cerca de 32% do portfólio de lançamento e de vendas de seu grupo, e estimase que até 2012 esse percentual chegue à 50%. Para entregar empreendimentos com baixo custo, a Living contratou profissionais oriundos de outros segmentos da indústria para atuar no desenvolvimento de soluções. Em parceria com os fornecedores, a Living desenvolveu uma metodologia de construção que não só reduz desperdícios, mas simplifica processos, diminui os ciclos das obras e pode proporcionar uma importante redução nos custos de construção. Assim sendo, a Living representa um novo entrante com potencial de ganhar mercado das empresas sob análise, isto é, por fazer parte de um grande conglomerado, apresenta estrutura, know-how e capital para atuar competitivamente contra a Rossi e a MRV. Outro exemplo de um novo entrante para esse segmento da construção civil é a empresa Goldfarb Incorporações e Construções S.A., que foi incorporada ao Grupo PDG e, assim, ganha força para expandir suas operações no mercado de baixa renda. Esse movimento mostra o interesse de empresas do setor, antes focadas no segmento de maior renda, em explorar esse novo nicho. Assim, fazendo uso da capacidade instalada e do conhecimento do negócio, ampliam suas atividades para um segmento, até então, inexplorado. Por outro lado, nos casos de tentativa de entrada de empresas de menor porte, com pouco poder de barganha com fornecedores ou pouco domínio sobre a cadeia de produção, o nível de ameaça é menor. Isto é, levando-se em consideração que MRV e Rossi são empresas com total domínio da cadeira produtiva, forte relacionamento com fornecedores e marca reconhecida pelo público, a ameaça de novos entrantes sem o respaldo de um grande conglomerado é baixa.

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3. Apresentação das Empresas

3.1. MRV Engenharia e Participações S.A.
A MRV é uma incorporadora e construtora brasileira, sediada em Belo Horizonte (MG), que foi fundada em 1979, e é uma das maiores no segmento de empreendimentos residenciais populares em número de unidades incorporadas e cidades atendidas. Com o foco em imóveis para baixa e média renda, a empresa está presente em 85 cidades do Brasil. A linha de produtos da MRV é padronizada. Em todas as cidades onde atua, a companhia foca no desenvolvimento em dois produtos direcionados para as classes populares: Linha Parque (área útil de 50 à 55m 2 e preço máximo de venda de aproximadamente R$ 100 mil por unidade) e Linha Spazio (área útil de 42 à 70 m2 e preço de venda entre R$ 70 mil e R$ 140 mil por unidade). Devido à larga experiência adquirida ao longo de mais de 25 anos de relacionamento com a Caixa Econômica federal, a MRV em 2007, tornou-se a primeira construtora correspondente negocial da CEF no setor imobiliário. O principal beneficio desta parceria tem sido a agilização do processo de contratação de financiamento por parte dos clientes em projetos como o MCMV. Após um período de relativa escassez de crédito imobiliário no Brasil, os bancos comerciais e CEF voltaram a oferecer este tipo de crédito para o consumidor final, impulsionando novamente a venda de imóveis populares. Com estas novas linhas de pagamento, o banco paga 30% do valor do imóvel à construtora no início da construção do empreendimento e os 70% restantes são pagos na entrega do imóvel, que tem um prazo médio de entrega de 14 meses. A execução destes ciclos rápidos de construção tende a aumentar as taxas de retorno do investimento e margens brutas da MRV.

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De acordo com o relatório de relacionamento de investidores da MRV, em 31 de dezembro de 2009, 94% do VGV do Land Bank da empresa eram elegíveis a projetos do MCMV que busca suprir o déficit habitacional das classes C a E. No final de 2009 o Valor Geral de Vendas tinha um potencial de aproximadamente R$ 10,6 bilhões. Vendo a necessidade de consolidar sua participação de mercado, a MRV concluiu seu IPO em 2007 e suas ações passaram a ser negociadas na BM&FBOVESPA. Os resultados lhe capitalizaram e permitiram uma expansão continuada com o objetivo de construir e incorporar empreendimentos residenciais. Com grande experiência e estrutura operacional, a MRV tem conhecimento detalhado de cada mercado, o que aumenta sua capacidade de crescimento, domínio nas cadeias de produção e distribuição e representando, assim, um forte player do setor e verdadeira barreira para a entrada de eventuais competidores.

3.2. Rossi Residencial S.A
Atuando há mais de 30 anos no mercado da construção civil, a Rossi atua no segmento de baixa, média e alta renda e está presente em 80 cidades do Brasil. Considerada a 5ª. maior empresa nacional do setor em valor de mercado, a Rossi detém uma atuação integrada, onde administra e controla todas as etapas da incorporação e, com isso, reduz o custo de construção, aumentando margens e rentabilidade. Com o objetivo de reduzir os custos de suas obras, a companhia centraliza as compras de materiais de construção, o que aumenta seu volume de compra e seu poder de negociação com fornecedores e, consequentemente, diminui o preço de seus insumos, proporcionando economias de escala que permitem a redução do preço final de venda de suas unidades. O passo mais importante para o crescimento da Rossi foi em 1997, quando a empresa captou US$ 100 milhões para expansão dos negócios ao emitir ações na BM&FBOVESPA e ADRs na Bolsa de Nova York. Em 2006 houve outra grande captação no valor de R$ 1,012 Bilhões viabilizando a
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compra de novos terrenos, o pagamento de dívidas e o capital de giro dos novos empreendimentos. Ainda de acordo com o relatório de relações com investidores, as ações da Rossi apresentaram uma performance superior ao índice do setor e ao Ibovespa em um período de 12 meses, conforme gráfico abaixo da de performance das ações:

De acordo com os resultados divulgados do terceiro trimestre de 2010, a Rossi encerrou ano de 2010 com 314 terrenos em carteira para futuros empreendimentos, equivalente a um VGV potencial de R$ 29,3 bilhões. Deste total, apenas 21% foi adquirido em dinheiro, o restante em permuta (sendo que 39% em permuta física e 40% em permuta financeira). Atuando em um mercado dinâmico, a Rossi está constantemente buscando expandir suas atividades para novas regiões que apresentem potencial de crescimento. O foco é explorar pólos de atração econômica, mas que ainda não experimentaram o boom imobiliário que se vê nas capitais e grandes cidades. Esta estratégia é possível realizando joint ventures com incorporadoras regionais em parcerias pontuais com o objetivo de desenvolver projetos específicos, mas com prazo para acabar. Um exemplo destas joint ventures estratégicas foi o recente anúncio de parceria com a empresa Toctao Engenharia, de Goiás, com o objetivo de
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consolidação e diversificação de empreendimentos na região. De acordo com o Relatório de Relações com Investidores da Rossi, esta parceria tem VGV (Valor Geral de Vendas) potencial inicial de lançamentos de R$ 4,1 bilhões, direcionado principalmente ao segmento econômico, e também aos de médio e alto padrão, tanto em projetos residenciais quanto comerciais. Com estas parcerias regionais, a Rossi expande seus negócios para diferentes segmentos da engenharia, como obras industriais, usinas hidrelétricas e shopping centers.

4. Análise Econômica Financeira 4.1. Análise Macroeconômica
O cenário econômico imobiliário em 2010 apresentou um expressivo crescimento motivado pelo aumento do crédito e pela retomada da confiança dos consumidores e investidores. Após um difícil período entre 2008 e 2009 devido à crise do SubPrime, a economia brasileira recuperou-se com vigor impulsionando ainda mais o mercado imobiliário. O alto nível das reservas de divisas internacionais também faz com que o Brasil se torne menos vulnerável à instabilidade externa. O resultado da confiança dos investidores trouxe o aumento dos investimentos externos, resultando na desvalorização do dólar ante o real. Os consumidores brasileiros estão com a confiança em alta, motivados pelo crescente aumento da oferta de empregos e melhora da renda. Tivemos também em 2010 um grande aumento nos investimentos do Governo, motivados pelo lançamento do PAC2 e pelo fato de ser ano eleitoral. Esta soma de fatores, além de impulsionar o crescimento do PIB levando-o a um crescimento de 7,5% se comparado a 2009, atingindo o maior crescimento dos últimos 24 anos acionou o alerta quanto ao aumento da inflação. A forte atividade econômica traz consigo dois efeitos indesejados, o aumento da ameaça de inflação e a diminuição das exportações devido à

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valorização do real. O IGP-M, o índice mais utilizado nos reajustes de contratos, atingiu 11,32% em 2010. Estes efeitos já fazem com que o Governo adote medidas para contenção da atividade econômica, entre elas estão o aumento de taxas sobre investimentos estrangeiros, aumento da taxa SELIC, corte dos gastos públicos e dos investimentos divulgados do PAC2. Outro ponto que traz atenção se deve à crise da Europa, importante destino das exportações brasileiras. Abaixo apresentamos gráfico com a evolução do IGP-M, demonstrando a evolução da inflação, ponto de preocupação das autoridades econômicas e dos playes desse mercado.

4.2. Mercado Externo
A crise de 2008 trouxe a estagnação do mercado imobiliário nos países desenvolvidos, porém os países em desenvolvimento como China, por exemplo, seguiram em franca expansão. A participação do crédito imobiliário no exterior é muito maior se comparada ao Brasil. Como destaque tem os Estados Unidos, onde a participação do crédito imobiliário é equivalente a 100% do PIB. Na Europa destacamos a Espanha, com participação de 60% do PIB. Na América Latina temos como relevantes o Chile e o México com participações de 15% e 11% do PIB respectivamente. O Brasil conta apenas com 4% de participação do crédito imobiliário no PIB.

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Se por um lado a crise econômica de 2008 trouxe aos países desenvolvidos dificuldades no mercado imobiliário, por outro trouxe ao Brasil um efeito contrário, atraindo investidores estrangeiros que deixaram de investir nos países desenvolvidos. O aumento dos investimentos, incentivados por dois grandes eventos esportivos (Copa do Mundo e Olimpíadas) favorece a melhora de vida e renda dos brasileiros permitindo cada vez mais à população de baixa renda adquirir sua casa própria. Segundo informações divulgadas pela Câmara dos Deputados o déficit habitacional brasileiro reduziu de 6,3 para 5,8 milhões de domicílios em 2010, porém, apesar desta redução a demanda ainda é grande. A confiança do consumidor brasileiro cresce junto do aumento da renda média. Aliado aos fatores do crescimento econômico, a demanda é potencializada pelo programa MCMV, com subsídios do Governo. O aumento do crédito imobiliário também foi determinante, permitindo que os financiamentos se adequassem às rendas familiares. O número de empregados na construção civil cresceu em média 13% de Janeiro a Setembro de 2010. O número de unidades financiadas em 2010 foi de 412.203, representando um crescimento de 36% ante 2009, o valor dos financiamentos, no entanto cresceu 60% no mesmo período, o que indica que o valor dos imóveis e a porcentagem de unidades financiadas cresceram. O INCC, índice que calcula os custos de construções habitacionais, também registrou alta refletindo o aumento da demanda reforçando o alto nível de atividade do setor.
14,00% 12,00% 10,00% 8,00% 6,00% 4,00% 2,00% 0,00% 2005 2006 5,05% 2007 6,03% 2008 11,97% 2009 3,21% 2010 7,57%

INCC

Índice acumulado 6,85%

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4.3. Crise do SubPrime 4.3.1. A Origem
Em 2006, desencadeou no mundo a maior crise financeira da primeira década do século XXI. Esta crise foi originada pela qualidade dos empréstimos fornecidos pelas instituições financeiras americanas. Um tomador de crédito, sem comprovação de renda, conseguia facilmente obter empréstimos para financiamento imobiliário. Como a saúde financeira deste tomador não era sólida, não era possível honrar a dívida. Com o mercado imobiliário em alta, e o preço dos imóveis em grande ascensão, os devedores hipotecavam novamente seus imóveis e assim conseguiam tomar um valor de empréstimo ainda maior que o primeiro, usando este novo empréstimo para quitar o primeiro. A taxa destes empréstimos eram pós-fixadas e, quando os juros aumentaram e o valor dos imóveis entrou em queda, desencadeou-se um processo de inadimplência em massa, quebrando algumas instituições financeiras americanas. Como estes empréstimos tinham pouca liquidez, os bancos americanos montaram uma massa com estes recebíveis, transformando-os em derivativos, tornando-os negociáveis no mercado financeiro internacional, o que fez com que a crise fosse alastrada para outras partes do mundo.

4.3.2. Os Efeitos no Brasil
Como visto anteriormente, a crise alastrou-se para outras partes do mundo e o Brasil não passou ileso. A Bolsa de Valores de São Paulo registrou queda de 60% em seu índice IBOVESPA em um período de 4 meses, atingindo em outubro de 2008, no auge da crise, os 29000 mil pontos. Os investimentos estrangeiros foram retirados do país com todos os investidores procurando investimentos mais seguro como o ouro, na busca segurança para seus patrimônios. Com este cenário incerto, o mercado imobiliário também foi fortemente afetado, fechando o ano praticamente estagnado. Este panorama, porém foi atenuado pelo Governo brasileiro através de ações que fomentavam o consumo, medidas como diminuição da taxa de juros, corte de impostos para consumo de automóveis, construção civil e bens duráveis ajudaram o Brasil a reduzir os efeitos da crise. Outro item importante na proteção do Brasil foi a grande reserva de dólares que o Brasil formou
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durante os anos anteriores. Isto trouxe ao Brasil maior solidez, deixando os investidores mais confiantes a voltar a alocar seus recursos no país. Todos estes fatores ajudaram o Brasil a ser o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela, deixando o caminho aberto para a grande expansão que veio a ocorrer durante o ano de 2010.

4.4. O futuro do mercado imobiliário
Em 2011, a atividade do setor imobiliário deve continuar em alta. A economia segue crescendo, porém o nível de crescimento não deverá superar 2010. A ameaça de inflação já faz com que o Governo admita cortes no programa PAC2 e que o Banco Central promova aumentos na taxa SELIC, deixando o crédito mais caro no Brasil. Ainda assim, os indicadores da economia brasileira seguem extremamente sólidos e promissor a longo prazo motivado pelos maiores eventos esportivos do Mundo (Copa – 2014 e Olimpíadas – 2016). O aumento de renda dos brasileiros permite cada vez mais que novos consumidores possam realizar o sonho da casa própria, através de financiamento imobiliário. A estimativa da FIESP aponta para a necessidade de construir, até 2022, 23 milhões de moradias para suprir o déficit habitacional. Não visualizamos risco de uma bolha ou problemas semelhantes ao ocorrido nos Estados Unidos, isto por que o déficit habitacional no Brasil segue alto e os consumidores brasileiros assumem crédito imobiliário para realização do sonho de possuir moradia própria, e não para obter crédito a fim de efetuar pagamentos de dívidas passadas. Outro ponto importante são as rígidas regras do setor financeiro brasileiro que faz com que tenhamos uma alavancagem financeira mais baixa que a dos Estados Unidos. Exemplo de tal fato e que no Brasil os bancos possuem, em média, uma alavancagem de 10 vezes contra uma média de 30 vezes dos bancos americanos . O setor é bem visto futuramente e se destaca também na geração de empregos, sendo a área que mais cresceu, chegando a 333 mil vagas no ano de 2010, com um aumento de 14,4% em relação a 2009, segundo o Sinduscon (Sindicato da Construção). As empresas devem estar preparadas para o alto grau de competitividade, reformulando suas estratégias, de acordo com o lugar que atuam, uma das opções é o lean construction, conhecida por “construção enxuta”, que direciona suas ações para reduzir a obra de todas as atividades que não geram valor e que resultam em desperdício de recursos. A proposta é simplesmente reduzir custos sem necessidade de investimentos, somente
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através de uma organização do processo, eliminando reservas de mão-de-obra ociosa e otimizando cada recurso disponível.

4.5. Análise Econômica Financeira das Empresas Estudadas
Cabe, agora, nos aprofundarmos nos índices econômicos e financeiros das duas empresas sob estudo. Dessa forma, desenvolveremos uma ampla análise, abrangendo índices dos últimos cinco anos, com o intuito de criar um panorama amplo no tocante ao setor da Construção Civil. Vale ressaltar que, dentro do período em foco, daremos especial atenção para os anos de 2009 e 2010, isto pois, tais anos refletem as mudanças que o programa Minha Casa Minha Vida trouxeram para tal setor. Devemos destacar que ambas as empresas, até o presente momento, ainda não publicaram seus resultados finais referentes ao quarto e último trimestre do ano de 2010. Tais resultados estão previstos para meados do mês de março do corrente ano, conseqüentemente, na análise abaixo apresentaremos, tão somente, os dados já oficialmente publicados do terceiro trimestre de 2010.

4.5.1. Receita Líquida
A MRV fechou o 3T10 com receita líquida de R$ 888,1 milhões, resultado 65,8% acima do terceiro trimestre do ano anterior. Podemos explicar o expressivo desempenho, em parte, pelo fato da empresa deter relacionamento muito próximo com a Caixa Econômica Federal, instituição responsável pela liberação de crédito e aprovação de projetos do MCMV. Comprovante de tal fato é o dado publicado em outubro de 2010 indicando que mais de 10% do total assinado pela Caixa foi destinado à Companhia detendo assim o “titulo” da empresa com maior número de projetos aprovados por essa instituição financeira. Já a Rossi encerrou o terceiro trimestre com receita líquida de R$ 644 milhões, crescimento de 49% em relação ao mesmo período do ano anterior. Apesar de não desfrutar posição de destaque no programa habitacional, apresentou, também, forte crescimento na esteira do alto índice de crédito imobiliário disponível no mercado, combinado com as baixas taxas praticadas. Vale apontar o expressivo crescimento da receita líquida da MRV a partir dos anos de 2006 e 2007, decorrente da abertura de capital realizada
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pela empresa, gerando um grande afluxo de capital. A Rossi, por sua vez, com mais de 10 anos de mercado, desacelerou o seu ritmo de crescimento nos últimos anos, apesar de demonstrar uma recuperação da crise internacional.

Gráfico 1 – Receita Líquida (Milhões de Reais)

4.5.2. Lucro Bruto e Margem Bruta
Até as últimas informações publicadas, a MRV, no ano de 2010, apresentou lucro bruto no montante de R$ 313,5 milhões, contra R$ 194,0 milhões da Rossi, assim sendo, a MRV apresenta lucro bruto 62% maior que a sua concorrente. Por sua vez, a margem bruta exercida por ambas as empresas é próxima, girando em torno dos 30%. Analisando o gráfico comparativo, é possível ver que a partir de 2008 a MRV passou a ter um lucro maior que o da sua concorrente Rossi.

Gráfico 2 – Lucro Bruto (Milhões de Reais) 28

Gráfico 3 – Margem Bruta (%)

4.5.3. EBITDA e Margem EBITDA
Com o objetivo de analisar a eficiência operacional do setor consideramos apropriado utilizar o EBITDA (Earnigs before Taxes, Depreciation and Amortization), vez que tal indicador apresenta a origem dos resultados das empresas, ou seja, demonstra o resultado financeiro originado diretamente da capacidade operacional da companhia, ignorando financiamentos, depreciação e outros índices. Dito isso, a MRV no terceiro semestre do ano de 2010 teve um resultado de EBITDA na ordem de R$ 270 Milhões, mais que duas vezes o montante de igual período do ano de 2009, que foi de R$ 125,7 Milhões, tal resultado demonstra que sua capacidade de gerar caixa operacional vem aumentando. A margem EBITDA, por sua vez, atingiu 30,6%, com crescimento de 2.7 p.p. sobre o ano anterior, exibindo um bom rendimento. A Rossi, dentro da mesma ordem temporal, apresentou um EBITDA de R$ 132 Milhões, apresentando um crescimento de 26% em relação ao ano anterior. Já a margem EBITDA está em 20,5% no 3T10 apresentando queda de 3,9 p.p. em relação ao 3T09. Pode-se notar, no caso da Rossi, que independente da queda da Margem EBITDA, ela manteve o índice EBITDA em alta, ou seja, com a queda da margem o que aconteceu foi uma perda de capacidade de gerar resultado. Criando um comparativo entre as duas empresas, nota-se que além da MRV ter um maior resultado do EBITDA, tem sua margem em fase crescente, indicando fortes tendências de que o cenário continue, já para a Rossi a tendência é oposta, visto que a margem teve uma leve queda no

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comparativo com o ano anterior. Dessa forma, cabe a Rossi maior esforço para continuar tendo resultados positivos.

Gráfico 4 – EBTIDA (Milhões de Reais)

Gráfico 5 – Margem EBTIDA (%)

4.5.4. Alavancagem
A Alavancagem é um termo muito usado em uma analise financeira, pois indica qual a capacidade da empresa de gerar resultado para seus acionistas usando ativos ou recursos a baixo custo. O relatório parcial da MRV do ano de 2010 indica um índice de alavancagem na ordem de 152%. Se observarmos o comportamento de tal indicador nos últimos 5 anos poderemos constatar que após uma queda brusca

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do ano de 2006 para 2007, esse índice se estabilizou, apresentando pouca variação. Mesmo com o aumento de receita de aproximadamente 80%, a entrada do capital com o IPO, que aumentou o investimento de capital na empresa em aproximadamente 93%, fez com que o índice caísse drasticamente, mas isso não indica uma performance ruim da empresa, mas que ela teve muito dinheiro entrando e não conseguiu aumentar sua receita na mesma proporção, baixando o índice. Já a Rossi, no 3T10, apresentou alavancagem financeira na ordem de 222%. Podemos constatar, em relação a tal companhia, que os índices de alavancagem, com exceção de 2009 que reflete a crise, estão em constante crescimento, indicando a propensão da empresa em trabalhar cada vez mais alavancada. Na Rossi, a rotina deste índice é muito mais estável, por ser uma empresa que já esta em velocidade constante e nenhum grande evento ocorreu nos anos que estudamos. Apesar dos índices de PL e Ativo terem alterado durante o período estudado, elas seguiram uma constância, ou seja, cresceram “juntos”, não alterando muito o índice de alavancagem.

Gráfico 6 – Alavancagem (%)

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4.5.5. Lucro Líquido e Margem Líquida
A MRV fechou o terceiro trimestre de 2010 com um lucro líquido de R$ 216 Milhões, resultado 110% acima do apresentado no ano de 2009. A margem líquida atingiu 22,8%, com acréscimo de 1,7 p.p. em relação ao período de 2009. No terceiro trimestre de 2010, a Rossi apresentou um aumento de 54% no lucro líquido, totalizando a quantia de R$ 95 Milhões. A margem líquida nesse semestre atingiu 14,7%, com leve crescimento na ordem de 0,4 p.p em relação ao mesmo período no ano de 2009.

Gráfico 7 – Lucro Líquido (Milhões de Reais)

Gráfico 8 – Margem Líquida (%)

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4.5.6. ROE (Return on Equity):
O ROE da MRV até o terceiro semestre de 2010 foi de 7,5%, apresentando uma elevação 3,2 p.p. em relação ao mesmo período de 2010. A Rossi, por outro lado, apresentou no 3T10 ROE de 3,7%, resultado idêntico do ano anterior. Se ampliarmos a análise para os últimos cinco anos, podemos constatar que a MRV no ano de 2007 apresentou uma forte queda do ROE em comparação ao ano anterior. Tal fato pode ser justificado, uma vez que como preparativo de sua abertura de capital, a empresa investiu em terrenos com o objetivo de aumentar o seu valor de mercado. Essa queda no ano de 2007, foi prontamente recuperada com uma evolução do ROE no ano de 2008.

Gráfico 9 – ROE (%)

4.6. Análise FOFA
Cabe, nesse momento, traçarmos a análise FOFA das empresas em estudo. Também conhecida como Swot (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Thereats) a FOFA é o cruzamento de cenários internos e externos para se definir os objetivos estratégicos da Instituição. No cenário interno se verifica os elementos da instituição consdiderados como vantajosos, ou seja, seus pontos fortes, tais como recursos especiais que a instituição pode aproveitar, diferenciais competitivos, bem como
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características tidas pelos concorrentes como grandes diferenciais da instituição. Além disso, se estuda duas fraquezas, ou seja, pontos que merecem ser reformulados, deficiências internas, inclusive falhas de operação e estrutura. Ou seja, nesse quesito apenas de leva em consideração a realizadade intrinsica da instituição, o foco é interno à empresa ou setor econômico. O cenário externo, por sua vez, aborda outra perspectiva de análise. Ou seja, aborda situação além da instituição, isto é, características macroeconômicas que não podem ser diretamente influenciadas pela companhia. Dentre os quesitos relevantes para esse cenário, podemos apontar as oportunidades externas e as ameaças internas, dentre eles questões econômicas, legislativas e regulamentares.

Feita essa breve introdução, passemos para a análise FOFA do setor da Construção Civil e das duas companhias sob estudo.

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4.6.1. Análise FOFA do Setor da Construção Civil
Segue, abaixo, tabela com as forças, oportunidades do setor da Construção Civil: fraquezas, ameaças e

FORÇAS

FRAQUEZAS

Sistema financeiro sólido. Melhora da tecnologia empregada na construção civil.

Falta de um processo produtivo consolidado igual às indústrias.

País será sede dos maiores eventos esportivos (Copa Alto valor dos preços dos terrenos. do Mundo e Olimpíadas). Atraso na emprega de matéria-prima. Atraso na entrega das obras.

OPORTUNIDADES

AMEAÇAS

Demanda gigantesca reprimida de imóveis para a fatia Falta de mão de obra qualificada resultando num mais popular. Crescimento da massa de rendas familiares. Desenvolvimento da economia do país. aumento do custo de produção. Expectativa de um aumento significativo no custo dos insumos.

Crédito imobiliário disponíveis com taxas cada vez Perspectiva de redução de crédito e aumento da mais competitivas. Plano Minha Casa Minha Vida do Governo. inflação. Alta demanda gerando um aumento abusivo nos preços do m² (bolha imobiliária). Aumento da competitividade no setor escolhido. Retração da economia. Alto índice de reclamações nas mídias sociais.

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4.6.2. Análise FOFA da MRV
Abaixo, quadro com análise FOFA da MRV Engenharia:

FORÇAS

FRAQUEZAS

Liderança

no

Programa

do

Governo

e

bom Não atingir metas de vendas. Auto índice de reclamação dos consumidores. Atraso no cumprimento das entregas das obras Baixo nível de qualificação da mão de obra terceirizada.

relacionamento com a Caixa. Grande diversificação geográfica. Sólido corpo técnico. Autocontrole orçamentário. Padronização dos insumos, grande compras, geração de menores custos. volume

de Alta dependência do programa Minha Casa Minha Vida.

OPORTUNIDADES

AMEAÇAS

Demanda gigantesca reprimida de imóveis para a fatia Falta de mão de obra qualificada resultando num mais popular. Crescimento da massa de rendas familiares. Desenvolvimento da economia do país. aumento do custo de produção. Expectativa de um aumento significativo no custo dos insumos.

Crédito imobiliário disponíveis com taxas cada vez Perspectiva de redução de crédito e aumento da mais competitivas. Plano Minha Casa Minha Vida do Governo. inflação. Alta demanda gerando um aumento abusivo nos preços do m² (bolha imobiliária). Aumento da competitividade no setor escolhido. Retração da economia. Alto índice de reclamações nas mídias sociais.

Com a análise FOFA percebemos que apesar da MRV Engenharia ter crescido muito nos últimos anos, é preciso criar estratégias para melhorar o atendimento ao cliente, identificar os motivos das dificuldades para atingir as metas de vendas, qualificar sua mão de obra, estabelecer critérios para selecionar e avaliar seus empreiteiros, criar métodos e procedimentos de modo que fique padronizado o trabalho nos canteiros de obras, estabelecer sinais de alerta que identifique os atrasos no cronograma da obra (o atraso, além do

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problema de imagem, acarreta aumento do custo de produção gerando um menor retorno financeiro para a empresa). A empresa precisa ficar muito atenta a atual conjuntura econômica do país, há expectativa de menor crescimento da renda da população e as medidas de restrições ao crédito devem prejudicar a demanda por imóveis. Existe o risco, ainda, de um gargalo de mão de obra, agravando a situação existente nos dias de hoje, com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos que ocorrerão no Brasil nos próximos anos.

4.6.3. Análise FOFA da Rossi
Apontamos abaixo as principais forces e fraquezas da Rossi:
FORÇAS Alta distribuição geográfica. FRAQUEZAS

Com o crescimento da Companhia poderá faltar capital

Portfólio de produtos diversificados que atende todos os adicional. segmentos de renda. Negócios amplamente guiados por processos. Investimentos em tecnologias construtivas (pré-moldados).

OPORTUNIDADES

AMEAÇAS Retração da economia. Falta de mão de obra qualificada Expectativa de um aumento significativo nos custos dos insumos, materiais e mão de obra. Perspectiva de redução de crédito e aumento da inflação. Aumento da competitividade.

Demanda gigantesca reprimida de imóveis para a fatia mais popular. Crescimento da massa de rendas familiares. Desenvolvimento da economia do país. Crédito imobiliário disponíveis com taxas cada vez mais competitivas. Plano Minha Casa Minha Vida do Governo.

Como forces internas da Rossi, podemos apontar sua participação em todas as fases de um empreendimento imobiliário. Da prospecção do terreno ao projeto, da construção à venda, até a entrega dos imóveis. Assim, controla todas as etapas, padronizando a operação e diminuindo falhas de operação.
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Dentre as fraquezas da Rossi, podemos apontar a falta de capital para empreendimentos futuros, sua alavancagem está em constante crescimento o que pode, no futuro, se tornar um grande problema interno.

5. Conclusão

Neste ponto da análise, já temos conhecimento dos índices mais importantes das empresas estudadas. Tais índices, separadamente, dizem respeito a uma parcela da situação econômico-financeira da empresa, mas seu conjunto nos permite verificar um panorama geral sobre as empresas. Com todos estes índices e gráficos analisados, é possível ter uma boa percepção de sua saúde financeira, tamanho, capacidade de gerar dinheiro, tomar empréstimos, entre outras qualificações ou deficiências de cada uma. Comentando sobre o mercado em que as duas empresas estão incluídas, temos um cenário extremamente positivo. Viemos de anos passados sem crédito imobiliário, dificultando com que o publico de baixa renda, até 10 salários mínimos, alcançasse o sonho da casa própria, continuando presos ao aluguel. Neste cenário, as construtoras continuaram buscando programas governamentais como o CDHU, para alavancarem suas vendas neste nicho do mercado. Lembrando que no CDHU a construtora não teria riscos, uma vez que as unidades seriam previamente vendidas ao Governo, tratando-se de um contrato de construção. Com o lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida, discutido previamente neste trabalho, o cenário do setor da construção imobiliária mudou drasticamente, e para melhor. Esta melhora não somente atingiu a demanda reprimida de milhares de moradias, mas também alavancou as empresas do setor. Essa ultima característica foi possível uma vez que sem o Governo como intermediário, as empresas agora vendem cada unidade com lucro máximo. Baseadas nesta projeção de alta demanda as empresas investiram em produção e tecnologia. Analisamos acima dois casos de empresas do mesmo ramo e nicho, que passam pelo mesmo momento, porém em timings diferentes. A Rossi, já com capital aberto em velocidade cruzeiro, sem grandes operações de maior risco, grande crescimento, apenas aproveitando a onda e crescendo de forma proporcional ao mercado. Por outro lado a MRV, que passou por esta mesma época de forma completamente diferente, abrindo seu capital em 2007, momento muito perceptível de acordo com os gráficos acima. Podemos

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perceber claramente os impactos que a compra de novos terrenos, ao utilizar a verba proveniente de sua IPO, tiveram em relação ao lucro, patrimônio, e ROE da companhia. Neste trabalho, pudemos perceber ai final, que o setor da construção civil passou por três fases extremamente importantes em um curto período de tempo. Primeiramente o inicio do PAC, destinando verba para infraestrutura, dando maior acesso ao crédito para a população, alavancando o consumo em geral, e principalmente o mercado imobiliário. Em seguida, durante o desenvolvimento do PAC, o mundo passou pela maior crise financeira dos últimos 50 anos, afetando, mesmo que não em grandes proporções, o mercado imobiliário brasileiro, como bem visto nos gráficos e análises deste trabalho. Por último, pudemos observar o grande impacto do Programa Minha Casa Minha Vida, em todo o setor. Alavancando não somente a quantidade de imóveis vendidos e produzidos, mas também toda a indústria fornecedora de materiais e serviços ao setor, como pontuado anteriormente neste trabalho. Assim podemos observar ao longo desse trabalho o setor da Construção Civil está de fato passando pelos seus melhores anos, alavancando diversos novos empregos diretos e indiretos. Mesmo com todos os investimentos já feitos, e todos os trabalhos que estão sendo realizado no setor, impulsionados ou não por ações governamentais, o Brasil ainda tem muito para crescer e se desenvolver. Em relação ao que se refere à parte imobiliária, está que foi apresentada neste trabalho, ainda há muitas famílias na fila para alcançarem o sonho da casa própria. O contínuo acesso ao crédito, investimentos governamentais em saneamento básico, poderá trazer o sonho da casa próprio cada vez mais próximo de cada brasileiro e brasileira.

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6. Referências Bibliográficas
CBIC – Câmara Brasileira da Indústria e da Construção Civil. Banco de Dados, 2010 disponível em < http://www.cbic.org.br > Rossi S.A. Relatórios Anuais disponível em < www.rossiresidencial.com.br > MRV S.A. Relatórios Anuais disponível em < www.mrv.com.br > Porter, Michael E. (1979) "How competitive forces shape strategy", Harvard business Review, March/April 1979 Mankin, N. Gregory ,“Introdução a Economia”, CENCAGE Learning, 2009. Portal BMF & BOVESPA – Relatórios sobre o desempenho acionário das empresas estudadas, disponível em < www.bmfbovespa.com.br > UOL Cotações – Relatórios e gráficos sobre o desempenho das ações das empresas estudadas. Disponível em < http://economia.uol.com.br/cotacoes/ >

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